Meia-volta

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"O destino baralha as cartas, e nós jogamos."
-Artur Schopenhauer

O príncipe Kanawut desde muito novo sabia sobre o seu destino.

Seu destino foi traçado e planejado assim que sua mãe lhe deu à luz. Ele havia nascido para ser uma esposa.

A esposa de algum príncipe esnobe e, infelizmente, mais poderoso que seu pai. Já que pelas histórias que ele soubera, o velho rei de Sucotai não era desejoso da união de dois homens. Seu pai só cedeu a exigência do rei vizinho quando soubera dos boatos que giravam em torno do mesmo.

Entretanto, Kanawut odiava essa palavra, ele realmente odiava com todas suas forças, a pequena palavra que o fazia se sentir minúsculo.

"Esposa."

Ele era um príncipe, mas isso não lhe servira de nada, sua posição como primogênito só o afetara, ele foi escolhido para se casar assim que completasse sua maioridade. Ele seria obrigado a se unir a alguém que ele nem mesmo conhecia.

O jovem Kanawut sempre foi um leitor ávido, - essa era uma das exigências do rei de Aiutaia, pai do príncipe a quem Kanawut havia sido prometido.

Kanawut deveria ser a esposa perfeita.

"Seja indulgente, disposto e perspicaz, caso contrário você se tornará um fardo para o seu futuro rei.", sua mãe repetia a cada vez que Kanawut se negava a acordar cedo para fazer qualquer uma das atividades listadas pelo rei de outro reino.

Kanawut lia todos os livros dispostos na grande biblioteca. Desde os livros de contos de fadas aos livros de ciências mais aplicadas, na verdade, ele quase nunca entendia o significado de todas as palavras e, por mais que ele odiasse o fato de ser obrigado a casar-se com o príncipe desconhecido por ele, ele só conseguia pensar nos malditos contos de fadas.

O jovem príncipe suspirou, deixando seus braços cederem sobre a mesa e sua cabeça bater no grande livro escurecido de capa de couro.

- Vossa Alteza está bem?- O escudeiro e melhor amigo do príncipe perguntou, um tom preocupado estampou sua voz.

- Eu já te disse tantas vezes. Estamos só nós dois, Mild! Me chame de Kanawut, crescemos juntos, sua formalidade é irritante.- Kanawut comentou com desinteresse.

Mild abaixou sua cabeça fazendo uma reverência de noventa graus.

- Sinto muito, Vossa Alte... Príncipe Kanawut!- O escudeiro exclamou, torcendo a língua na tentativa de testar o nome do jovem príncipe.- Estamos sentados aqui a horas a fio, imaginei que Vossa Alteza estivesse estudando, mas a cada segundo suspirava e mantinha uma expressão tristonha no rosto. Há algo incomodando você?

O jovem príncipe dessa vez nem mesmo se importara com seu melhor amigo usando novamente o seu pronome de tratamento.

Kanawut ao contrário do que seu amigo imaginara, passou o dia lendo mais um dos seus contos de fadas, onde duas pessoas apaixonadas se encontravam em perfeita sincronia e tanto suas almas, quanto seu coração e corpo se uniam como peças complementares de um quebra cabeça. O amor que eles sentiam era tão forte e puro, que nenhum contratempo podia os separar.

Kanawut queria aquilo, ele precisava de um amor como aquele que era descrito nos livros.

Ele queria alguém que o tratasse como um igual, ele queria um amor que não lhe desse barreiras ou mordaças. Ele não queria passar a vida sendo a somente a esposa de um rei.

Em meio ao caos que se apoderou em sua cabeça, Kanawut olhou diretamente para os olhos do seu até então fiel amigo, que também o encarava, esperando uma resposta para sua pergunta de outraora.

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