Já era oito e quinze da manhã e eu estava absolutamente esgotada. Ser uma mulher de negócios é um fardo enorme, principalmente, quando se tinha 90% da bancada com investidores masculinos. Mas eu estava bem animada com o meu projeto lucrativo e inovador, ele seria basicamente uma cooperativa de educação. Os alunos iriam aprender alguns conceitos básicos como informática, redação e alfabetização e depois iriam ensinar aquilo que aprenderam gratuitamente para seus pais, filhos, amigos, primos e etc. Meu projeto poderia beneficiar milhares de crianças no mundo que não tem a oportunidade de ter uma boa formação e mesmo assim consegue armazenar muito mais conhecimento que alguém formado e por isso era tão importante pra mim. Guardei a pasta na minha bolsa de couro preta e desci o elevador para pegar o Uber que eu havia pedido.
Entrei no Uber confiante que chegaria a tempo como o previsto, mas você vão ver logo logo que eu estava bem iludida sobre isso.
Quando eu pego Uber quase nunca observo os motoristas, mas esse em específico chamou minha atenção. Ele era alto, branco e tinha cabelos brancos seu nome no aplicativo estava como Roberto. Depois de passarmos duas quadras pelo caminho esperado, ele desceu a rodovia em direção a baía de Guanabara, onde vários navios ficavam atracados. Um caminho completamente diferente do meu. Nesse momento eu comecei a entrar em Pânico, porque como mulher era mais provável que este homem me levasse a um beco escuro e me estuprasse. Mesmo apavorada não transpareci meu medo e comecei a questiona-lo.
- Licença Sr. Roberto, acho que está indo pelo caminho errado - disse de forma educada e sútil.
- Esse é o caminho certo.
Às suas palavras estavam secas e frias, o que me deixou mais nervosa ainda.
- Eu preciso descer do carro, e se tentar me impedir eu vou chamar a polícia.
Dessa vez fui mais bruta em minhas palavras.
- Como quiser - ele disse ao mesmo tempo em que parava o carro e me deixava sair. O meu primeiro instinto ao sair do carro foi CORRER.A minha volta havia vários navios atracados, mas eu estava tão absorta na idéia de fugir do meu possível sequestrador que esqueci completamente o quanto eu tinha medo daqueles navios gigantes. Quanto mais eu corria mais perto eu sentia do mar, o seu cheiro salgado impregnava meu nariz, até que eu senti algo me biliscar no ombro e o mundo se desfazer nos meus olhos.
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Acordei numa cama confortável com lençóis e edredom. Já levantei no susto imaginando que poderia ser a casa do meu sequestrador, porém várias coisas no quarto me chamaram atenção. Para começar ele era enorme do tamanho do meu apartamento, e todas as coisas nele eram minhas ! Até minhas fotos com a família e amigos estava no criado mudo do lado da cama. Num primeiro instante pensei que talvez meu sequestrador realmente fosse um serial Killer e comecei a planejar minha fulga daquela casa estranha. Resolvi descer as escadas bem devagar e sair de fininho para não chamar atenção caso ele estivesse ainda lá, mas ao descer as escadas vi que a sala também parecia com meu estilo e era exageradamente grande e confortável. Mesmo assim ignorei tudo isso e fui buscar uma fulga mundo a fora.
A visão que tive ao sair é ainda inexplicável dentro da minha mente, diante da minha frente eu tinha uma vista privilegiada da cidade inteira, com lindos arranhas céus e uma organização estranhamente perfeita. As casas abaixo da que eu estava eram todas enormes e coloridas e cada uma tinha sua própria arquitetura diferenciada. Foi nesse instante que pensei " Meu Deus aonde eu estou?".
Julgando pelo clima e o lugar eu com certeza não estava em outro país. Haviam coisas na cidade que demonstravam uma cultura brasileira e ao ouvir as pessoas andando na rua pude ouvir que o idioma em que falavam era o português. Por um segundo pensei em pedir informação dizendo que estou perdida, mas senti medo dessas pessoas não serem confiáveis a ponto de me ajudarem. Então lentamente fui descendo a rua para a grande cidade que eu tinha visto, por pura curiosidade de ver algo tão lindo assim de perto.
Eu ainda estava com meu salto Scarpan e isso dificultou um pouco a minha velocidade até a cidade, demorei em torno de quinze minutos para chegar até lá e quando por fim cheguei ao meu destino misterioso fiquei apaixonada por uma padaria, que parecia ser feita de ouro.
