Capítulo 1

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Era um lindo dia para se brincar no quintal, apesar de nublado estava bem claro e as flores coloridas ao redor deixavam bem claro o quanto a primavera gostava de estar ali. Eu corria rindo atrás de lindas borboletas azuis que vinham até meu nariz me fazer cócegas e depois voavam para longe, a sensação de conforto e familiaridade nunca me abandonam quando estou por aqui, principalmente com ele por perto me vigiando.

Depois de um tempo me canso e decido sentar ao seu lado em baixo do guarda sol gigante que foi montado para que ele pudesse estar ali comigo, qual o motivo disso? eu não sei, olho para minhas pequeninas mãos e penso no quanto ele é alto do meu lado.

-O que foi?- Ele me pergunta sem tirar os olhos do caderno que está anotando coisas.

-Quero ser grande como você-respondi tentando entender o que era todos os números e calculos que ele fazia.

Ele sorri e finalmente olha para mim, com aqueles olhos que me fascinam e fazem querer ficar aqui para sempre, ele me pega no colo e acaricia meus cachos como se fossem a coisa mais preciosa de sua vida.

-Já conversamos sobre isso, você deve aproveitar mais esse momento que está tendo e então depois ficará grande como eu.

-Mas eu quero agora, quero dançar com você nos bailes e ajudar a cuidar da nossa casa.

Ele me olha com orgulho e me coloca em minha cadeira de descanso novamente.

-Nem parece que você só tem oito anos sabia disso?

-Você me disse que não tenho, que eu estou recrescendo pra poder voltar a ser sua.

-Sim, é verdade, talvez eu devesse ter demorado mais para contar, agora você está lá dando problemas para os seus pais. Quem diria que você seria mais teimosa do que antes.

-Não sou teimosa, só incompreendida.- digo de peito estufado enquanto arrumo a barra do meu vestido. -E por quê preciso usar essas roupas quando venho para cá? Isso é coisa de séculos atrás.

-Pois é o que usamos aqui, eu te disse, aqui é diferente de onde você está morando.

-Eu sei disso, até o ar tem um cheiro diferente, e a lingua aqui também é outra, mas como consigo estar aqui e lá?

-Isso só te contarei quando for mais velha.

Eu bufo em resposta, é sempre assim, desde pequena eu venho para cá, ele cuida de mim, me ensina coisas e só me dá respostas rasas. Tentei perguntar para minhas empregadas mas ela sempre dizem o mesmo "o Senhor lhe dirá tudo quando for a hora", e eu tenho que ficar aqui esperando essa tal hora chegar. Me irrito e levanto para ir para dentro, o tempo está fechando cada vez mais e eu prefiro gastar os momentos que me restam lá dentro.

-Você não vai nem me esperar para entrar com você?- ele me questiona quando não digo nada enquanto saio.

-Na hora certo eu te espero.-Respondo usando a mesma fala dele.

Em um piscar de olhos ele já está comigo no colo andando para dentro da mansão, sou pega pela surpresa e prendo o ar por um instante, acho que nunca irei me acostumar com isso, eu sempre me esqueço dos poderes que ele tem e por consequência sempre me assusto com coisas que são até que bem triviais no nosso dia a dia.

-Hora de voltar para lá borboletinha.-Ele diz me levando para meu quarto, passamos pela porta e já vejo Mary e Anne prontas me aguardando para trocar minha roupa.

-Não quero ir, é cedo ainda.

-Eu também odeio ter que te deixar ir, mas não posso fazer nada ainda.- Diz ele me colocando sentada na cama e dando um beijo em minha testa.-Agora se arrume com as meninas e quando você estiver pronta eu venho.

Concordo com a cabeça e ele sai do quarto, me deixando aos cuidados das mais leais empregadas que já vi, elas me levam para um banho e me colocam em uma roupa de dormir limpa, depois penteiam meus cabelos enquanto conversamos sobre o dia e o quanto me diverti, o que pretendo fazer e o que quero que elas deixem arrumado para a próxima vez. Quando me deito na cama ele abre a porta do quarto, me fazendo ter certeza que ele só fica parado do lado de fora esperando o momento de voltar.

