A saida

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Sinceramente não sei se estou fazendo o certo. Poderia simplesmente mudar de casa, ou até mesmo de cidade, ir para outro país a mais de 800 mil Km me parece meio radical, paro uns segundos logo após sair do táxi e me pergunto se minha decisão e a correta, penso enquanto olho para a entrada do aeroporto internacional de salvador.
Após olhar o meu celular um oneplus 7t presente que dei a mim mesmo por conseguir notas altíssimas na faculdade, ver todas as mensagens da minha família percebo que minha decisão e a mais correta, 125 mensagens de diferentes pessoas, acho que esse é o dia que a minha família mais tentou falar comigo em 24 anos, pena que é muito tarde...
Retiro meus fones do ouvido, akg cara como eu amo esses fones, fez muito sentido comprar dez cópias dele de uma só vez, infelizmente não são dos mais resistentes. Encaixo os fones e desbloqueio o meu celular, me deparo com uma foto da minha ex namorada, trato de retirar essa foto e a excluir permanentemente, nesse momento Kurama acorda na sua caixa.

Kurama e meu gato que tenho a cerca de três meses, em pouco tempo já o tenho como um dos seres mais importantes de minha vida, ter que levá-lo trancado em uma caixa já e doloroso demais para mim, corro até a cadeira mais próxima para poder dar a ele algo para comer, me sento próximo a um grupo de amigas que discuti para saber quem sentada na janela, assim que sento uma delas, a de cabelos loiros começa a me olhar e seu tom de conversa diminui, quase instantaneamente eu dou play em uma música qualquer pelo botão do meu fone, sinto muito garota não estou interessado em contato com nativos do meu país, país novo pessoas novas.


Kurama está levemente irritado, gosta de brincar quando acorda, retiro ele de sua caixa e o coloco em meu colo, reparo em meu relógio, uma smartwatch que recebi de presente de meu pai a cinco anos atrás, me deparo com memórias tristes as quais são interrompidas por Kurama e sua mordida em minha mão, obrigado amigo, bom faltam cerca de quarenta minutos para o embarque, começo a brincar com ele em meu colo enquanto analiso as pessoas ao meu redor, são pessoas cheias de felicidade, esperança, procurando um novo começo, alguns um tempo de calmaria, alguns executivos com seus ternos impecáveis correm para lá e para cá e com Kant cantando suas tristezas e traumas em forma de música me deparo a cinco minutos do embarque.
Dou comida a Kurama e antes que ele adormeça em meu colo a coloco na caixa, não esqueço de dar um beijo em sua testa ele e meu amigo, o único que seguirá comigo para essa nova vida, da qual nem sequer levei minhas roupas.
Levanto fortemente, essa é a minha decisão, irei embora, não pensar mais no passado, estarei enterrando hoje. Retiro minha aliança e a dou para um garoto de olhos tao negros quanto os meus, espero que faça bom uso dela garoto quase vendi meu rim pra comprar, sua mãe não vê e eu sigo como se nada tivesse acontecido.
Ao entrar na fila de embarque me deparo com uma ligação, e minha irmã, Marie, não sei se é bom atender, mas resolvo atender, não estou indo embora por conta dos meus irmãos, por eles até ficaria aqui para sempre.
-Mano, por favor não me diz que tu realmente vai ir pra outro pais- Ouvir a voz dela aos prantos me quebra, odeio ver quem eu amo chorar...
-Oi irmã, sim, mas não se preocupe eu estou bem- Me seguro ao máximo para não demonstrar a minha tristeza, consigo ouvir algumas vozes no fundo.
- Sua mãe esta com você ai ?- pergunto tentando ao máximo parecer calmo.
- Não estou na casa da sua mãe, pedi a ela para vir aqui, pensei que você demoraria mais aqui, mas quando cheguei ela me contou que você saiu com a Kurama e disse que nunca mais os veria...- Sinceramente a última frase me doeu, eu não quero sumir da vida dela ou dos meus irmãos, sinceramente este é um dos principais pontos que me doem, ficar longe daqueles que eu prometi ajudar a construir um futuro.
- Chame os meninos, quero falar com vocês - Acredito que pelo menos eles merecem umas palavras, minhas crianças devem saber que mesmo com tempos difíceis, no mesmo momento ela consente, tenta parar de chorar mas nao consegue, enquanto ela sai para chamar os meninos eu consigo ouvir bem baixo algo que parece a minha mãe rezando, no final parece que mesmo depois de tudo ela continua se preocupando comigo, infelizmente mãe, Deus se esqueceu de mim a um certo tempo.
Enquanto dou minha passagem e meu passaporte percebo que minha irmã voltou.
- Marie, Bart, Ayo, eu estou indo embora, não preciso dizer o motivo vocês sabem, eu amo vocês, são crianças fortes, Marie você e a mais velha, e eles são meus irmãos mas lhe peço que os ajude, ficarei fora por um tempo mas eu vou voltar, por enquanto vocês podem até mesmo não terem muito contato comigo, mas eu estarei vigiando, não se esqueçam o que precisam para serem boas pessoas, eu amo vocês meus filhos, irmãos e amigos - sinto lágrimas caindo do meu rosto, isso não costuma acontecer muito, porém este momento e muito forte, muito impactante para mim, não tenho segurar, acredito que necessito desse momento.
Recebo o meu passaporte com a atendente me olhando com uma cara muito triste.

