A saída - Parte 2

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Sou pequeno, muito pequeno
Meu pai está me segurando de um lado
Minha mãe me segura do outro
Ambos estão gritando um com o outro
Eles me soltam
Continuo andando
Começo a chorar
Eles não percebem, continuam se degradar
Minhas lágrimas já não param mais
Olho para trás e não os vejo
O som de uma arma
Um estrondo forte que estremece meus tímpanos
Me viro, tento encontrá-los
Volto correndo, caio
Xingo minhas pernas
Levanto e corro de novo
Malditas lágrimas que não param
Finalmente os vejo
Minha mãe ajoelhada
O meu pai deitado
Sua camisa vermelha
Igual a minha
Não entendo e meu coração bate forte
Sua camisa não era vermelha
Era branca
Minha mãe chora
Chora muito, mais até que eu
Não entendo... Chego perto
Grito muito
Meu pai não responde
minha mãe continua a chorar
Uma fumaça sai dele
Entra em mim
Agora eu vejo
O buraco no seu peito
E a sua camisa cheia de sangue
Olho a lua
Sangrando em tom carmesin
A chuva ganha cor
Vermelho sangue
Sangue de meu pai
Olho minhas mãos
Cheias de sangue
Elas não são mais de criança
São de adulto
Olho na poça de sangue e vejo a imagem
Não sou mais eu
Neste momento sou meu pai.

acordo assustado, estou soando frio, enquanto todos estão dormindo e tendo seus sonhos lindos eu estou aqui, tendo um pesadelo distorcido do meu passado fodido.

Eu me tornar o meu pai, por favor né , por isso tomo meus remédios.

Lembro-me de olhar no relógio são exatamente 4:50 da manhã.

Devo estar no Pacífico agora.

minha curiosidade me faz abrir o meu celular para ver onde estou, realmente estou bem em cima do oceano Pacífico.
Vejo que recebi várias mensagens entre elas tem uma de Isadora LeFay, minha chefe na empresa nova, apago as outras apenas olhando para suas fotos e esquecendo quem são.

Se fodam seus filhos da puta.

Vejo que a mensagem dela se trata de avisar que a minha casa em Londres já está pronta e que ela irá me buscar no aeroporto pessoalmente, me pergunta que horas eu chegaria em Londres, me pergunto que horas eu chegaria,olho no celular e vejo que chegarei às 10 horas da manhã, no horário inglês chegaria às 13 horas, faço uma nota mental para parar de pensar em horário brasileiro, eu moro em Londres agora. Pergunto sobre a casa, sem esperanças de receber uma resposta em tempo hábil, me pergunto o por que ela foi tão longe para me contratar, chegou a me oferecer um apartamento perto do trabalho, entendo que sua empresa e terrivelmente rica e que eu sou muito bom no que faço, mas eu não sou nem o décimo melhor programador do mundo, oferecer tanto pelo 15° lugar na competição mundial e estranho.

Você sabe que perdeu aquele campeonato por que todos os outros competidores eram ricos e brancos e além disso você estava sem seus remédios.

Afasto o pensamento rapidamente, não vou dar desculpas pros meus erros, vou acertar, concertar, se ela ofereceu tanto por mim, eu vou prová-la que valo isso, ou até mais.
Retiro Kurama da caixa, ele está levemente agitado e comeco a brincar com ele, ele quase joga meu celular no chão de ciúmes, lembro de guarda-los, Kurama e de muito ciumento. Desde que começou a ter intimidade comigo se tornou assim, não consegue me ver com algo na mão que dá cabeçadas, e extremamente possessivo.
Conheci Kurama quando estava voltando da faculdade, eram onze horas da noite e estava chovendo muito na estrada, eu vinha devagar, afinal estava prezando pela minha vida e no fundo, não queria chegar em casa com minha família ainda acordada, passando por uma estrada rodeada por um matagal eu vejo um par de luz brilhando no escuro, com minha curiosidade suicida cheguei perto, Kurama estava na chuva com os olhos brilhando enquanto defendia um rato morto, a conexão foi imediata, olhando para seus olhos vermelhos eu senti uma conexão maior com aquele felino do que qualquer outro humano em toda a minha vida. Nossa relação nao foi muito fácil de primeira, na verdade foi bem conturbada, me lembro de acordar de madrugada com ele me arranhando ou mordendo, porém um gato feral necessita do seu próprio tempo, só acho que seis meses e meio demais para ele me considerar da família, vulgo me dar um rato morto, eu amo esse gato.
Após mais de 40 minutos brincando com Kurama eu percebo que tem alguém me vigiando pela fresta entre as cadeiras, fico levemente curioso, mas após perceber que se trata de uma garotinha curiosa com Kurama fico mais relaxado.
- Seu nome e Kurama, e um gato feral, muito bonito não e?-
Kurama solta um miado extremamente agressivo, no mínimo tentando intimidar a criança, seu aviso é não chegue perto do meu pai, ou irmão.
-Ele e laranja, e tem olhos vermelhos-

