A Melhor Noite do Ano

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O Halloween era a época mais esperada, pois era quando Midoriya poderia se tornar tangível e rodar livremente entre os humanos exibindo sua anormal palidez. Era considerada até como algo bom invés de mórbido ou débil. Era também a época em que poderia coletar doces com seus amigos e se empanturrar com eles, já que seu estômago era um buraco negro sem fundo. Comeria o tanto que quisesse e ainda poderia passar um tempo se divertindo com seus amigos. Os quais também viviam isolados esperando por essa época para que pudessem se apresentar ao mundo dos humanos sem parecerem aberrações. Sem dúvidas, o Halloween não era a melhor época só para Izuku. 
Katsuki Bakugou, nesse instante, o esperava em pé em cima de sua cova. Um pouco abusado de sua parte. Mas ele não se importava, gostava de gozar da intimidade que tinha com o fantasma. Este, como sempre fazia, voou para perto do lobisomem sussurrando em seu ouvido.
"Kacchan…" Disse como um sopro. O que fez com que todos os pelos da nuca do loiro se eriçarem. 
"Que merda, Deku. Sabe que eu odeio quando você faz isso." Resmungou mesmo que já esperasse por algo do tipo. 
Ele tinha sorte de poder atravessar as coisas. Era assim que escapava dos vários ataques de fúria do amigo. Este que não via a hora poder pedir doces e jogar rolos de papel higiênico na casa dos outros. Por mais que estivessem um pouco velho para isso, ele não se importava. Era quando podia deixar sua alcateia e sair com seu amigo fantasma, o qual era apaixonado, e seu rival vampiro, que não perdia a chance de cortejar o seu melhor amigo. Era irritante quando ele ia junto nos passeios, os quais era para serem somente ele e o garoto de cabelos verdes, mas esta noite em especial era Halloween, então o loiro faria o sacrifício de aturá-lo. 
"Vocês não acham que esse é um programa meio infantil?" Perguntou o garoto heterocromático chegando sorrateiramente atrás dos dois, o que fez com que Izuku se assustasse. "Nós fazemos isso todos os anos e sempre as pessoas nos olham feio. Acho que já está na hora de parar." 
"Se não quiser é só não ir, meio a meio." Disse o loiro irritado pegando na mão de Izuku. "Eu não me importo com o que aqueles idiotas dizem."
Ele sabia o quanto o fantasma gostava de fazer essas coisas, então iria com ele todos os anos que quisesse. Além disso, era algo que lhe agradava também, poder escapar da alcateia pelo menos por uma noite. Não que já não fizesse isso nas outras noites do ano, era só que agora ninguém lhe encheria o saco e poderia ficar até a hora que quisesse fora. 
"Não é disso que eu estou falando, cachorro fedido." Disse ouvindo o Katsuki rosnar para ele. "É que nós três aparentamos ter quinze anos para mais, isso chama atenção no meio de tanta criança. E nós vamos sempre nas mesmas casas durante sete anos a fio, usando as mesmas fantasias, digamos assim. Eles envelhecem, nós não. Não acha que já passou da hora de alguém suspeitar? Se já não estão suspeitando." Concluiu o raciocínio.
Izuku arregalou os olhos e seu semblante se tornou ainda mais pálido, se é que isso era possível. Sua mão e a de Katsuki estavam entrelaçadas, e o loiro podia sentir o suor frio através de sua palma. 
"E-ele tem razão, Kacchan." Constatou cabisbaixo e o loiro suprimiu um rosnado. Odiava vê-lo infeliz e odiava mais ainda quando Shoto estava certo. 
"É melhor assim, Midoriya." Disse se aproximando do menor. "Eu só estou falando isso para te proteger." Todoroki levou a mão ao rosto alheio fazendo uma carícia sutil, mas esta foi interrompida pelo estapeamento que levou do lobo enfurecido, fazendo-o recuar a mão. 
"PROTEGER UMA MERDA. VOCÊ É UM PUTA DE UM ESTRAGA PRAZERES." Gritou afastando Izuku de perto dele. 
"Kacchan." Disse em tom de repreensão, mas o loiro não deu a mínima. 
Pegou o fantasma que era bem leve colocando-o em suas costas para em seguida virar um grande lobo de pelos dourados. 
"O-o que está fazendo?" Perguntou Izuku montado nele. 
"Te levando para cidade vizinha." Disse vendo o semblante confuso do amigo se iluminar em compreensão. "Vamos pedir doces, se segura." 
