7. Geração Coca-Cola

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Por volta das duas da manhã a casa do anfitrião Lucas, estava lotada de adolescentes bêbados trocando beijos nos lugares escuros ou caindo desmaiados pelos cantos.

Apesar da idade ser uma porta para o uso de álcool e até mesmo outras drogas, eu e minha amiga nunca nos interessamos por tamanhas aventuras.

Continuávamos dançando empolgados. Agora ao som de Exagerado do Cazuza.

Cantávamos um de frente para o outro:

Amor da minha vida

Daqui até a eternidade

Nossos destinos foram traçados na maternidade...

Meus braços antes cruzados estavam para o alto e meus lábios antes franzidos agora esboçavam um sorriso tão largo que fazia minhas bochechas doerem.

Flor não estava diferente, pingava de suor, os cabelos mais cheios que o normal, a jaqueta amarrada na cintura e a voz falhando de tanto esforço.

Em um momento no meio da música ela se afastou apontando para a mesa de ponches, eu assenti fazendo sinal para que trouxesse um para mim.

Mal ela se aproximou da mesa Alice chegou ao seu lado e eu não pude evitar a pontada em meu peito quando vi o sorriso de Flor se abrir para a loira.

Me perdi em pensamentos negativos.

Será que a noite juntos estava sendo para ela tanto quanto estava sendo para mim ou será que eu era apenas um amigo, condenado eternamente a friend zone?

Quando voltei meus olhos na direção das meninas de novo, elas não estavam mais diante da mesa de ponches, olhei em volta e nem sinal delas.

Meu coração acelerou, queria acreditar que era de preocupação.

Foi assim que Maria Flor sumiu sem nenhuma explicação, me deixando completamente perdido.

Passava das três horas quando finalmente a encontrei, empoleirada no alto do galho de um ingazeiro

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Passava das três horas quando finalmente a encontrei, empoleirada no alto do galho de um ingazeiro.

Condenei-me mentalmente por não a ter procurado olhando para cima. Ela estava sempre em um galho, um muro ou até mesmo nas paredes.

Quando seus olhos encontraram os meus percebi o quanto estavam inchados e meu coração se apertou no peito.

Conto nos dedos as vezes em que vi Maria Flor chorando. Cinco ou seis, no máximo.

Na primeira vez ela tinha nove anos e caiu de uma árvore fraturando o braço. Tenho certeza até hoje que minha preocupação nunca chegou perto da tia Lis, mas eu podia sentir meus ossos vibrando com cada um dos seus gritos de dor.

Outra vez foi em seu aniversário de doze anos, lembro dos olhos marejados depois da festa quando tio Fábio, pai de Flor, se despediu voltando para a capital paulistana.

Flor É SerOnde histórias criam vida. Descubra agora