— Ah! Mia, sabe que, por mim, você poderia ficar aqui. — Samantha, minha fiel escudeira, avisou. É, tá legal, Sam, não precisa pisar em ovos pra dizer que sua mãe me acha uma vaca depravada. — Só que meus pais só não te entendem...
Meu olhos continuavam focados na tela do notebook de Katherine Jenkins — mãe de Sam.
Katherine é secretária do meu antigo colégio e durante os anos em que estudamos juntas, Sam me confidenciou que sua mãe levava o trabalho pra casa e não parava até que estivesse na hora de dormir.
Na tela do computador, meu novo boletim parecia brilhar diante dos meus olhos.
Notas acima de oito porque sou humilde. Aperto o botão da impressora e quando o treco começa a fazer o seu trabalho, levo os olhos até Sam.
— Você já me deixou ficar por dias, Sam. Acredite, eu sei o esforço que seus pais estão fazendo. — Dou de ombros. — Consegui uma entrevista então, tomara que eu tenha sorte.
Ela me dá um sorrisinho compreensível.
A folha desliza pra fora da máquina. Mia Burkhart, meu nome e sobrenome parecem merecer uma estrelinha dourada ao lado. Perto da impressora, há um caderno rabiscado em uma folha inteira com inúmeras cópias da assinatura idêntica ao da mãe de Sam, já que era a assinatura dela que sempre estava presente nos boletins.
É claro que eu sabia copiar uma assinatura.
Quando se cresce com pais conservadores, você aprende a esconder o que faz, aprende a mentir bem, aprende a se esquivar de situações comprometedoras.
Tudo para que eles não te peguem no flagra e te castiguem.
Tudo para que você sinta um pouco do que as pessoas chamam de ''liberdade''.
Minha mão riscou rapidamente o nome de Katherine Jenkins, pensando no rosto horrorizado de Katherine ao me pegar fazendo uma merda dessas.
Sam era uma garota de sorte porque sua mãe podia até ser meio chata e entediante mas não era... excessiva como meus pais.
— Não deixe ninguém descobrir isso. — Sam implorou num sussurro ao passo que encarava o meu mais novo boletim escolar. — Sério, isso ficou foda.
— Eu sei. — Entortei as sobrancelhas. — Ei, você disse um palavrão!
Sam rolou os olhos e buscou uma moeda em seu bolso, deixando-a cair dentro do pote.
Há alguns dias, quando cheguei na casa dos Jenkins, o pai de Samantha ficou tão abismado com os palavrões que saíam de minha boca que colocou um pote que chamou ''cantinho do palavrão'' e agora minha boca está oitenta por cento limpa de palavrões, o que vai me ajudar substancialmente com o meu possível-futuro-trabalho.
Nós fechamos a porta do quarto de Sam e eu deixo minha mochila preparada para amanhã.
O abajur de lava faz o quarto brilhar num tom avermelhado e eu me sinto mais em casa aqui do que no lugar que cresci. Me encolho na cama, ao lado de Sam.
Meus dedos estão se enroscando no cobertor e então, Sam cobre minha mão com a sua e aperta. Ela sabe que estou nervosa pra cacete.
Tenho estado nervosa todos os dias. Eu durmo e acordo pensando se estou fazendo o certo mas que saída eu tenho? Preciso de dinheiro pra sobreviver e não posso ficar pra sempre na cada dos Jenkins porque já sinto a marca da sola do sapato de Katherine bem no meio da minha bunda.
Eles não me odeiam mas... Desde o colegial, quando Katherine me pegou fumando cigarro nos fundos da escola, eu sabia que ela não me achava a melhor das companhias.
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QUASE SEMPRE
RomanceCrescida em uma família conservadora, Mia Burkhart é tudo o que os pais nunca planejaram. Uma noite, ela foge. Ao precisar de dinheiro, Mia se vê em uma entrevista onde seu futuro trabalho será cuidar de uma garotinha. O problema é que nessa pequen...