O Frappuccino

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        Eu trabalho em uma Cafeteria, e tem essa garota que vem aqui desde que a loja abriu. Lembro-me da primeira vez que ela veio - ela passou pela porta e olhou os arredores por um instante, então ela veio para o balcão e disse:

 - Eu quero um... ahm... O que você me recomenda? - Olhando pra mim, um pouco tímida.

            Eu sorri e respondi:

 - Bom... É meio caro, mas eu recomendo o Frappuccino de Nutella, é muito bom.

          Ela pediu um, e enquanto eu fazia me sentia esquisito.  Ela olhava pra mim com um rosto sério que eu não era capaz de desvendar, mas quando eu retornava seu olhar ela sorria de um jeito que me sentia forçado a sorrir de volta. Então terminei de fazer a bebida e entreguei pra ela. Sorrindo, ela foi para porta, acenou para mim e disse "Me chamo Ingrid, obrigado, até mais".

         As suas visitas se tornaram algo comum, ela simplesmente aparecia e pedia o de sempre, olhando-me com o rosto sério enquanto conversávamos a um balcão de distância. Um dia ela decidiu trazer uma amiga, a Paula, que em suas visitas diárias pedia o mesmo tipo de bebida da Ingrid. O momento que as duas apareciam era a melhor parte do meu dia.

          Porém, depois de um tempo, elas pararam de vir todo o dia, apareciam somente nos fins de semana. Então mudei meu horário de modo que eu me encontrasse com elas quando viessem. Elas já estavam habituadas ao lugar, riam alto, contavam segredos e às vezes até cantavam à música ambiente.

        Certa vez elas me chamaram para cantar junto com elas, eu neguei na hora, mas algumas canções depois e eu não pude resistir. Assim que eu comecei a cantar, elas se calaram. Quando eu terminei, a Ingrid me aplaudiu e disse que eu tinha talento. Ela estava sentada com a Paula a certa distância, mas eu ainda era capaz de ver que ela estava vermelha.

         Elas conversavam muito, a Ingrid reclamava do namorado ciumento e a Paula do divórcio dos pais. Eu nunca disse nada, mas queria contar a elas meus problemas também, pena que me faltava coragem.

      Com o passar do tempo elas começaram a chamar mais amigos para se reunirem na cafeteria. Eles praticamente davam festas lá, mas não de um modo rude. Quando um cliente entrava eles agiam de um modo mais silencioso, e quando meu chefe aparecia eles simplesmente saiam, com Ingrid sempre às costas do grupo, despedindo-se com sua típica frase: "Obrigado, até mais". 

       Um dia ela apareceu no meio da semana, algo incomum. Sem o mesmo sorriso no rosto pediu o de sempre. Enquanto eu fazia o Frappuccino percebi que ela estava chorando. Meio sem jeito perguntei:

   - Tudo bem, Ingrid?

   - Sim, eu tô bem - disse, forçando um sorriso.

           Eu, também forçando um sorriso, entreguei a bebida. Ela andou até a porta bebendo, olhou pra trás e falou "Obrigado, até mais", mas sem a mesma alegria.


                                                                                   ...


         Uma semana se passou, duas semanas, um mês, dois meses... Ela não vinha mais. Talvez estive enjoada de Frappuccino. Eu me senti triste por um tempo, mas depois acabei não ligando mais. Os amigos dela ainda frequentavam o lugar, mas nunca tive coragem de perguntar para eles o que aconteceu com ela.

      Certo dia uma senhora apareceu na loja, ela veio ao balcão para fazer seu pedido para viagem:

   - Eu gostaria de um Fran... Frapu... - Tentava ela, com dificuldade.

O FrappuccinoOnde histórias criam vida. Descubra agora