Capítulo I: Despertar

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Noelle, nobre da Casa Silva de Clover

Despertar.

Para muitos um momento inesquecível, para outros, sinal de uma guerra iminente. Não era incomum surgirem fagulhas de tensão entre os reinos quando os destinados estavam em lados contrários.

Por sorte do destino, sou uma beta.

Nós — betas — somos resultado de alguns resquícios da existência humana anterior, não passamos por um despertar, nem possuímos um odor em específico que nos diferencie dos demais, aliás, já possuímos um olfato perfeito desde o nascimento — coisa que as outras classes só adquirem depois de encontrar suas almas gêmeas.

Betas também possuem um par ideal, porém, em razão dos nossos genes ultrapassados, estamos destinados a nunca saber quem é.

— Ô, Noelle, por que não me disse que bolo de chocolate é tão bom? — Asta perguntou com a boca cheia de comida, tirando-me dos meus pensamentos sobre destinados e possíveis conflitos que poderão acontecer. Fiz uma careta ao olhar as migalhas que caiam sobre a superfície de madeira.

Há uma semana, o idiota teve seu despertar, e o pior, por alguém de Spades. Sequer sabemos quem é, e talvez seja melhor assim, os governados por Sylph nunca aceitariam essa realidade com bons olhos.

Chá de hortelã.

Foi assim que Asta descreveu o aroma. O estranho é que, por mais que não se reconheça o odor, toda pessoa que passa pelo despertar tem a capacidade de descrevê-lo com precisão, como se fosse uma habilidade com a qual se nasce. E talvez seja, porém, minha natureza não consegue compreender.

Assim como eu não entendo o desespero do meu amigo por encontrar o tal alfa.

— Come direito, tá chamando a atenção das pessoas — reclamo ao me sentir incomodada com os olhares que nos eram direcionados.

As roupas plebeias serviam como disfarce, não poderíamos andar livremente em Spades com a insígnia do Reino Clover estampada no peito sem chamar atenção desagradável. Estrangeiros não eram bem-vindos, eram tratados com repulsa e rapidamente empurrados rumo às fronteiras como insetos.

E tudo por causa do desaparecimento de Gnome, o Guardião de Diamond. Seu último aparecimento foi há duas décadas, desde então, nada se sabe a respeito de seu paradeiro.

Na mesma época em que ele misteriosamente sumiu, forasteiros sem origem foram expulsos e cruelmente torturados. Todos passaram a ser vistos como inimigos e vigiados sob um olhar de desconfiança, aquele foi o começo da decadência que atingiria todo o reino, uma que jamais seria esquecida e tampouco terminaria tão cedo.

Foi nesse ambiente que a tensão se instaurou e se expandiu, e assim continuamos até os tempos atuais.

— Tem ninguém olhando não. — Asta olhou em volta, indiferente aos homens que nos observavam com uma expressão ameaçadora.

Estávamos a duas mesas de distância, eu de frente para eles, seus corpos robustos e barba por fazer me davam arrepios, como se emanassem perigo.

— Tá dando na telha que você passou pelo despertar, pessoas normais não comem que nem porcos! — sussurrei raivosa ao chutar sua perna por baixo da mesa, apontando discretamente para os homens que continuavam com o olhar preso em nós.

Eles não fizeram nenhum pedido, a garçonete sequer dava atenção à mesa, sempre passando por ela com uma postura acuada.

— E o que isso tem a ver? — Deu de ombros enfiando mais um pedaço do bolo na boca, mais migalhas caíram na mesa. — Todo mundo passa por isso — falou depois de alguns segundos.

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⏰ Última atualização: Oct 21, 2021 ⏰

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Mint and Potatoes || YunoAstaOnde histórias criam vida. Descubra agora