Gula

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Akira's POV

Eu entrei em casa, ainda triste com o ocorrido, as palavras que ele me disse já no começo do dia me machucaram muito. Eu nem consegui comer antes de sair do apartamento dele de tão chateado que eu estava, tanto que isso foi a primeira coisa que eu fiz quando cheguei em casa, comer.

Comi triste, quase chorando, todos me perguntaram o que houve, se havia sido o Ryo que fez tal coisa.

-Akira, fala a verdade, foi o Ryo que te deixou triste? Porque só pode ter sido, ele foi a última pessoa que você falou com antes de voltar, não é? - Acho que a Miki era a que mais estava preocupada comigo, mas eu sabia que se respondesse a verdade sobre o jeito que o Ryo me tratou, eles provavelmente não iriam querer que ele chegasse perto de mim, então eu não disse nada. Eu queria que ele ficasse comigo de novo, eu queria ele perto de mim, então, tive que pensar em uma desculpa rapidamente, uma desculpa boba, mas que fosse pelo menos funcionar um pouco.

-Não foi nada, eu só vi uma coisa que me deixou triste, nada de mais, de verdade.

-O que era a coisa então? Tem que ser algo ruim mesmo pra te deixar assim.

Parecia que quanto mais eu tentava consertar as coisas minimamente, mais eu acabava piorando a situação.

-Ah, era sobre um gato que morreu, a família que cuidava dele parecia estar muito mal...- Inventei qualquer coisa, o problema seria se ela fosse procurar ou perguntasse pra mim sobre o gato.

-Entendi, não quer ir comer no seu quarto então? Dorme um pouco também, descansa até se sentir melhor.

-Pode ser, obrigado Miki.- Acho que ela é a única menina que eu conheci que não ligava pra mim só pela minha nova aparência, e sim pelo o que sou, pela pessoa que sempre fui. Fico feliz de ter alguém como ela, muito feliz.

Acabei indo pro meu quarto, levei um prato de comida, que não durou nem um pouco, e dormi logo em seguida. Mas foi difícil cair no sono quando a única coisa que se passava na minha mente era o Ryo, as coisas que ele me disse, tudo o que aconteceu nessas últimas horas, era muita coisa, eu estava sobrecarregado com tudo, e ainda tive que mentir pro bem dele e pro meu, espero nunca fazer isso de novo por alguém tão egoísta como ele, alguém que com certeza não faria o mesmo por mim, mas que eu ainda amava.

Por que? Por que eu ainda o amo depois de tudo isso? Tem alguma coisa nele que faz com que seja difícil querer o odiar completamente, os seus olhos, o seu corpo, tinha tantas coisas boas nele, alguns aspectos de personalidade ainda eram bons, ele tinha um pouco de bondade restando dentro dele, eu sei disso, se não, ele não teria dormido comigo, se ele me odiasse como eu o odiava, ele não teria me perguntado como eu me sintia. Só que ainda pode ter sido que ele só quis me contatar de novo porque eu iria trazer vantagens pra ele lutar contra demônios, mas vai que isso não era o caso, e realmente, ele só queria concertar tudo?

Eu acordei com fome, pelo céu que eu via da minha janela, devia ser umas 18:00, era o horário que geralmente nos encontrávamos para continuar matando os demônios do mapa, por que tudo tem que me lembrar dele? Justo agora que estamos mal? Quando estamos nos dando bem, eu nunca reparo nessas coisas, nos mínimos detalhes que se relacionam com ele, as coisas que ele me dava, as mínimas coisas que ele influenciava no meu cotidiano. Eu estava sentindo falta dele, mas eu me sentia culpado por isso, porque me sentir assim logo depois de tudo o que ele disse era simplesmente burrice minha.

Desci para a sala de jantar, eu pensei em comer alguma coisa pra me distrair dos pensamentos sobre ele. A minha gula estava me dominando, mas do mesmo jeito, o meu plano de comer pra me sentir melhor estava funcionando, mas nem tanto. Talvez o álcool fosse ter um efeito mais forte, mas eu não faria isso, além de eu não estar na idade legal pra beber, eu não queria ter que chegar ao ponto de beber pra esquecer dos meus problemas, eu não queria ficar desse jeito.

Acabei saindo pra comprar mais comida, não queria acabar com tudo que tinha na casa, ainda tinha bastante coisa, mas seria melhor comprar algo só pra mim do que comer tudo o que eu via pela frente. Então peguei minha moto e sai, também peguei um pouco de dinheiro que o Ryo tinha me dado um dia, não lembro mais o porque, mas agora iria servir bastante pra mim. Mas quando tinha acabado de sair, eu o vi, o carro do Ryo, ele me fez decorar a placa dele pra que eu não confundisse, ele estava indo pra casa da Miki, provavelmente pra me ver. Eu acelerei, porque se eu o vi, ele também deve ter me visto, e eu estava certo.

Não demorou muito para eu ouvir que tinha um carro atrás de mim, indo tão rápido quanto eu, eu tinha certeza que era ele, tinha que ser; eu não queria falar com ele, pelo menos não agora. Eu estava ciente que se eu continuasse naquela direção, ele iria saber exatamente onde eu estava indo, porém eu não sabia como despista-lo, eu já havia deixado meu celular em casa para ele não saber que eu tinha saído, mas agora isso não ia adiantar, ele me tinha em vista, eu estava na mira dele, qualquer erro meu em um momento desse podia me fazer ter que interagir com ele, ou até cair da moto e morrer, mas para mim, os dois têm peso igual.

Continuei indo reto, até que vi uma rua que ia para a minha direita, decidi virar no último momento para fazer com que ele passasse reto e me desse mais tempo pra fugir, mas acho que esse movimento era muito previsível, porque ele virou na mesma hora e continuou me seguindo, eu não sabia mais pra onde ir, então acabei voltando pra rua que eu estava indo
originalmente e parei no mercado mais próximo, fazendo com que ele parasse também, esse cara não desiste nunca...

𝓟𝓮𝓬𝓪𝓭𝓸𝓻𝓮𝓼.Onde histórias criam vida. Descubra agora