A tão esperada notícia veio em um simples toque do celular à beira da cabeceira. O silêncio do outro lado da linha depois de um ''Alô?'' receoso, foi acompanhado do coração acelerado de quem segurava o aparelho, meio deitado no colchão e meio sem ar.
- Você conseguiu Henrique, funciona. – mais um toque e silêncio, ficou um bom tempo na mesma posição até começar a sentir uma câimbra na perna direita, nunca imaginaria que a notícia chegaria tão rápido, estava sem fôlego. Parecia ter corrido uma maratona durante a manhã, foi quando a sua vizinha de porta o avistou na janela do quarto. Suado e molhado ela o lançou um olhar preocupado.
- Está tudo bem? Você está todo molhado...
O garoto levantou a cabeça e tentou verbalizar a notícia.
- Meu projeto foi aprovado.
- Parabéns! – exclamou, acenou e entrou na própria kitnet, iria preparar o jantar para a família que iria visitá-la mais uma vez essa semana.
- Eles ainda me matam de tanto cozinhar e vê-los! – dizia sorrindo, sabia que era a velhinha mais sortuda da redondeza. A única que a família visitava.
Ele caminhou entre o corredor estreito que ficava entre as casas, dessa vez não evitou olhar para as janelas pois queria dizer a todos o que aconteceu. Depois de passar por oito kitnets iguais a sua, chegou à rua. Então pulou, quando sentiu seus pés longe do solo gritou como a muito tempo não gritará, talvez a última vez tivesse sido quando brincava com seus amigos quando tinha no máximo treze anos.
Correu o mais rápido que podia para entrar em casa e pegar o telefone ligou para todos, Ed, Fernando e Lara. Primeiro ligou para Ed que não atendeu, ligou em seguida para Fernando, gaguejou, mas conseguiu dizer duas ou três palavras que indicavam que o seu projeto fora aprovado. Fernando que morava no mesmo condomínio de Ed ficaria responsável de avisá-lo sobre a comemoração que iria acontecer mais tarde na casa de Henrique. Ligou para Lara mordendo os lábios de ansiedade.
- Consegui! – foi a primeira coisa que disse.
- Conseguiu concluir o rastreador de pessoas? – disse ela indiferente.
- Lara... isso é importante para mim. Marquei com os meninos para nos encontrarmos hoje aqui. Você vem?
Apesar de não gostar do projeto de Henrique, ela aceitou sem relutância.
- Levarei pizza.
Apesar de não ter muitos objetos no pequeno cômodo, o local expressava toda a personalidade do dono organizado, estudioso e minimalista.
O momento mais esperado por ele era aquele, não só finalmente construir o rastreador que tinha tanto se dedicado a fazer funcionar, como fora aprovado. Discou um número de cor e esperou cerca de cinco toques até que finalmente ouviu a voz doce de sua prima ao telefone, a felicidade dela ao receber a ligação o deixou 'rubro', após três meses sem ter nenhum contato com a família deixou todos que moravam em um sítio da família preocupados. Antes mesmo de dizer qualquer coisa a não ser um ''Oi, prima Júlia, sou eu Henrique'' a prima passou para a sua avó que, como ela disse, estava durante dois meses insistentemente tentando falar com neto sobre alguma previsão importante que teve.
Henrique sorriu, manteve-se afastado da família por tanto tempo, sem ligar para eles ou atendê-los, justamente por causa das previsões da avó, que sempre lhe estragava a surpresa antes de conquistar algo.
Estava certo que o aviso que recebera seria sobre seu projeto ser aprovado. Gostaria tanto de ver o rosto de felicidade da avó ao saber da notícia. Antes de dizer uma única palavra, ouviu a voz firme da avó.
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Alguém aqui é um grande perdedor
AdventureEm uma sociedade em que as pessoas possuem Doms, um jovem garoto finalmente tem seu projeto aprovado em uma rica empresa, um rastreador de portais. Em meio a alegria da conquista liga para a sua avó, que possui o dom de prever o futuro. Henrique ent...