Em seu vigésimo sétimo aniversário, Sirius Black acordou no melhor lugar do mundo inteiro.
É claro que eram três horas da madrugada, e que ele estava sendo sacudido desesperadamente por uma criança de cinco anos. Mas isso, em sua opinião, era o mais próximo de um paraíso na terra.
Ele estava quase caindo da cama, que apesar de ser grande, estava se tornando pequena demais para os três que ali dormiam. Enquanto tentava ganhar algum espaço no colchão, Sirius esfregou os olhos e os abriu preguiçosamente. Harry abriu um sorriso enorme.
- Six! Você acordou! Preciso ir... hm... fazer xixi. Mas fiquei com medo. Pode vir comigo? Por favorzinho?
Sirius sorriu também.
- É claro que sim, querido. Vamos fazer isso bem quietinhos para não acordarmos Moony, está bem?
Harry assentiu.
Sirius esperava voltar a dormir logo, mas Harry, que nunca fora uma criança muito quieta, resolveu que também estava com fome. Saiu pulando pelo corredor, cantarolando uma melodia alegre pelo caminho. Sirius sempre sentia seu coração esquentar vendo Harry assim, tão feliz. Ele sabia que James e Lily, os pais do garotinho e seus melhores amigos, falecidos em um acidente de carro quando Harry era apenas um bebê, teriam adorado vê-lo dessa maneira.
Talvez tenha sido o efeito do sono, tornando seu raciocínio mais lento, mas Sirius realmente não percebeu nada de estranho no comportamento do garotinho ou na situação em si. Só quando Harry ligou a luz da cozinha que Sirius viu o enorme bolo na bancada. Remus veio caminhando pelo corredor, onde estava claramente esperando o momento de sua entrada, e abraçou o moreno por trás, escondendo seu rosto no pescoço dele para esconder o sorriso enorme.
- Moons, Harry! Vocês fizeram um bolo para mim?
- Sim! – gritou o garotinho – Sim, sim, sim, sim! É seu aniversário, Six!
O aniversariante se aproximou da bancada, Remus ainda o abraçando, caminhando agarrando a ele como se fosse um coala. O bolo era coberto por glacê vermelho, completamente irregular e bagunçado, claramente trabalho de Harry.
- Fizeram enquanto eu dormia? Meu Deus, isso é tão gentil. Espero que estejam com fome suficiente para uma minifesta no meio da noite.
Harry voltou a comemorar, rodopiando pela cozinha. Ele puxou seu gatinho preto, Pads, de onde ele dormia, e passou a dançar valsa pela casa enquanto tentava não ser arranhado.
O ato fez Sirius e Remus rirem ao mesmo tempo. Sirius puxou o rosto de Remus e o beijou preguiçosamente, primeiro na testa (e ele precisou ficar na ponta dos pés para isso), depois em cada uma das bochechas e por fim em seus lábios. O moreno suspirou quando sentiu os lábios macios do marido em contato com os seus.
Quando se afastaram e Sirius começou a cortar as fatias do bolo, Remus pegou de cima da mesa de canto algo que tinha separado especialmente para aquele dia. Estendeu o livro de capa preta para Sirius, cujos olhos se encheram de lágrimas quando reconheceu o objeto.
- Meu Deus, Remus... é o livro... – ele tapou a boca com uma das mãos. Seus olhos estavam cheios – É aquele mesmo exemplar?
Remus apenas assentiu.
Era aquilo. Exatamente aquilo. O ponto de partida de tudo, o momento em que a história começava, em que a vida de Sirius havia virado de cabeça para baixo. Ele era estupidamente grato por aquele livro, e tudo que havia acontecido depois, cada passo que o havia levado até onde estava hoje.
-
Tudo havia acontecido sete anos atrás. Sirius, aos vinte anos, estava perdido, metaforica e literalmente falando. Ele não sabia exatamente o que estava fazendo com sua vida, saindo da casa abusiva dos pais e se mudando para o outro país. Ele não tinha a menor ideia se aquilo tudo daria certo, mas a ideia de finalmente ir para a Índia morar com as pessoas que realmente eram sua família, Euphemia, Fleamont e James, era simplesmente incrível demais para não tentar.
Então, ele estava no aeroporto. Ainda não sabia onde era o seu embarque, mas tinha muito tempo para descobrir. Estava caminhando em busca de um lugar um pouco mais silencioso – talvez assim ele conseguisse uma soneca e recuperar a noite péssima de sono – quando viu um livro. Largado em cima de um banco, solitário. Parecia deslocado ali, tão sozinho, tão como ele. A capa era preta, e Sirius nem percebeu que estava cometendo uma espécie de crime quando pegou o livro e saiu caminhando pelo aeroporto até encontrar um local confortável para ler.
