Capítulo I

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Fogo

substantivo masculino

fenômeno que consiste no desprendimento de calor e luz produzidos pela combustão de um corpo; lume.

língua de fogo, labareda, chama.



O silêncio e a escuridão eram comuns na quinta àquela hora da madrugada. Silencioso, o homem se movia a passos lentos, com cuidado. Por mais que aquela casa fosse sua, que suas ordens tivessem que ser acatadas e ter o conhecimento que seus horários não eram da conta de ninguém, ele sempre teve cuidado ao chegar em casa.



"O que suas filhas pensariam, qual seria sua explicação? Qual olhar ganharia de Teresa? Desaprovação, nojo, indiferença?"



O click da fechadura, os passos lentos e silenciosos, os movimentos fluídos e cuidadosos. Pedro andava na penumbra mascarando-se as sombras como por muito tempo fazia, como durante uma vida inteira pareceu viver. Assim, escondido nas sombras.


Estava no Chalé que se encontrava frequentemente com Luísa quando o tempo começou a dar sinais de que uma forte tempestade se aproximava, e assim, decidiu por bem voltar para casa. No fundo, tinha plena consciência de que não foi uma simples tempestade que lhe expulsou dos braços da amante, mas precisava de uma desculpa para sair.


Havia muitas coisas que ele precisava digerir, pensar, e mesmo com Luísa, sabia que não seria capaz de ter clareza em seus pensamentos. A verdade era que sua mente estava um turbilhão, tão mexida quanto o mar mais revolto que se já se cogitou navegar.


A alegria contagiante do fruto de uma paixão, do seu encontro de almas, já havia se dissipado, e naquele instante, só havia espectros de um passado duro, frio e doloroso. Um apertou causou dor em sua garganta lhe fazendo soltar o nó da gravata, afrouxando ao máximo para lhe permitir buscar ar com mais empenho, enchendo os pulmões numa tentativa de controlar a ansiedade.



"Estou grávida, Pedro. Grávida de um filho seu."



Na mesma velocidade que a alegria lhe atingiu, fazendo com que mil e uma promessas saíssem de sua boca em prol daquele futuro filho e para acalmar espírito perturbado de sua concubina, os minutos passavam e a ideia se tornava mais real em sua mente, lhe apresentando o real cenário por trás dos seus atos.


"Estou grávida, Pedro."



Dessa vez, a voz que pairou em sua mente não foi a de Luísa. Nostálgico, o sussurrar de Teresa tomou conta de seus ouvidos, como uma canção doce, suave e incerta, trazendo a lembrança de uma felicidade e lágrima aos seus olhos.


Sentando-se por um momento no sofá, continuou a inspirar e expirar. O coração batia no peito com velocidade, as mãos suavam e ele se sentia extremamente desconfortável.

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