Olha ela sabe enxergar né .

Eu afasto meu pensamento ignorante e totalmente sem graça e acrescento.
- Além disso, ele também tem nove caudas, essa na verdade e a forma mais calma dele, se ele fica nervoso se torna uma raposa gigantesca e destrói tudo-
Após ouvir isso a menina simplesmente esboça uma "Uau!!" E se vira pra frente, mas volta pra perguntar se eu gosto dele.

Caramba, essa daí e inteligente hein.

- Na verdade, ele e o único ser vivo que eu me importo atualmente, não sei o que faria sem ele, então sim, eu amo muito ele-
Acho que nunca falei tão bonito em relação a ele, mas fico feliz, e uma boa sensação que esse carinha me dá. A garota me recompensa com um sorriso gigantesco e fala com a mãe que está basicamente eu seu 24° sono que quer um gato laranja.
O resto do voo e facilmente resumido com tomar remédio mais duas vezes, ouvir música, brincar com Kurama, pensar sobre o novo lugar, vou morar num apartamento consideravelmente perto do centro cerca de 25 minutos do meu trabalho, obrigado Google maps e no final de tudo, mais sono, preciso descansar tenho muitas coisas para fazer ainda.
As 15:42 no horário de Londres somos avisados que estamos sobrevoando a cidade capital da Inglaterra, a aeromoça apresenta as instruções para um pouso suave, avisa que em Londres está no inverno e que e recomendável o uso de agasalhos para o frio, porém não consigo sequer prestar atenção no que ela diz, naquela pequena janela de avião numa poltrona econômica a vista de Londres e linda.
Pousamos as 16:03, e me pergunto se já avisei a senhora LeFay, me tranquilizo ao checar e perceber que já a avisei e ela tem a minha passagem e tem noção do horário ao qual eu chegarei a cidade, talvez ela até mesmo já esteja me esperando no aeroporto, fico novamente me perguntando se faz algum tipo de sentido ela ir me buscar pessoalmente, tento e muito encontrar uma resposta plausível mas encerro o assunto pensando que ela só e uma presidente de empresa grande que se preocupa muito com sua jovem estrela recém adquirida de uma competição de programação internacional.

Ou talvez ela seja uma cafetina e esteja tentando te levar de novo pra essa vida de luxúria.

Paro esse pensamento na mesma hora não e possível, chequei a empresa, ela existe, a senhora LeFay também, não fiz merda.

Tem certeza, você sempre faz merda meu pai, sempre, merda atrás de merda, você está indo para outro país por causa disso.

Irritado com minha mente pego minha bolsa de remédio e tiro de dentro dela meu remédio mais importante o co-cp3h4.

E difícil pensar não e meu parceiro e triste ser a voz na sua cabeça, a sua voz.

Bom, vamos te fazer calar a boca animal.

Bom até mais, boa sorte no novo pais.

Assim que enfio o remédio na boca e o engulo sou tomado por uma calmaria, minha mente... calma, sem nenhum pensamento, exatamente como eu quero.
Todo o processo de desembarque corre naturalmente e sem nenhum problema, não sou pego pela imigração inglesa, se fosse pego também seria tudo normal, tenho em mãos apenas documentos e estou aqui para trabalho, e talvez a minha chefa milionária esteja me esperando lá fora.
London City Airport, sinceramente e lindo, em certos pontos se parece com os aeroportos do Rio e dos E.U.A, porém tem o seu brilho inglês bem aparente.

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