E filha e doloroso mesmo.

- eu te amo irmão - Marie diz com um sentimento de tristeza, mas o choro não está mais lá, consigo sentir que ela se tornou muito forte, minha menina já tá bem grande, natural afinal já tem 14 anos.
- vê se não morre mano - Bart quebra toda a melancolia do momento com esse comentário, percebo-o tentando segurar a tristeza pelo menos nisso ele mostra sua idade afinal com 10 anos e necessário sentir as felicidades e dores.
- EU VOU ESTAR MUITO MAIS FORTE QUANDO VOCE VOLTAR IRMÃO, VOU TE QUEBRAR TODO!!!!- meus ouvidos tremem após os gritos de Ayo essa criança realmente transparece os cinco anos que ele tem, sua inocência e inspiradora, infelizmente fico muito triste pois seu grito não escondeu sua tristeza, consegui sentir sua dor...
- Crianças, na minha casa, tem algumas coisas, se divirtam, saibam que precisam formatar os dois notebook's essa vai ser a minha primeira lição, divisão... Não se esqueçam seu irmão ama vocês... agora vou indo, preciso pegar o avião, dêem um beijo na mãe - termino meu discurso e me despeço, não demoro muito por que eu sei que se eu continuar posso até mesmo desistir.
De frente a minha poltrona vejo a janela com certeza eu vou manter isso fechado, para o meu bem e de quem se sentar ao meu lado, guardo minha mochila em cima.

Na verdade nem precisa ne.

Sento com a caixa da Kurama no meu colo, dou a ela o brinquedo que tinha guardado na minha mochila e peguei anteriormente, ela parece ter gostado.
Pego o celular e começo a analisar meu Instagram, passo de foto em foto, cada memória, cada pequena lembrança, cada amigo...

Não deixe para depois, faça logo.

Abro as configurações e excluo meu Instagram, desinstalo o aplicativo.

País novo vida nova né pai.

Coloco funk para tocar e coloco o fone no volume máximo, espero que quem fique do meu lado goste por que vai ouvir isso o caminho todo.
Pego meu coquetel de remédios que gentilmente apelidei de drogaria, separo os três principais e os engulo, pronto, irei sobreviver mais um dia.
anoto o horário em meu celular, são 10:27 PM.
Me deparo com uma aeromoça explicando os detalhes do vôo, sinceramente me seguro para não dormir, mas assim que ela termina a explicação eu desabo sem nem perceber quem teria sentado ao meu lado. Espero só acordar no Pacífico...
São 12 horas de viagem, pretendo dormir pelo menos oito, vai me ajudar...

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