-Pronta para dormir?- Me pergunta enquanto se ajeita na cama ao meu lado. Espero ele se acomodar e deito em seu peito, o cheiro de seu perfume invade meu olfato e eu fico abismada de não conseguir encontrar nada que cheire como isso nas lojas de perfume.

-Sabe que na verdade irei acordar agora.

-Depende do ponto de vista, e de quem irá fazer a viagem. Você pode decidir que o mundo real é aqui e você está indo dormir e sonhar com lá.

-Queria que fosse assim, mas eu sei que não é a verdade.

Ele me dá um sorriso melancólico, essa é nossa parte menos favorita, a despedida. Nunca sei quanto tempo vou levar para voltar, não sei se será na próxima noite ou só daqui a dois meses e isso me deixa angustiada. Percebo que ele não gosta também dessa incerteza e as empregadas já me falaram que ele passou uma semana inteira ao lado da minha cama rezando para que ele pudesse me ter aqui novamente, quando eu vim depois disso seus olhos estavam com olheiras enormes e ele passou cada segundo que eu fiquei aqui comigo.

Olho para seu rosto e nossos olhares se encontram, seu olho muda de cor para um tom acinzentado, o sinal de que ele não quer que eu vá. Depois, deposita um beijo em minha cabeça e acaricia meus cabelos enquanto canta uma canção de ninar, me fazendo aos poucos ficar com as pálpebras pesadas e meu corpo ficar amortecido. Antes que eu possa perceber estou ouvindo minha mãe na porta do meu quarto.

-Filha, acorda, hora de ir pra escola.

Eu abro meus olhos e estou em meu quarto novamente, não o quarto que eu gosto ou queria, mas é meu quarto de alguma maneira. Respiro fundo e levanto da cama, odiando o universo por eu ter que ficar aqui e não lá e então, me preparo para a escola. Honestamente, odeio esse lugar, sou sempre taxada como esquisita, se tiro boas notas meus colegas me deixam de lado e se tiro notas mais baixas eles riem dizendo que não sou tão inteligente quanto pareço. É um lugar onde só se encaixa quem tem dinheiro ou quem vai na mesma igreja que eles, e eu, não me encaixo em nada disso.

Estou sentada olhando pela janela e pensando no que será que ele estaria fazendo neste momento, será que estaria lendo um livro? Fazendo mais uma de suas vistorias pela casa pra manter tudo em ordem? Indo atrás de algum inimigo que estivesse ameaçando-o ou aprontando por suas terras? Dou um suspiro, gostaria de estar no meu cantinho da sua biblioteca lendo um livro e tomando um chá que Mary teria preparado pra mim, ou tentando aperfeiçoar meus dons em desenhos que são péssimos, se pudesse até mesmo treinaria uma canção na lingua dele para poder cantar durante um de nossos momentos juntos pois sei como ele fica feliz quando demonstro interesse pela sua cultura. Estou sorrindo com uma linda borboleta que passa pela janela quando ouço me chamarem:

-Catherine, dispersa de novo?-diz a professora de história.

-Desculpe professora.-ouço as risadinhas ao meu redor e o cochichos sobre minha falta de atenção.

-Pode me dizer sobre o Príncipe da Valáquia, Vlad III? ou estava distraída demais para prestar atenção no que eu falei?

-O Principe Vlad III, ou também Vlad III draculea viveu de 1431 à 1476, era conhecido por draculea justamente porque seu pai foi Vlad Dracul que pode ser traduzido como "Dragão" ou "Demônio" e Draculea seria "Filho do Dragão" ou "Filho do Demônio". Ele é conhecido hoje como Vlad, o Empalador pois ficou muito famoso por ser este o método que ele usava para punir seus inimigos.

-Certo...-responde ela meio atordoada por eu saber tanto.

Nem preciso olhar para o lado para saber que tem olhares de ódio direcionados a mim, eu devia só ter dito que não sabia e pronto, seria bem mais fácil de lidar. Após isso o dia correu como sempre, cheguei em casa e me enfiei em estudar para o tempo passar ainda mais rápido, e nisso de ir me distraindo nem percebi os minutos virarem horas, e depois dias, meses e anos...

Borboletas de Sangue AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora