Tulipas

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O dia está calmo demais hoje, está tudo tão... sem cor...

O céu está cinza, as nuvens carregadas não permitem que vejamos a luz do Sol. Olho pela janela do carro a paisagem ao redor passando rapidamente. 

Casas.. praças.. árvores.. adultos.. e crianças sorrindo e se divertindo sem preocupações em suas vidas aparentemente felizes e sem complicações.

Eles parecem ver arco-íris onde eu não vejo nada além de cinza por todo lugar... As cores parecem ter ido embora quando ele se foi...

- Estamos quase chegando querida! - olhei para o retrovisor e vi meu pai me lançando um sorriso de consolo, apenas concordei e voltei a fitar a janela

Vejo uma gota de água escorrer pelo vidro, e logo mais gotas a atingem. Começou a chover.. já era de se esperar.

Meu pai estacionou o carro e pegamos os guarda chuvas antes de descermos do veículo. Andamos até as outras pessoas presentes.

Estavam todos de preto, assim como nós dois.

- Senhor e senhora Lancaster? - eles se viram para mim

- Stella, querida, que bom que veio! - ela disse me abraçando com um sorriso de consolo, logo seu marido veio me cumprimentar também

- Sentimos muito pela sua perda.. Harry era um bom garoto - disse meu pai os cumprimentando. Eles assentem com um pequeno sorriso

- Obrigado.. Bem, vamos nos sentar para começar

Os seguimos até quatro cadeiras vagas na frente da fileira direita, numa área coberta por uma tenda branca. Logo a nossa frente estava o caixão dele, tinha um arranjo com flores brancas sobre ele. Era um belo arranjo.. mas acho que ele preferiria mais se fossem tulipas roxas.. essas eram as preferidas dele.

A família dele estava presente, alguns amigos também estavam ali.

- Hey, Stella.. - olho para trás e vejo Benjamin, melhor amigo dele

- Oi Ben.. veio sozinho?

- Não, meus pais estão logo ali - ele aponta para a fileira esquerda de cadeiras - eu só vim aqui falar com você..

- Ah.. - eu olho ao redor - Acha que ele gostaria da decoração?

- Tenho certeza que ele preferiria..

- Tulipas roxas - dizemos juntos e rimos um pouco

- Bem.. depois nos falamos - assinto e ele vai de encontro aos pais. Logo os discursos começam, quase todos falam sobre o Harry, alguns preferiram não falar. E acho que não conseguiriam mesmo se quisessem, o choro os atrapalharia falar e nos impediria de entender.

- Stella? - olho para Ben que me chamava no pequeno palco. Respirei fundo e fui até lá - Boa sorte.. - sussurra me abraçando e logo volta para seu lugar

Vou até a frente do microfone no pedestal e olho para todos os presente. Cada rosto e sorriso triste. Cada um que chorava e pensei se deveria mesmo falar o que tinha planejado.. 

Decidi que não o faria.

Então respirei fundo.

- ''Eu vejo uma luz oculta que brilha em você, mesmo quando está sendo ofuscada pelas sombras que aparecem ás vezes e tentam esconde-la. E mesmo sem vê-la, eu a vejo.'' Uma frase que me foi dita uma vez por Harry. Ele disse isso para mim no dia em que nos conhecemos.. eu achei ele um completo doido e não tinha entendido muito bem o que significava - sorri fraco - mas isso não é novidade para ninguém. Harry sempre foi um cara enigmático, ao menos desde que eu o conheci.. acho que foi por isso que ele me chamou a atenção... Harry gostava de tulipas, principalmente as roxas. Ele nunca me contou o Porquê.. mas eu acabei descobrindo mais tarde. Elas significam: tranquilidade, paz, que era o que transmitia. Harry era sonhador, divertido, bondoso, humilde, caridoso, amigo para todas as horas, um bom filho e parceiro. Ele era uma pessoa maravilhosa... E eu o amava muito, assim como ele também me amava. Harry me entregava tulipas vermelhas sempre que tinha a chance, são minhas flores prediletas e ele sabia disso. Mas não era por isso que ele as entregava para mim. ''Amor verdadeiro e eterno'' esse é o significado das tulipas vermelhas. Ele, apesar de tudo, sempre acreditou no amor verdadeiro e disse que o que tínhamos era isso: algo verdadeiro e eterno.. 

Não consegui evitar as lágrimas que me escorreram o rosto, nem a voz trêmula que aparecia às vezes. Apenas enxugava as lágrimas que insistiam em cair e tentava engolir o choro para conseguir terminara de falar.

- Nunca vou esquece-lo. E espero que ele esteja bem e feliz onde quer que esteja agora.



Dia cinzaOnde histórias criam vida. Descubra agora