1. Familia

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Eu nunca estive tão nervosa e feliz em toda a minha vida. A coisa com que eu vinha desejando e sonhando há anos estava finalmente acontecendo. Eu estava no avião, a caminho de Londres, onde faria um intercâmbio de um ano.

Foram tantos meses de preparos, tantos meses de pesquisas e escolhas para que tudo estivesse perfeito. Meus pais e a agência de intercâmbio fizeram questão de escolher tudo a dedo para que não tivesse margem de erro. Mas, ainda assim eu estava ansiosa. Sabia que não me colocariam com uma host family ruim, afinal, eles tem que passar pela avaliação da agência. Mas mesmo assim, algo dentro de mim não me deixava relaxar. E se eles não gostassem de mim? E se eu não gostasse deles? Também estava curiosa demais, não gostava de não saber as coisas. Quantos são? Será que eles tem algum animal de estimação? Onde moram?

Percebi que não ia conseguir ler o livro que trouxe, porque estava com muita coisa na cabeça. Guardei ele na mochila e peguei meu fone de ouvido. Coloquei o meu álbum favorito: Teatro D'ira do Måneskin, na tentativa de me distrair. E funcionou. Só voltei a lembrar onde estava quando escutei a voz distante de uma aeromoça no auto falante, então tirei um fone do ouvido.

"..dentro de instantes estaremos pousando no aeroporto de.."

Foi aí que minha ficha caiu. Isso estava mesmo acontecendo. Daqui a uma hora eu estaria no carro a caminho da minha nova casa junto com minha nova família pelo próximo ano. Eu sentia uma mistura de ansiedade e emoção.

Depois de descer do avião e pegar minhas bagagens, fui direto ao banheiro. O voo tinha durado mais de 10 horas e o banheiro de lá era pequeno e desconfortável. Fiz minhas necessidades, escovei os dentes, lavei o rosto, penteei os cabelos e retoquei o desodorante. Também coloquei mais um casaco, porque estava bem mais frio do que eu esperava.

Fui direto até a área do desembarque e comecei a procurar por um cartaz escrito "Marlene Mckinnon", como o pessoal da agência havia me dito. Eles estavam bem na frente da saída. Um homem e uma mulher que aparentavam estar na casa dos 40, e dois garotos que pareciam ter mais ou menos a mesma idade que eu, 17 anos. Os adultos estavam atentos, provavelmente na tentativa de me achar, e os garotos seguravam o cartaz, conversando e rindo.

Eram uma família muito bonita. Altos, com a pele escura, olhos cor de mel (que vinham acompanhados por óculos), e cabelos marrons cacheados e brilhantes. Exceto por um dos garotos, que era alto, mas com a pele clara, olhos azuis (que não vinham acompanhados por óculos), e cabelos pretos e brilhantes que batiam nos ombros. Não se parecia nada com o resto da família.

Me permiti somente 5 minutos para tomar coragem. Respirei fundo alguma vezes, como meu pai havia me ensinado, e bebi um pouco da água que estava na minha mochila. Então, coloquei meu melhor sorriso e fui andando até lá.

London Girl - DorleneOnde histórias criam vida. Descubra agora