Katsuki correu como corria em suas caçadas, Midoriya em cima de si, não parava de sorrir. Ele poderia muito bem ir voando que até seria mais rápido, o loiro sabia disso. Porém também sabia o quanto o amigo gostava de ser carregado daquela forma por ele. Vai entender. Voar parecia tão melhor. Só que Izuku se encantava em passear com Kacchan, da mesma forma que se encarava com qualquer coisa que o amigo fizesse. Isso o enchia de orgulho o fazendo querer uivar. E foi isso o que ele fez quando saltou com o garoto nas costas ouvindo ele gritar animado. Esses momentos lhe eram tão especiais que, nem a presença do vampiro os seguindo em forma de morcego, poderiam estragá-los. Não é como se não gostasse do meio a meio, é só que ele conseguia expressar melhor que ele aquilo que sentia pelo Midoriya. E isso sempre o deixava na defensiva. Katsuki não gostava de sentir assim, porém quando Todoroki estava por perto ele instintivamente se tornava mais territorialista com Izuku. Coisa que nem sempre estava ciente que fazia. 
"Chegamos." Disse cansado, já podendo ver, da mata, às luzes de Halloween da cidade e os gritos animados das crianças. Izuku desceu de seu colo e ele se transformou novamente em humano, conservando apenas suas orelhas de lobo, que o esverdeado adorava acariciar. E isso sempre o fazia ronronar. 
"Vamos?" Perguntou Izuku não contendo a animação na voz. O lobisomem e o vampiro assentiram. 
Eles foram de casa em casa como sempre faziam durante esta noite. Bakugou assustou algumas crianças que estavam roubando doces de outras menores, enquanto Izuku ria divertido. Um brilho infantil estivera estampado em seu rosto a noite toda, isso fazia com que Katsuki se orgulhasse ainda mais de seu esforço para trazê-lo para pedir doces. Tanto que vez ou outra ele fitava o vampiro com o peito estufado e um sorriso presunçoso no rosto. Shoto revirava os olhos ou fingia não ver. Embora fosse irritante, ele tinha que admitir que estava se divertindo aquela noite com Izuku os arrastando para todos os lados para pedir doces. Estes que Todoroki nem fazia questão, mas gostava de pegá-los para oferecer para Izuku que aceitavam metade, por se sentir mal de pegar todos. Mesmo com ele insistindo dizendo que não gostava. Katsuki, por outro lado, comia todos os seus doces como um lobo faminto, ele e Izuku disputavam para ver quem pegava mais e o loiro venceria, se não fosse pelos doces que o vampiro lhe dava.
"Essa é a última casa da região." Disse Izuku carregando um cesto repleto de doces, Katsuki também não era diferente. Havia pegado os doces dos garotos que roubavam de outras crianças ficando com muito mais. 
Havia muitas abóboras enfeitadas no quintal e alguns fantasmas pendurados, além de cabeças e membros de zumbis espalhados por todo canto. Seja quem for os donos, eles haviam caprichado naquele ano. A porta se abriu como num passe de mágica enquanto se aproximavam, até que saltou de lá um homem com uma máscara de um rosto esfaqueado e todo cheio de sangue. Izuku não soube o que fazer, sua primeira reação foi dar um pulo anormalmente alto e depois se encolher agarrado no lobisomem que ficou sem reação por um tempo antes de envolvê-lo com o braço livre. Os doces de Izuku estavam todos espalhados pelo chão, o que atraiu muitas crianças, como formigas atrás do açúcar derramado na mesa. Ele só se deu conta quando uma boa parte de seu doce havia sido levado pelas pestes. Izuku gritou em vão para que elas os devolvessem, mas não adiantou Só havia sobrado os piores doces, os de amendoim. Então ele suspirou cabisbaixo, antes de olhar para o homem de máscara com os olhos chorosos. 
"Isso é culpa sua." Disse emburrado. O cara deu ombros rindo do fantasma e entrou de volta na casa. 
Katsuki teve que se segurar muito para não mordê-lo. Porém, ele foi ajudar o amigo a catar os docinhos que haviam sobrado no chão. Shoto olhava a tudo sem muito interesse, na sua sacola havia bem menos doces, já que este não se importava em ficar pedindo em todas as casas como os outros dois. Nem fazia questão de comê-los, por isso se aproximou do fantasma e lhe estendeu sua sacola. Midoriya ficou alguns minutos o encarando até seus olhos se iluminarem e ele pular de alegria abraçando o outro depositando um beijo em sua bochecha. Desta vez, ele não fez cerimônia em aceitar o presente do outro, contente demais pelo pouco chocolate que havia conseguido recuperar. 
