Festivais do milho e corrimões azuis

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- Mas que caralho!

Momo falava irritada segurando a torta queimada e a jogando de qualquer jeito na pia, sem se preocupar se quebraria a travessa de vidro. Estava irritada com a empresa de internet que demorou três dias para vir consertar o roteador de wi-fi, com a companhia de água que oferecia um péssimo serviço e parava de abastecer depois das oito da noite. Nem suas duas únicas amigas escapavam de sua irritação, já que havia escutado por duas horas algumas reclamações da Hirai sobre qualquer um de seus problemas.

Desistindo de ter uma refeição decente, Momo apenas colocou uma água para esquentar ao mesmo tempo que acendia um cigarro, se xingando por aquele ser o último cigarro que possuía, encostando na porta e observando a mesma paisagem de floresta de todo dia. Ela podia até escutar o barulho de alguma abelha ao fundo, rindo com a calmaria do local em que havia escolhido habitar.

Apesar de ter crescido numa cidade grande e numa família rica e influente, Momo pensou bem antes de se esconder numa cabana na floresta. Estressada com a constante necessidade de se mostrar melhor que os outros, a vida lhe deu um empurrãozinho quando uma namorada lhe deu o pé na bunda, alegando que Momo era emocionalmente distante e mais fria que o Alasca. A Hirai tinha total consciência disso e usou do novo papel de garota que levou um fora para comprar uma cabana no meio de uma floresta de uma cidadezinha minúscula onde todos os habitantes se conheciam.

Cortou relações com amigos, sobrevivendo apenas duas amigas da época do ensino médio, que se recusaram a ser descartadas. Não fala com o pai, com a mãe e muito menos com a irmã, a qual a última mensagem foi um e-mail a comunicando que seu sobrinho havia nascido, algo que faziam seis ou sete meses. Não se interessava pela situação de fato, gostava de se manter longe de todos, de ser incomunicável. As únicas pessoas que via com frequência eram comerciários de quando tinha que sair de casa e comprar mantimentos. Mesmo com a pequena horta de seu quintal e a floresta onde, de vez em quando, encontrava frutas e cogumelos comestíveis, ainda não era o suficiente para sua subsistência.

Assim que desligou o fogo e colocou a água quente no copo de Cup Noodles, batidas levemente altas na sua porta chamaram sua atenção. Por segurança, uma faca de cozinha foi pega e colocada em suas costas. Antes de se mudar, fez aulas de defesa pessoal e sabia que estava tudo bem dar uma facada em alguém em legítima defesa. Assim que abriu a porta, uma garota de cabelos longos e castanhos, tênis que um dia foram brancos, mas estavam imundos e um vestido florido todo folgado segurando um papel deu um sorriso enorme antes de anunciar a que veio.

- Bom dia ou boa tarde, eu sou Sana Minatozaki e vim trazer um panfleto, convidando para o nosso festival do milho. Eu gar-

- Eu não tô interessada. Tchau!- a mulher ia fechando a porta, mas a garota foi mais rápida, pondo sua mão na porta.

- Por favor, você mora aqui há um tempão. Vai ser divertido se integrar na nossa comunidade. Vai ter comida, música e mais um monte de coisas.

- Olha, Sara..

- Sana.

- Sana... eu não tô afim de me misturar com um monte de caipiras desconhecidos.

- Então por que veio morar aqui? Tipo, dizem por aí que você é rica, veio de cidade grande. Todo jovem aqui quer ir embora dessa cidade, não ficar nela.

- Quer parar de me perguntar coisas? Eu nem te conheço.

- Eu também não te conheço e tô arriscando minha vida vindo aqui falar com você. Tô vendo a faca nas suas costas e se você começar a me esfaquear, o imbecil do meu amigo Chan só vai sair correndo e eu vou morrer só nas mãos de uma louca.- quando a tal Sana apontou para um canto da pequena estrada de terra que Momo reparou num garoto escondido entre as árvores.- Só aceita esse panfleto por favor, tenho um monte de milho na minha casa esperando para ser descascado.

Cherry - SaMoOnde histórias criam vida. Descubra agora