Prólogo

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É claro que eu estou na frente da minha casa, na caminhonete vermelha e chamativa do Gustavo. Ele está sorrindo, feliz da vida por comemorarmos mais um ano juntos. Completamente alheio ao turbilhão de sentimentos existentes na pessoa sentada ao lado dele.
- Nanda - ele me chama de volta para realidade- você está me ouvindo?
- Desculpa, Gu, me distrai. O que você disse?
- Eu perguntei se você gostou do jantar.
- Ah! Claro, estava delicioso.

Nós descemos do carro e ele parece um pouco agitado enquanto me acompanha até a porta de casa. Eu ainda não sei como dizer para ele que passei no processo seletivo em uma emissora 600km de onde estamos agora e que estarei em uma semana, provavelmente sem ele. Em um movimento pouco comum, seus olhos encontram os meus e ele parece indeciso sobre abrir a porta, mas abre mesmo assim.

Gritos explodem de todos os lados, urros de felicidade, jatos de serpentina, glitter e luzes vem de todos os lados e me atingem. Fico confusa por um momento, sem entender o motivo das comemorações, meu aniversário foi dois meses e meus pais não falariam para ninguém sobre o emprego, pelo menos não até eu ter falado para as pessoas mais próximas, como o Gustavo. Viro ao redor, procurando por ele e percebo que as pessoas estão segurando balões com letras, que estão formando uma pergunta que não poderia ter chegado em um momento pior. Finalmente encontro o Gustavo, atrás de mim, apoiado em um único joelho, sorrindo, completamente indiferente ao meu olhar de pânico.

Estou quase gritando: "VOCÊ DEVIA TER FEITO ISSO NO RESTAURANTE"

- Nanda - ele começa, pegando minha mão direita - hoje comemoramos mais um degrau da nossa jornada, são três anos juntos e eu me apaixono mais por você a cada dia, quero dividir a vida com você. Casa comigo?

Sinto o ar faltar, uma sensação desesperadora de pânico, de estar encurralada. Eu sei que o momento de tomar a minha decisão chegou e o Gustavo está muito perto de se arrepender da pergunta dele.

- Gu - eu respiro fundo, tentando não ser uma ogra, mas não pra ser exatamente uma princesa ao recusar o pedido de casamento de alguém - eu sinto muito, mas minha resposta é não.

Ele ainda está sorrindo quando eu termino de falar. Seu rosto redondinho, que eu conheço tão bem, está esperançoso, ele deve achar que é uma brincadeira. Seus olhos castanhos entendem primeiro, quando eu puxo delicadamente a minha mão da dele, depois é como se cada um dos seus cachos pretos murchassem na cabeça e por último a boca tão linda e macia, que eu adoro, ela se torce, dando ao rosto que eu realmente amo, uma careta de decepção que machuca.

Mas sei que não tem nada que eu possa fazer, não tenho nem esse direito. Mas eu sou egoísta, então ainda faço um leve carinho na bochecha dele antes de virar de costas, e firmar o passo, sem correr, até o meu quarto, onde fecho a porta e me encosto nela, tremendo demais para continuar andando.

E as coisas que deixei...Onde histórias criam vida. Descubra agora