O loiro engoliu a raiva puxando Izuku para fora daquele lugar que o havia trazido. Na volta, Izuku foi voando carregando os doces dele e os de Katsuki que teria mais dificuldades em trazê-los na boca como lobo. Quando chegaram ao cemitério, Shoto se despediu deles dizendo que estaria ocupado no dia seguinte já que uma parte de sua família viria da Romênia visitá-lo. Izuku assentiu e se despediu do amigo. 
Katsuki o viu se afastar como um morcego até o castelo abandonado que ficava no topo da colina. A noite estava clara, a lua cheia iluminava todo o cemitério e o garoto verde a sua frente. Ele estava mais lindo aquela noite ou seria o efeito da lua sobre Katsuki lhe proporcionando uma maior ferocidade e aguçando seus desejos latentes?
"Né Kacchan, hoje foi muito bom." Falou sorrindo para si e Deku parecia radiante aos seus olhos. "Tudo graças a você." 
O loiro grunhiu excitado com tais palavras direcionadas a ele. Não era incomum Izuku lhe agradecer pelos pequenos favores que este lhe prestava de bom grado. Todavia, naquela noite, tudo parecia mais intenso para si. A lua cheia lhe era como um chamariz para que cedesse aos próprios desejos, os quais ele encobria nas outras noites. Havia pensado que o Halloween e as energias dos humanos o pudessem distraí-lo por um tempo de suas próprias vontades. E deu certo de fato. Contudo, agora estavam só ele e aquilo que mais desejava dentre todas as coisas. 
"Kacchan é incrível." Falou alheio ao que se passava com o outro.
"Para de falar essas coisas, Deku." Disse em meio a confusão interna de tentar suprimir seus desejos com estes transbordando de dentro de si. "Eu…" Suspirou irritado por não saber como falar. E o medo de ser rejeitado pelo fantasma, como fora Todoroki. Este não havia se abalado com o fora de Izuku, muito pelo contrário, seguiu a cortejá-lo abertamente agora que não havia mais nada a perder. O que Katsuki considerava patético, todavia, não deixava de ser admirável sua perseverança. 
"Kacchan, está tudo bem?" Perguntou preocupado encostando na face quente do lobisomem, que estremeceu diante seu toque. 
Midoriya continuou com as carícias até chegar nas orelhas, sua parte preferida no outro, que ronronava alto com a cabeça baixa para que o fantasma não visse sua vermelhidão nas bochechas. 
"Elas são lindas." Murmurou admirado. Ele flutuava de forma que pudesse alcançar a cabeça do outro e passar a ponta de suas orelhas em suas sardas no rosto. "Kacchan é tão bravo, mas essas orelhinhas te deixam tão fofo." Riu dos resmungos de Katsuki proferindo alguns xingamentos incompreensíveis. "Eu poderia acariciá-las todos os dias que não iria me enjoar." Disse com a voz mansa sentindo a cabeça loira descansar em seu pescoço. 
"Você pode acariciar quando quiser." Falou com a voz abafada pelo pescoço do outro. 
"Hum? Como assim?" Perguntou Deku e Bakugou pôde jurar que ele estava se fazendo de sonso. 
"Eu estou dizendo que você pode fazer isso, merda." Falou irritado pela vergonha que estava sentindo e, como ele não era bom com palavras, rodeou o fantasma com seus braços fortes esmagando-o contra seu corpo. Izuku suspirou com o ato. 
"Eu posso fazer o que, Kacchan?" Perguntou em forma de sussurro. Só que, desta vez, sua voz soou de forma sexy, o que fez o loiro estremecer com o calor descendo de suas bochechas para uma área específica. "Você sabe se expressar bem com corpo, Kacchan." Comentou rindo e Katsuki rosnou. 
"Então porque tanta enrolação, Deku?" 
"Porque eu quero ouvir você falar." Disse roçando a perna no membro do outro. Izuku ainda flutuava, o que permitia que o loiro se escondesse em seu pescoço. Então ele desceu, ainda nos braços do outro, até seus pés tocarem no chão e pôde ver de baixo o semblante desejoso do lobo, cuja respiração pesada ia de encontro às suas sardas fazendo com que a área atingida ficasse formigando. "Diga." Pediu encarando os rubis escurecidos de desejo. 
"Eu quero você, Deku." Falou com a voz grossa e o fantasma alargou seu sorriso o fitando com os olhos iluminados. 
"Eu também quero você, Kacchan." Isso havia sido o suficiente para que Katsuki cedesse aos seus desejos, intensificados pela lua, e o pensasse na primeira árvore que encontrou. 
