Prologue

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Pelo seu corpo, um casto vestido de algodão florido é deslizado, cobrindo parcialmente suas coxas desnudas enquanto envolvia, frouxamente, uma fita de cetim azulada em seu emaranhado vívido feito brasa

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Pelo seu corpo, um casto vestido de algodão florido é deslizado, cobrindo parcialmente suas coxas desnudas enquanto envolvia, frouxamente, uma fita de cetim azulada em seu emaranhado vívido feito brasa. Ela observa sua imagem pelo reflexo temperado do espelho, prescrutando solenemente uma garota de traços rijos e robustos, desenhados nos mínimos detalhes pela bênção do seu divino ⎯  na qual, acreditava ser único. E ela gosta do que vê. Na verdade, ela ama o que está diante seus olhos.

Uma de suas mãos toca seu ombro, precisamente deslizando a ponta dos seus dedos suavemente pela pele branca feito neve e acariciando presunçosamente seus traços genuínos semelhantes ao inferno enquanto mantinha suas palpebras pregadas no escuro, apenas deixando que a sensação do seu toque tomasse conta do seu corpo efervescente.

Seus dedos caminham por toda sua extensão corporal, subindo para seus lábios carnudos e avermelhados e se demorando ali ao sentir o gosto adocicado da sua pele quando, inocentemente, prova do seu sabor. Era um sabor delicioso de cereja.

A cada tocadela, um reboliço se formava em seu baixo ventre e disseminava ondas enérgicas por todas suas partículas, eriçando seus pelos avidamente. Ela incendiava. Seu corpo era o próprio calor do inferno, seus lábios, uma rosa ensanguentada e seus olhos, um oceano ilusivo. O próprio abismo em pessoa. A mais pura perdição em traços inocentes.

E ela gostava disso, amava essas sensações.

⎯ Virgínia, está pronta?

Virgínia. Um nome peculiar para a sua idade e puro demais para seu entendimento nada exíguo. Ela exalava a inocência, contornada em cada gesto e movimento do seu minúsculo e atributo corpo. Apenas uma fantasia para esconder seu eu latente e ambicioso da luxúria e dos desejos lascivos da sua carne.

Em curtos passos, seus pés descalços são movidos até a beira de sua cama, fechando com o zíper sua mala que já estava repleta de peças simplórias de tecidos, todos dobrados nos mínimos cuidados pelas suas mãos macias e aveludadas, e pronta para ser levada piso abaixo até o porta-malas do automóvel antiquado de seu pai.

A garota estava ansiosa. Pelos seus olhos cristalinos a empolgação era evidente, assim como o largo sorriso esbranquiçado que enfeitava autenticamente seu rosto. Datas comemorativas ampliavam sua animação, pois são carregadas de momentos únicos.

Ao calçar sua sandália rasteira e pegar a mala em mãos, em passos largos e apressados, a menina desce as escadas rumo ao automóvel parado em frente sua casa, que encontrava-se com bagagens por todo o porta-malas.

O ronco do veículo é audível em virtuosidade assim que a chave na ignição é girada, colocando o motor para funcionar e andar pelas ruas movimentadas de Phoenix. A estrada a seguir virá a ser uma total alegria, com direito a admiração privilegiada da garota que a muito não sabia o que é estar livre novamente.

Sua rotina era tomada por uma variedade inumerosa de garotas jovens e mimadas, além das professoras rigorosas que não pestanejavam em puni-las. Um ambiente deveras rígido e regrado, que idealizava a santidade e salientava a crença num Deus único. Um sinônimo perfeito de prisão. Mas, isso não foi o suficiente para reprimir a malícia e curiosidade que existia em seu interior, o desejo de conhecer o mundo a fora, mesmo estando diante divindade, era avassalador, e esse sentimento se intensificava de acordo com a proximidade da sua maioridade, não tardando para, enfim, concretizar o que tanto havia sido reprimido.

A paisagem dimensional do verde vibrante cativou suas órbitas vislumbradas assim que a cidade ensolarada tornou-se ausente, pregando cuidadosamente seus olhos na natureza exorbitante que passava em frações de segundos. A brisa quente do sol térmico embatia contra seu rosto como um sopro, superaquecendo cada partícula viva, e retirando um estonteante sorriso por finalmente estar em casa.

Não que estar em um internato religioso seja lá deveras ruim, mas para ela não havia nada melhor do que estar na presença daqueles que faziam seu coração bater em segurança. Na verdade, Virgínia ainda não imaginava o quanto, disparadamente, seu coração viria a bater. O que sentia nem beirava ao cômodo, apenas uma superfície paralela para disfarçar o verdadeiro significado de completes.

Tal significado que, através de uma casca humana, conhecerá sua mais nova divindade, na qual devotará cegamente sua fé e transformará daquela estatueta, o seu mais novo mecanismo de prazer. O seu verdadeiro lar.

Assim que pisou firme sobre a gramínea amparada, depois de uma longa estrada, o cheiro forte de lavanda inebriou-a imediatamente, misturando-se com a calorosa ventania do campo. Era impossível conter o riso em satisfação. Virgínia adorava a casa de veraneio de seus pais, lugar na qual, em quase todo fim de ano, juntavam-se para celebrarem as festividades.

Porém, ela não esperava que, justo naquele ano, a sua vida mudaria para sempre. A garota estava completamente distante de pensar que naquele verão, viriam ser a concretização dos seus mais profanos desejos. A descoberta do verdadeiro paraíso controverso que as freiras insistiam em pregar e, entender, finalmente, sobre castidade.

Entretanto, de uma coisa ela tinha certeza, a sensação de estar no céu estava presente em seu interior a todo momento. Ela sentia-se no paraíso. Enraizada num formato angelical, com direito a vozes celestiais profetizando em seus ouvidos de que aquelas férias de verão, seriam as melhores da sua vida.

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⏰ Última atualização: Oct 04, 2023 ⏰

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