Em suas prateleiras dourada tinha muitos doces, entre ele um sonho e algumas tortas de chocolate com morango e nozes. Como não tinha tomado café da manhã, meu estômago começou a doer na hora e entrei na esperança de comprar algo com o dinheiro que eu tinha na minha bolsa. A padaria de ouro, mais parecia um restaurante, pois era enorme e chique e dentro havia muitas pessoas sentadas conversando e tomando café. Duas senhoras entraram junto comigo e já estavam no caixa fazendo seu pedido, enquanto eu ainda admirava as prateleiras, me perguntando se elas realmente poderiam ser de ouro. Até que de repente eu ouvi alguns passos fortes e uma moça humilde com algumas roupas velhas e um olhar triste, observou a mesma prateleira que eu só que do outro lado. Ela encarou a comida por cinco minutos e na hora que ia dizer algo para mim um zumbido alto ascendeu nos meus ouvidos e vi o corpo da mulher no chão ensaguentado. Me virei para pedir socorro, mas todos continuaram comendo como se fosse algo natural de se acontecer. Olhei para trás e até as duas senhoras que entraram comigo fizeram cara de indiferença e continuaram aguardando seu pedido.
Entrei em pânico, como uma pessoa tinha acabado de ser morta na frente de todos e ninguém se importava? Por que aquela moça foi morta?
Todas essas dúvidas me deixaram com um rosto pálido que logo foi reparado por uma das velhinhas que estavam no caixa. Ela veio até mim com suas pernas finas e altas e educadamente me cutucou
- Querida, é seu primeiro dia aqui? - Questinou como se a resposta fosse óbvia.
- Desculpa, não entendi. -Falei meio sem graça e ao mesmo tempo apavorada.
Ela ficou um tempo me encarando até que ela arranjou coragem de me dizer algo e foi interrompida por uma caixa de som.
- Atenção moradores da Cidade Branca, hoje recebemos novas pessoas para agregar nossa comunidade, ajudem eles a se adaptarem ao seu novo lar e guiem todos ao caminho que acreditamos.
A voz robótica parecia vim de vários lugares ao mesmo tempo. Olhei para cima e não achei nenhum alto falante no restaurante nem na rua. Acabei deixando isso para lá e me prendi na mensagem da voz. Novas pessoas? Cidade Branca? Me preparei para sair dali antes que fosse tarde demais. Porém eu vi algo no chão do lado do corpo daquela mulher e era tão brilhoso que resolvi pegar disfarçadamente, logo percebi que se tratava de um cordão com um nome Esther em cursivo. Coloquei no bolso do minha calça rapidamente bem a tempo antes de uma mão me puxar e ver que ainda era aquela velha que me fazia perguntas.
- No primeiro dia é melhor conhecer a própria casa e depois sair na rua explorando - falou enquanto piscava para mim como se acabasse de revelar um grande segredo.
Eu saí dali sem estômago nenhum para continuar andando, estava suja, com sede e com muita fome. E a imagem daquele mulher morrendo na minha frente não saía da minha cabeça. Como já estava escurecendo não vi outra alternativa a não ser voltar para o lugar onde eu acordei.
A mansão do lado de fora parecia um castelo de tão grande que era, fiquei pensando do porque dela ser tão exagerada. Adentrei no lar estranho e percebi que para eu descobrir certas respostas seria melhor eu investigar o que tinha na casa. No caminho tinha tentado pedir socorro através do meu celular, mas o aparelho que estava comigo era bem diferente do meu, aliás, era bem diferente de qualquer celular que eu já tinha visto.
Vasculhando o criado mudo do quarto onde acordei acabei encontrando algo que parecia ser um envelope endereçado com o meu nome, Dayana Marquez. Abri muito curiosa e fiquei completamente chocada com o que estava escrito.
" Querida Dayana, me chamo Alfredo e fui o principal responsável de colocar você dentro desta cidade, por favor, me perdoe por te dar tamanho fardo, mas percebi por meio da minha longa investigação que você é uma pessoa muito atruísta e que coloca seus ideais em prática. Justamente por isso lhe trouxe aqui nesta cidade, preciso muito da sua ajuda para acabar com a injustiça que acontece aqui. Infelizmente não podemos ser tão diretos nos nossos contatos e explicarei isso pessoalmente a meia noite no seu quarto. Se você não se sentir segura com a minha presença pode usar a arma que está na segunda gaveta. Mas por favor não me mate até pelo menos eu poder te explicar tudo. Até logo, Alfredo".
E foi depois de ler essa carta que tudo ficou mais confuso ainda.