Ancestrais

- Único; Ready As I'll Ever Be -

Eles estavam exaustos. Fisicamente e emocionalmente cansados para continuar com aquilo. A batalha final de Ladybug e Chat Noir contra Hawk Moth estava mais difícil do que os heróis poderiam imaginar. O vilão estava mais forte e poderoso. A heroína vermelha percebeu que ele havia descoberto de alguma forma como ampliar seus poderes, assim como ela conseguia fazer. E para piorar, diversos akumas dez vezes mais resistentes do que aqueles que já haviam lidado, complicaram ainda mais a luta.

A joaninha nunca tinha visto tanto horror como aquele; pessoas corriam de um lado para o outro desesperadas para fugir das borboletas arroxeadas que rondavam as ruas. Aquelas que não conseguiam escapar eram akumatizadas no mesmo momento. Se a situação piorasse, não só Paris, mas toda França viraria um lar repleto de akumas. Ninguém estava a salvo.

A dupla se encontrava escondida em um beco qualquer de Paris, naquela noite congelante e infernal para todos os parisienses. Estavam machucados demais, sangravam por cortes no rosto, pernas e abdômen, além de variados roxos que se espalharam por todo o corpo.

Chat Noir mal conseguia respirar, apenas esperava que Plagg pudesse segurar por mais tempo a transformação, enquanto ele ainda não conseguia se mexer o suficiente. Ladybug não poderia saber quem ele era. Jamais ela saberia! Não depois dos dois terem descoberto juntos que Hawk Moth não era ninguém mais, ninguém menos do que o grande estilista Gabriel Agreste, ou melhor, seu pai. A garota certamente o odiaria por aquilo. Como ele vivia sob o mesmo teto que aquele homem e nunca reparou quem ele era de verdade? E se ela achasse que ele trabalhava para o pai? Ele só a decepcionaria, mais uma vez. Talvez estivesse tentando um recorde de quantas vezes conseguiria decepcioná-la. O parceiro, filho do vilão que fez da vida dela um inferno completo por anos, só poderia ser pura piada.

Adrien balançou a cabeça em negação.

Se envergonhava e se pudesse sumiria, mas ele não podia deixá-la no momento em que ela mais precisava dele. Honraria a promessa de serem os dois contra o mundo
pelo menos mais uma vez, possivelmente a última.

Ladybug não entendia o motivo de Chat Noir parecer tão concentrado em não deixar sua transformação se desfazer. Sem perceber ele havia dito em voz alta para que Plagg aguentasse e ela o ouviu. Tudo estava acabando, para o bem ou para o mal, o final estava perto e naquela altura do campeonato as identidades não mais importavam. Talvez, ele ainda achasse que aquilo merecia atenção pela grande insistência da menina em, todos aqueles anos,  manter segredo sobre suas identidades. Agora ela reparava, aquilo sempre foi uma grande tolice, sua vida provavelmente seria mais fácil se ela soubesse quem era o garoto sob a máscara preta.

Pensava em Adrien, em como e onde ele estaria. Se preocupava com o loiro. Por mais que fosse apaixonada por ele, acima de tudo aquele garoto era seu amigo e ele deveria estar sofrendo mais do que ela poderia imaginar. Queria ir atrás dele, mas tinha outras prioridades.

Marinette queria desistir, parar de lutar. Não aguentava mais o peso do mundo em suas costas. E o loiro a sua frente não poderia deixar de pensar na mesma coisa, o quão machucado ele estava por saber que o próprio pai queria destruir o mundo onde o filho vivia e crescia. Adrien sabia que não restaria mais nada dentro dele quando aquele terror acabasse. Apenas restos de um menino solitário que um dia imaginou poder ser feliz ao lado de sua parceira. Ele não poderia, estava destruído demais. E não sabia se um dia poderia se recuperar.

Havia sonhado alto demais.

- Eu não aguento mais, Chat... me desculpe. - o choro compulsivo de Ladybug chamou sua atenção. Seu coração dilacerou por vê-la daquela forma. Sabia que ela se fragilizava em momentos como aquele, quando achava que não merecia ser quem era.

Adrien queria desistir tanto quanto ela, mas ele não poderia. Sempre a encorajou a continuar, levantar e lutar. Era isso que sempre fazia e continuaria fazendo. Era o parceiro dela, era o dever dele.