Ele perdeu a noção do tempo. Sirius leu, e leu, e continuou lendo. Parou para conferir as horas em algum momento, entrou no avião e voltou a ler. Não conseguia mais parar.
A história era sobre velhos amigos que se encontravam para cometer um roubo, mas o que realmente encantou Sirius foi o modo como o autor desenvolvia seus pensamentos. Era provavelmente o melhor livro que ele já havia lido (não que ele tivesse lido muitos), mas aquele cara era com certeza o mais genial que Sirius (não) conhecia.
Talvez por isso ele tenha mandado um e-mail para o autor do livro. Remus J. Lupin. Talvez por isso ele tenha contado praticamente sua vida inteira, aberto seu peito sem ao menos pensar antes. Afinal, fazer as coisas impulsivamente era exatamente a área de Sirius.
Ele contou exatamente o que acontecera com sua vida nos últimos meses. Contou que estava no avião, que estava indo para longe de um lugar que ele nunca conseguiu ver como casa, e aquele livro o dera uma pontinha de esperança. O sinal que ele precisava. Como uma voz sussurrando em seu ouvido que tudo daria certo.
Sirius nunca, nunca imaginou que seria respondido. É sério, quantos e-mails aquele cara recebia por dia? Mas ele foi respondido. E novamente, se viu encantado pelas palavras daquele homem. Ainda mais depois de pesquisar um pouco e descobrir que ele não era velho, na verdade, tinha vinte e dois anos. Logo, as correspondências entre os dois se tornaram mais frequentes e mais íntimas. Contavam cada parte do seu dia um para o outro, e Sirius sentia seu coração aquecer quando recebia um e-mail novo. Estava apaixonado por uma pessoa que nem conhecia.
Mas isso não durou muito. Eles se conheceram quando Remus foi para a Índia escrever seu novo livro. Sirius tinha medo que a magia acabasse, que ele descobrisse que tudo aquilo só existia por correspondência. Mas o que ocorreu foi exatamente o contrário: a cada momento ao lado do escritor, Sirius se sentia mais encantado com ele. Com cada pequena coisinha, o modo que seus olhos cor de mel pareciam profundos, o vício pouco saudável em tomar café o tempo inteiro, o modo como ele as vezes simplesmente encerrava uma conversa na metade porque precisava escrever ou perderia a inspiração.
Durante todo o tempo de Remus na Índia, Sirius não disse uma palavra. Porque não tinha certeza se o outro sentia o mesmo, e tinha medo demais de ser rejeitado e acabar com a amizade que os dois tinham desenvolvido durante aquele período. Até que o livro ficou pronto.
Sirius foi a primeira pessoa a ler, e o devorou em um dia. Foi genial, assim como o outro, e ele só foi encontrar a surpresa no final: seu nome na dedicatória. Depois daquilo, Sirius encontrou a coragem necessária para se declarar.
Foi impulsivo e caótico, a coisa mais Sirius Black possível, e Remus amou a confissão exatamente por isso. O escritor já sabia que estava apaixonado por Sirius, já sabia há muito tempo, e quando voltou para o Reino Unido, levou o novo namorado junto.
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Sirius sorriu ao lembrar a história. Ele pensava nisso frequentemente: como uma junção de coincidências bizarras o haviam levado até o amor de sua vida. Ele não costumava acreditar em destino... pelo menos até encontrar Remus.
Seus olhos quase caíam de sono quando os três presentes na cozinha acabaram de comer suas fatias de bolo. Empilharam os pratos dentro da pia para serem lavados depois, e voltaram para o quarto, Harry já pegando no sono no colo de Remus.
Sirius sentiu seu corpo inteiro inflar de tanto amor, como se pudesse sair flutuando. Era realmente uma coisa de outro mundo, a sorte que ele tivera de encontrar aqueles dois. Remus beijou a testa de Harry quando o colocou na cama, e deitou-se de frente para o marido. Sirius ainda encarava os olhos cor de mel de Remus quando pegou no sono.
Em seu vigésimo sétimo aniversário, Sirius Black adormeceu no melhor lugar do mundo inteiro.
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when we were young
FanfictionEm meio às felicitações por seu vigésimo sétimo aniversário, Sirius Black mergulha em uma viagem ao passado e recorda da série de coincidências que o levaram a conhecer sua alma gêmea.