One-shot: Assuntos Pendentes

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   Sasuke tinha um problema. Sabe aquele tipo de problema de matemática que apenas não faz sentido e que você, provavelmente, nunca vai usar na vida? Não era desse tipo. Ele bem que gostaria que fosse, mas, infelizmente, o seu problema tinha nome e sobrenome e, por uma grande sacanagem do destino, também tinha um irmão mais velho, o qual Sasuke chamava de melhor amigo.

Ele estava tranquilo, calado na sua como sempre, sentado em frente a televisão, esperando que Naruto voltasse do quarto para onde correu para atender uma ligação. Era verão e estava um calor infernal em Konoha. Do tipo que não era suportável sem pelo menos um ventilador ligado e as portas e janelas escancaradas. E foi de uma dessas portas, a da frente, que o problema de Sasuke adentrou a sala em direção à cozinha.

Sakura era quase três anos mais nova que ele. Cerca de 15 centímetros mais baixa, mas completamente seu inferno pessoal. Ela cruzou o cômodo sem de fato vê-lo no sofá, mas assim que os olhos verdes desviaram da tela do celular e encontraram os seus, ela sorriu para ele, o cumprimentando gentilmente. Parecia um anjo, se não fosse o próprio demônio.

Sasuke apenas acenou de volta sem falar nada. Não o entendam mal. Sasuke e Sakura eram bons amigos. E era exatamente isso que o frustrava. Eram

amigos. Eles cresceram juntos por terem frequentado a mesma escola e convivido com os mesmos amigos e Sasuke poderia jurar que todo carinho que sentia por ela era fraternal. Até um belo dia em que simplesmente passou a não ser mais.

Há dois anos, quando seus pais avisaram que iriam se casar de novo, não tinha nada na face da Terra que acalmaria o ânimo dos irmãos Uzumaki. Enquanto Sasuke e Itachi não aguentavam mais ouvir falar dos preparativos dentro da própria casa, Sakura e Naruto estavam tão empolgados que até parecia que o casamento ia ser de ambos. Por serem amigos de infância, toda a família Uzumaki foi convidada e Sasuke fez questão de se arrumar na casa deles. Se Dona Mikoto já andava estressada por causa dos preparativos, assim que visse o caçula dos Uchihas se arrumando, com certeza o engomaria até os dedos do pé. E Sasuke não estava afim de parecer um mauricinho. Pobre Itachi que decidiu ficar.

Foi quando estava praticamente pronto, apenas faltava vestir o paletó, que Sasuke escutou alguém descendo as escadas. Ou quase isso. Sakura corria escada abaixo, parecendo um furacão enquanto carregava os saltos em uma mão, os brincos em outra e equilibrava o celular entre a orelha e o ombro. Enquanto ainda respondia a amiga no telefone sobre onde seria o evento, ela pareceu perguntar só com os lábios onde estaria o irmão. Ele apenas deu de ombros e segurou o riso vendo ela largar os saltos em um canto e tentar, sem sucesso, colocar os brincos.

Ela suspirou e o olhou irritada acenando para que ele se aproximasse e a ajudasse. Caminhou até ela e ficou levemente surpreso quando, espontaneamente, se virou de costas expondo o zíper ainda aberto do vestido. Sasuke respirou fundo vendo-a puxar os cabelos para frente e, então, ele uniu os dois lados do tecido com uma mão enquanto subia o zíper com a outra. Tudo teria seguido bem, se não fosse os dedos dele roçando na linha da coluna dela e o arrepio que se seguiu. Ele ouviu ela tropeçar nas palavras e de repente o clima que antes era divertido, ficou muito mais denso.

Ele contornou-a, agora de frente para ela e pegou os brincos de sua mão. Depois de colocar em uma orelha, estranhou como a tão falante Sakura Uzumaki, estava apenas resmungando palavras curtas ao telefone enquanto fitava a gravata dele, como se estivesse se controlando para não olhar para nenhum outro lugar.

Ela trocou o celular de mão para deixar a outra orelha livre. Sasuke ergueu o queixo dela com os dedos, pois precisava de um pouco de luz para encontrar o furo dessa vez. Se pudesse voltar no tempo, ele teria ido procurar Naruto assim que ela perguntou onde ele estava. Se soubesse que por causa de um momento, por um único olhar dela em seguida, teria perdido seu coração para aquela garota, ele teria se avisado, teria mandado se afastar dela o mais rápido possível, antes que fosse tarde demais. Mas agora, já era tarde demais.

Sol da meia-noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora