Ryinnti

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/// Alerta: contém cenas de violência que podem causar desconforto. Linguagem imprópria///

Observo a terra, as raízes expostas e retorcidas, as folhas que um dia já foram verdes, agora estão marrons, algumas voam quando a brisa as leva para longe. Sinto o delicado toque do vento em meu rosto e fecho meus olhos, o som característico das folhas secas se arrastando na terra chega aos meus ouvidos, cada vez mais distante.

Tudo está sendo afastado de mim.

-Ryintti...

Olho para trás ao ouvir meu nome sendo sussurrado.

Essa voz.

Sinto tanta falta de ouvir meu nome saindo dos lábios dela.

Volto minha atenção para as folhas secas do guaco se arrastando na terra. O elixir feito com essa planta era a especialidade dela. Agora não passa de uma mistura de terra, raízes e folhas mortas.

A morte parece ter se afeiçoado à minha presença. Mas não o suficiente para me levar.

Levanto e limpo minhas vestes. O tecido pesado cai à minha volta, as mangas cobrem minhas mãos. Caminho lentamente em direção a pequena casa que um dia me pareceu tão acolhedora. Suas paredes cobertas de tumbérgias, a janela de madeira aberta para que o sol ilumine seu interior, o pequeno caminho de pedras brancas em meio a grama. As lembranças felizes sendo afugentadas pela dor. Pela falta da presença dela.

                                                                                              *

Me sento e encaro os livros, cadernos, papéis e tudo que está espalhado na pequena mesa de madeira.

-Preciso organizar essa bagunça. - Sussurro e suspiro.

Um pedaço de papel amassado chama minha atenção. Em um movimento lento o pego e abro, me curvo ao aproximá-lo mais da luz para ler o que está escrito.

Lembranças de uma época agora tão distante voltam a minha mente. As tentativas e falhas de criar um elixir que concedesse a vida eterna não passam de rabiscos em um pedaço de papel amassado e empoeirado.

Mas e se...

A ideia surge como uma pontada de esperança que acolho sem pensar no que realmente significa.

Seria possível mudar o rumo das minhas experiências e ao invés de buscar a vida eterna tentar devolver uma vida que foi tirada?

                                                                                             *

Caminho o mais silenciosamente possível. Desvio de galhos secos e sigo pela trilha que não denunciará minha chegada. Meus passos são lentos e cuidadosos. Ninguém pode saber que estou aqui.

Em meio às árvores, olho para as casas com suas janelas iluminadas, algumas pessoas passam sorridentes falando com seus familiares, todos parecem em paz e felizes.

Mas eu sei a verdade.

Ela sentiu na pele a verdade enquanto sua vida era arrancada de forma tão brutal.

Por eles.

Balanço a cabeça para espantar os pensamentos negativos que surgem. Não é o momento certo para deixá-los livres, agora preciso de foco na minha missão.

Continuo andando silenciosamente. Me perguntando se ainda contam histórias sobre o Mago sombrio que mora nas profundezas da floresta. Ela me contou que era assim que se referiam a mim.

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