A paciente do quarto 49

128 0 0
                                    


Este foi talvez meu primeiro conto de horror. Estava muito impactado por alguns eventos em minha vida, e então houve o convite para a coletânea Insanidade, da Skull Editora. Para minha surpresa, de alguma forma ele foi selecionado para compor a Antologia. Após publicado, houve até algumas tratativas para fazer ir para as telinhas. Ainda pode acontecer.

Acompanhe a história de Isadora Klein, paciente de apenas 16 anos em um manicômio perdido nos confins do Acre. Mas não se assuste se cruzar com pequenas Isadoras da vida real. Elas estão por aí, só esperando encontrar alguém que precise ser punido por suas trapaças.

Dr. Felipe abriu a pasta, leu e murmurou:

— Isadora Klein, 16 anos. Chegou hoje.

Um caso típico. Seus pais relatavam que, desde pequena, a menina dizia ouvir coisas e se sentir perseguida. Acordava à noite aos gritos, pedindo para que sua mãe não a deixasse só.

Uma semana atrás ela sumiu. Seus pais a procuraram por toda a casa e a mãe a encontrou debaixo da escada, sentada e abraçada aos joelhos. Ela chorava muito, e quando a mãe se abaixou ao seu lado e perguntou o que estava acontecendo, Isadora gaguejou e murmurou, entre lágrimas e soluços, que o quarto estava em chamas. Então, seus pais finalmente decidiram pedir ajuda ao Sanatório Santa Dimpna.

Felipe se dirigiu ao quarto 49 e olhou firmemente para a fechadura. Em seguida, pediu para a enfermeira destravar a porta e entrou.

No quarto havia apenas a cama sem cantos agudos, um travesseiro macio e um pequeno armário sem fechaduras. Ao lado da cama, uma pequena mesinha de tampo arredondado, com uma bíblia e um copo plástico para água.

Isadora estava de pé, ao lado da janela.

A adolescente era franzina e muito diferente dos moradores do Norte do país. Longilínea e magra, com a pele muito branca, trazia o rosto adornado por belíssimos olhos azuis e lindos cabelos loiros.

Felipe sorriu.

— Oi – cumprimentou.

A menina abaixou a cabeça, envergonhada.

Felipe se aproximou calmamente, segurando a pasta com as duas mãos à frente do corpo.

— Sou o Doutor Felipe. Qual seu nome?

Isadora ergueu os olhos e encarou o médico.

— Isadora.

— Nome bonito. Aliás, você também é muito bonita.

Ela ruborizou.

— Bem, Isadora... Agora eu vou sair, mas logo volto. A enfermeira vai te dar um remédio e você vai se sentir muito melhor, tudo bem? Em um mês você já poderá sair daqui.

Isadora balançou a cabeça, assustada. Felipe sorriu e virou-se, dirigindo-se à porta. A enfermeira já o esperava.

— Uma dose diária de risperidona. E me informe qualquer evento que ocorrer. – Felipe disse isso ao mesmo tempo em que dirigia seu olhar para o decote da enfermeira.

A enfermeira anotou na planilha, logo erguendo o olhar para o médico, que retribuiu com um sorriso.

— Os 10% de praxe? – perguntou.

— Ah, sim. Temos que garantir nosso Veuve Clicquot, não?

A enfermeira mordeu os lábios e sorriu. Felipe continuou seus afazeres e, ao final da tarde, voltou à sua casa.

A porta da frente logo abriu-se, e Josefa o cumprimentou assim que ele pisou no primeiro degrau.

— Boa tarde, doutor Felipe! Já fiz seu café sem açúcar e preparei aqueles pãezinhos de leite que o senhor tanto gosta! A patroa que não tá muito boa não, ô minha santinha...

Contos para Ler a Sós em Uma Noite TempestuosaOnde histórias criam vida. Descubra agora