Expectativas

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O mesmo bar, a mesma mesa, o mesmo horário da mesma noite. Era esse o tempo de fuga de cada um que estava sentado naquela confraternização depois de uma semana tão carregada. As risadas flutuavam de nossas bocas e o álcool deixou tudo mais leve: tirou a preocupação da faculdade, do trabalho e da rotina que por vezes tornava-se tão cansativa e metódica.

Já gravamos na mente que a terceira sexta feira do mês era somente nossa. Da gente, amigos que realmente estavam um ao lado do outro em todas as horas. Amigos que eram irmãos, pais e mães. Amigos que brigavam e discutiam na infantil tentativa de colocar juízo um no outro.

Eu, naquele momento, só desejava esquecer os meus problemas e principalmente esquecer ele que se destacava entre os maiores de todos nos últimos meses. E até achei que conseguiria se a vibração no meu bolso não iniciasse para minha desconcentração.

— Você não vai atendê-lo! – Censurou Kun que se encontrava abraçado comigo na mesa.

— Não irei. – Risos – A noite é somente nossa Kun!

Seus olhos me interrogaram em silêncio daquela maneira desacreditada que me feria tanto ao mostrar o quanto eu era fraco.

— Não me olhe assim...

Qian Kun que já não mais utilizava de uma expressão feliz, de maneira muito ágil, enfiou sua mão em meu bolso e raptou meu aparelho.

— Sim, a noite será somente nossa mesmo! – O chinês balançou o smartphone no ar e o escondeu em sua jaqueta de couro.

Revirei os olhos numa risada forçada e os outros aplaudiram enquanto gritavam na mesa a minha rendição.

— Sempre é assim, daqui a pouco ele vai aparecer aqui como "quem não quer nada" e vai roubar você da gente. - YangYang olhava desafiador de um "saco cheio" relembrando o roteiro que ultimamente nossos encontros estavam tomando.

— Ele te liga, faz cu doce, você fica com pena, dá uma de Juniper Lee e some. Isso é um saco! – Xiao Dejun começava a ficar alterado. – Aquele babaca não quer te assumir, mas fica igual uma mosca em sua volta!

— Eu tenho vontade de dar um murro naquele poste de merda, não sei o que esses garotos enxergam nele! – Kun satirizava – Eu quero saber o que você viu nele Hendery!

Aquilo foi a deixa para eles começarem a reclamar e jogar na minha cara tudo o que eu sempre fazia em nossos encontros, e o motivo do meu aborrecimento era saber que cada palavra era uma verdade sólida das minhas atitudes ultimamente.

Virei uns três copos de cerveja enquanto eles falavam, de um lado, era até engraçado. Eu via naquelas reclamações uma mistura de preocupação, cuidado e medo. No fim eles só desejavam o meu bem.

No entanto, eu só ficava bem ao lado daqueles quase dois metros de altura, daquele sorriso malicioso com duplo sentido, somente quando seus olhos me fitavam com atenção. Meu bem estar era quando de alguma maneira, mesmo quando ele nem percebia, eu cuidava de cada parte da sua composição.

Yukhei era aquele tipo de pessoa por quem você se atraia de uma maneira irreversível e não há forças competentes no universo para desligar tal conexão.

Diante disso, não pensei duas vezes em pegar novamente meu celular quando Kun, já um pouco embriagado, deixou sua jaqueta sobre a cadeira e foi ao banheiro do bar. Os meus dedos ansiosos deslizavam pela tela rapidamente, desbloqueando o aparelho. Yukhei poderia estar precisando de mim, poderia ter acontecido algo com ele, e eu disse que estaria sempre pronto para ajudá-lo.

Tudo ao redor parou, a música eu não ouvia mais, a conversa dos clientes no bar sumiu instantaneamente, nem YangYang que ria totalmente bêbado nos braços de Winwin ganhou peso da minha atenção. Esse efeito paralisante do espaço tempo só acontecia quando Yukhei surgia em meu caminho de alguma maneira.

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