Aquele dia era como qualquer outro, sem nada de diferente. Eu passava o tempo todo trancafiado no quarto com um turbilhão de pensamentos me sufocando e descendo lágrimas sem motivos pelo meu rosto. Tinha apenas 9 anos de idade nessa época e já não conseguia compreender a mim mesmo, já não via motivos para sair daquele casulo e ter uma vida normal como as outras crianças.
A depressão e ansiedade. Duas desgraças que acabam com a vida de uma pessoa de dentro para fora. Pelo menos era o que diziam que eu tinha.
Levantei-me da cama e me encaminhei até uma mesinha onde deixava minhas coisas jogadas. No meio da bagunça e de tanto revirar procurando, achei meus remédios. Antidepressivos e um para ansiedade. Fitei-os e não vi necessidade de tomar, eles nunca haviam alterado nada do vazio que sentia no peito. Se minha mãe não me obrigasse a usá-los eu os jogaria pela janela e voltaria a me deitar olhando para o nada.
Não sei quando tudo isso começou, mas eu sei que naquele dia minha vida tomaria um rumo diferente.
Olhei pela janela e vi lá fora o vento balançar a árvore solitária no pequeno morro de frente nossa casa. Aquele era meu cantinho preferido, era onde eu conseguia relaxar e não ter crises emocionais.
O sol estava quase se pondo no horizonte, chegava a hora de ver as estrelas. Me apressei tomando os remédios num gole rápido de água e corri para fora. Saltei a janela, escorregando pelo telhado pousei sem arranhões. Era um salto do segundo andar de uma casa, não sei como não me machucava!
Corri o mais rápido que pude para o topo do morro. Aquela sensação era incrível! O vento de fim de tarde batendo no rosto, o calor tomando meu corpo e o alívio enchendo meu peito.
Cheguei arfante no local, caindo sentado ao lado da árvore e respirando fundo. O céu estava num tom alaranjado e logo abaixo estava a cidade movimentada de Brasília. Era o céu e a visão mais linda que eu conhecia.
Ah é, eu não disse como me chamo, não é? Foi mal, é tanta coisa na cabeça (Não é chifres, cara. Eu só tenho nove anos. Não é. Sério! Nunca namorei). Eu me chamo Adrien.
Meu nome todo? Quer mesmo saber? Qual é mesmo...? Eu sou bem esquecido. Lembrei! Eu sou Adrien Allen Salvatore, sou brasileiro e moro na capital da nação: Brasília. Era apenas eu e minha mãe numa casinha pequena nos arredores da cidade. Meu pai? Eu soube que ele sofreu um acidente quando eu era mais novo e não sobreviveu. Meu irmão mais velho está desaparecido e ninguém tem nem sinal de seu paradeiro. É algo angustiante que perfura meu cérebro com milhares de perguntas, mas tudo que tenho são vagas memórias dele.
Era uma criança como eu. Brincava comigo, dividia seu lanche e me protegia das crianças mais velhas e malvadas. Ele era uma inspiração para mim e onde eu via segurança. Não sei como que Chase desaparecera dessa maneira.
Dá para perceber que minha vida é turbulenta. Choro sem motivo, tenho insegurança, pensamentos negativos e suicidas vem e vão todos os dias.
Eu só queria sorrir, queria significar algo.
— Esqueceu sua espada de novo, filho? — A voz doce veio detrás de mim e rapidamente a reconheci. Virei o rosto e minha mãe estava sorrindo, os cabelos vermelhos se esvoaçando ao vento e seu olhar castanho e amoroso me encarava — preparado para treinar hoje?
— Claro, e dessa vez não vou perder. Eu treinei bastante! — Peguei a espada de madeira extremamente resistente de sua mão ainda estendida.
Hillary Specter vestia sua roupa favorita, o vestido florido em cores brancas e vermelhas, com rosas e seus espinhos. Estava como sempre: graciosamente bela.

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Relíquias de On7 e o Último Marciano
FantasySINOPSE: Há mais de dois mil anos atrás um ser celestial concebia a uma mulher um filho, nascido com notáveis diferenças e que viria a ser o primeiro de muitos. Vivos até os dias de hoje, Adrien Allen e seus amigos descobrem fazer parte desse povo...