Capítulo Único

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E eu o vi. Flutuando no ar como um anjo. Não imaginava que amor à primeira vista existisse até acontecer comigo. Muita coisa você acha que não é real até vivenciar por experiência própria. Naquele momento, enquanto fazia suas manobras no ar, apenas sustentado pelo tecido branco, eu desejava ter meu anjo em meus braços. Era a coisa mais linda que eu já vira. Então, a música se torna mais lenta anunciando o fim da apresentação, e meu anjo volta ao solo para ser ovacionado pela pequena plateia do circo.

Ao fim do espetáculo fui aos bastidores na esperança de encontra-lo. Mas, o que fazer seu eu o encontrasse? Diversas dúvidas me atormentavam. E se... E se... Não. ‘Não pense tanto’ dizia a mim mesma. Sempre fui metódica e racional para tudo. Pelo menos uma vez deveria me permitir ser impulsiva, precisava me dar essa chance e me aventurar. E lá estava ele. Meu anjo. Ele me olhou e sorriu. Derreti. E qualquer vestígio de sanidade que me restava se esvaiu. “Oi” disse eu. “Olá” ele respondeu. “Linda apresentação” falei, sem desviar meu olhar do seu. “Obrigado” disse ele. Não consegui encontrar mais palavras e apenas continuei o fitando. Aqueles olhos... era como se eu já os conhecesse. Conhecesse aquele rosto... mesmo que ele fosse um estranho para mim, sentia que já o conhecera de alguma vida já vivida, se era que isso existia. Meu anjo continuava me olhando também; talvez por curiosidade e de repente, me beijou. Foi o beijo mais doce que eu já havia provado. O tempo neste instante foi relativo. Poderiam ter durado horas ou apenas minutos, mas foi o suficiente. Então nossos lábios se separaram. Ele me olhou e sorriu “Acho que já te conheço de algum lugar” disse ele. “Duvido” respondi sorrindo ainda entorpecida por aquele beijo. “Quer sair daqui?” meu anjo perguntou, “Sim” respondi.

A brisa delicada da noite com a majestosa lua cheia e o som de um violão ao longe tornava tudo aquilo ainda mais mágico. “Conte-me sobre você” disse ele. Comecei a falar quem eu era e os meus gostos. Conversamos bastante. Em algum momento quando parei de falar nos beijamos novamente. Um beijo demorado e suave, digno de um anjo. Andamos de mãos dadas e sem rumo por um momento desconhecido para mim. Quando ele estava ao meu lado o tempo simplesmente não existia.

“Tenho que ir” falei. “Tudo bem. Te vejo amanhã?” questionou-me ele “Claro” disse eu. Meu anjo beijou-me uma última vez e fui embora. Naquela noite tive sonhos agitados com um anjo que voava ao meu encontro e me levava para seu paraíso.

No dia seguinte voltei ao circo para rever meu anjo. Me surpreendi ao ver uma placa que exibia um letreiro dizendo  ‘ÚLTIMO ESPETÁCULO’ . Ao encontra-lo abracei-o “Você vai embora?” questionei com um nó na garganta. “Não pense nisso agora, vivamos cada segundo que pudermos” disse-me ele com certo tom de nostalgia. “Temos vidas tão diferentes. Talvez essa seja a magia. A impossibilidade de termos um ao outro” falei. “Impossível é só uma palavra. Não dê a ela tanto poder” refletiu ele. Meu anjo beijou meus cabelos e me libertou do seu abraço. Passamos o dia inteiro juntos, como um casal feliz, sem nenhuma preocupação ou lembranças de um mundo fora do nosso. Ajudei-o com atividades que ele teria que realizar como integrante do circo e ao anoitecer meu anjo fez seu último voo no meu céu. Mas com uma promessa: “Eu voltarei” dissera ele.

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⏰ Última atualização: Mar 27, 2015 ⏰

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