O cemitério era um lugar bastante arborizado, o que era bom pois assim os outros fantasmas enxeridos não ficariam bisbilhotando a pregação alheia. Ainda assim, o loiro o arrastou de volta para a floresta na pausa entre um beijo e outro, para deitá-lo na grama e amá-lo ao relento sem se importar com o quanto a noite estava clara e poderia denunciar o que estavam fazendo. Foi graças ao brilho da lua que havia tomado coragem para fazer o que tanto queria, e não seria ele a atrapalhá-lo agora que Izuku cedera a seus encantos. 
Eles ofegavam no gramado verde, cobertos apenas pelo manto fantasmagórico de Izuku, enquanto ouviam alguns lamentos das almas penadas que ficavam piores nessa noite.
"O céu está lindo." Disse Izuku com a cabeça recostada no peito alheio.
"Não tem estrela nenhuma, Deku. Só essa lua maldita." Disse na intenção de contrariar, simplesmente porque amava fazer isso e ouvir um resmungo manhoso do outro em resposta.
"Pois eu acho a lua muito bonita. Ela está grande essa noite." Falou admirado.
"Grande como a sua bunda." Comentou rindo, ganhando um tapa no peito. 
"Kacchan mau. Foi só eu dar liberdade que já ficou assim." Afundou a cara no peito alheio para esconder a vermelhidão.
"E quem disse que eu preciso disso para agir assim, Deku?" Izuku ergueu a cabeça desacreditado e depois riu alto.
"Não era você mesmo que, meia hora atrás, estava agindo igual a um gatinho acuado?" Perguntou sentindo o rosnar do loiro embaixo de si. "Mesmo depois de eu te dar todas as indiretas possíveis e inimagináveis. E até chegar em você uma vez…" 
"Eu não sabia que você estava me cantando daquela vez." Se defendeu. 
"Eu te convidei para entrar na minha cova. Depois do Todoroki insinuar que a minha cova era outra coisa." Falou rindo com a expressão de desagrado do outro. 
"Eu não tenho culpa se eu estava ocupado xingando o meio a meio. Você que deveria ter sido mais claro." Disse relembrando do contexto da conversa naquele dia e se sentindo um idiota por ignorar uma investida tão clara pois estava cego de raiva do vampiro abusado. 
"Mas claro que aquilo? Acho difícil, Kacchan." Se levantou do peito do outro para buscar as sacolas de doces. "Né, Kacchan. Um bom namorado divide os doces com o outro." Falou com os olhinhos pidões. 
"Então eu te peço em namoro amanhã." Falou rindo alto da cara de bravo do esverdeado. 
"Baka."
"Venha aqui, Deku." Disse sentando-se batendo em sua coxa e o garoto obedeceu, ficando de frente para ele ao sentar no colo do lobo. "Vou te dar meus doces esse ano. Se você me prometer ir na alcateia amanhã." Falou se referindo ao seu bando, Izuku não gostava muito de ir lá, pois achava que os lobos tinham uma presença intimidadora demais. Mas sabia exatamente o porquê Katsuki o pedira aquilo. Os lobos valorizavam a família acima de tudo e era costume o líder apresentar seu companheiro ao bando.
"T-tudo bem." Disse incerto.
"Relaxa, eles vão gostar de você. Além disso, os nossos antigos rivais são os vampiros e não os fantasmas." Disse o abraçando descansando o queixo em sua cabeça, Izuku deu um suspiro aliviado. 
"Posso comer os doces?" Perguntou olhando as imensas opções de guloseimas no saco em sua mão e o loiro assentiu. "Até que enfim." Disse abrindo um monte de uma vez e colocando tudo na boca.
"Ano que vem, vou pegar mais doces para você. Mais do que aquele meio a meio." Falou determinado. 
"Isso não é uma disputa,  Kacchan." Disse com a boca cheia de balas. "Até porque você pegou mais esse ano."
"Mas aquele oportunista vem te dando os doces dele há sete anos seguidos. Ou seja, eu estou perdendo nessa disputa. Mas eu vou dar um jeito de virar isso ano que vem." Disse com uma chama cobrindo seus olhos. 
Izuku pensou em discutir ou tentar fazê-lo enxergar que aquilo não era uma competição. Porém quando se tinha um exímio caçador como Katsuki Bakugou tão determinado a lhe trazer doces, quem seria ele para contrariar. Que venha o próximo Halloween.

Fim.
Espero que tenham gostado s2
Até a próxima 😊

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