Xiao sentia a leve brisa de inverno lhe beijar o rosto com carinho, como se o acariciasse. O vento... O ar, este sempre lhe trazia sentimentos que seu coração não sabia definir, que seu coração e mente eram incapazes de entender, pois nunca tinha sido permitido a senti-los, nunca tinham lhe mostrado tais. Sentia, não entendia, mas sentia... Era até um pouco assustador.
Era apenas mais um dia de inverno em Liyue, apesar do inverno não ser tão frio quanto o de Mondstadt que, por causa das brisas frias que vinham de Dragonspine, acabava sempre tendo a terra coberta pela fofa massa branca. Liyue mantinha ares quentes por causa do intenso sol que sempre cobria seus horizontes, contudo, o ar sempre se modificava, nunca se adaptando a época, como se, tal como seu deus, fosse incapaz de se adaptar o presente por estar sempre preso ao passado.
Mesmo assim, mesmo sabendo disso e de toda dor que vinha pelos céus, a brisa parecia acolher o coração dolorido de Xiao. O oxigênio levado pela brisa lhe ia as cicatrizes e tentava curá-las ou, ao menos, diminuir um pouco da intensa dor que elas causam. O acolher do vento fazia que Xiao tivesse mais um dia sem se perder novamente em meio ao sangue seco mantido em suas palmas.
Observou as próprias palmas quando este pensamento lhe veio a mente e, num piscar, era como se estivesse em campo de batalha de novo. O sangue seco havia voltado a seu belo cruel vermelho intenso, escorrendo pelo meio de seus dedos até pingar no chão ao redor de seus pés em uma poça interminável de sangue, sangue este que tingia os corpos sob seus pés em carmesim.
Tudo escuro, por mais que seus olhos ansiosos buscassem pela luz, apenas havia uma vasta escuridão, escuridão esta que queria parecer engoli-lo por inteiro, consumi-lo, torná-lo uma parte de si. O ar tornava-se rarefeito, sendo arrancado de seus pulmões por uma mão cruel, querendo deixá-lo sozinho, sem seu conforto que era dado pelo vento.
Estava preso nesta ilusão, trêmulo, sentindo o desespero o consumir quando, de repente, um toque gentil pousou sobre seu nariz, despertando-o de sua própria mente por causa do cheiro doce que esta trazia, um cheiro que parecia conhecer de muito tempo atrás, nostálgico, mas transferindo o mesmo sentimento de conforto.
Abriu os olhos e, frente a eles, um pequeno girassol flutuava em sua frente. Piscou atônico, contudo, esticou a mão e segurou o caule fino, com certo carinho e medo de quebrá-lo. Olhou ao redor procurando como aquela pequena flor havia parado logo em sua frente, porém, nada viu, apenas sentiu um doce vento lhe beijar o rosto, sentindo como se uma mão leve e macia acariciasse seu rosto.
"Bar... Batos..." sussurrou para si mesmo, com cuidado ao pronunciar as silabas, com medo de que alguém o ouvisse ou que profanasse o nome do deus dos ventos.
Sentiu o rosto arder um pouco, mas sorriu ladino enquanto segurava o girassol. Pousou-o sobre seu cinto, guardando-o de forma de que ficasse protegido próximo a sua máscara.
"Obrigado" murmurou mais uma vez, fechando um pouco os olhos antes de empunhar novamente sua lança e dar um passo a frente para observar a cidade dos contratos se estender no horizonte.
Xiao não saberia que, do outro lado das enormes montanhas rochosas, Venti estaria tocando sua lira com um sorrisinho suave nos lábios, tendo alguns girassóis caídos em seu colo enquanto o vento o contornava como se o abraçasse, como se o desse um ar ainda mais suave, mais deslumbrante... De tirar o fôlego.
"De nada, meu doce guerreiro" sussurrou, deixando que o vento engolisse suas palavras que ainda não poderiam ser transmitidas.
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the wind brings me roses - xiaoven.
FanfictionXiao sentia mais uma vez a escuridão consumi-lo aos poucos, contudo, como toda vez, o vento vinha lhe trazer a paz.