Prólogo

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Beatriz, 

Estou vindo de um relacionamento complicado e há três anos decidi que aquele seria o último dia que ele bateria em mim... Estava cansada de ficar reclamando da vida e chorando pelos cantos.

Minha dignidade, minha feminilidade, tudo havia ido por água abaixo. E com o passar do tempo descobri que o motivo era o meu próprio casamento.

Sempre sonhei em casar-me na igreja com príncipe encantado e me guardei a ele até que um dia ele chegou. Mas descobri dias depois que não passava de um sapo disfarçado de príncipe.

Enquanto namorávamos estava tudo bem, mas depois de casados ele começou a me trair e quando descobri ele começou a me bater, me agredir e até a me... Não gosto nem de pensar em quantas noites chegou a casa e me fez sua contra minha vontade.

Mas minha religião era contra o divórcio, Deus não havia feito o  matrimonio para a dissolução. Até que um dia ele mesmo pediu o divorcio e se foi. Fui procurada um tempo depois por um advogado com toda documentação para anular o casamento e assim aconteceu. Estava separada e com a anulação em andamento. Ele havia alegado incompatibilidade de gêneros. 

Mas com isso também estava lacrando me coração. Meu coração se fechou de tal forma que não consegui sair de casa nem ao menos para ir à casa de Deus.

Ele havia me prometido um homem bom. Eu que sempre fui fiel às obras dele e cheguei a ser uma das melhores vozes que havia no coro da Igreja. Mas ele me abandonou. Simplesmente virou-me as costas no momento em que eu mais precisava dele. Não meu marido... Deus havia me abandonado. 

O Jeito foi eu me enveredar no trabalho para não ficar louca de uma vez. E foi isso que fiz. Mudei de cidade e comecei a trabalhar onde ninguém me conhecia. Onde ninguém saberia que eu era herdeira de um grande patrimônio e onde minha família não se envergonhasse da filha que casou e já estava separada.

Encontrei trabalho em uma fábrica onde precisavam de uma secretária e eu era recém-formada em engenharia de produção não tardei em me candidatar ao cargo. O meu currículo era muito melhor que o que eles pediam, mas como estavam com pressa e eu estava sozinha me candidatando ao cargo, fiquei com o emprego.

A cidade é minúscula. Tudo que acontece na vida de um, a cidade toda fica sabendo. E mesmo depois de alguns meses aqui, e mesmo sendo comunicativa não consegui fazer amizade com quase ninguém.

Hoje de manhã fomos comunicados que haverá mudanças na empresa e tive que ter uma reunião com meu chefe. Incrível, ele sempre deixa para vir a fábrica quando não estamos e deixa tudo que precisamos fazer escrito.

Ouvi comentários de algumas meninas que trabalham aqui que ele é arredio, a ovelha negra da família. E que tem uma deficiência na perna, como se isso fosse parte do caráter da pessoa.

Ele tem uma assistente pessoal que é quem toma conta de todos os empregados pra que ele não tenha que ficar de pé por muito tempo. Bruna é o nome dela e não devem ter mais de uns vinte seis anos. Quando me chamou hoje pela manhã disse que era importante e marcou essa reunião.

Quando bati a porta e entrei ela estava sentada a cadeira de frente para a mesa e me entendeu a mão para que ocupasse a outra cadeira. A cadeira da presidência estava virada para trás de forma que não conseguia ver o rosto do chefe, somente uma de suas mãos.

- Beatriz. - Ela segurava vários documentos. Te chamam de Bia? - Ela começou muito simpática.

- Chamavam... Não chamam mais. Depois que cresci meus pais acharam melhor me chamarem de Beatriz, mas não me importa que me chamem Bia. - Eu estava falando mais que o comum. Sinal que estava nervosa. - Ele se revirou na cadeira ainda de costas e eu soube que era momento de me calar.

- Então Bia. Ninguém na empresa sabe sobre o que vou te falar agora. E você só saberá por que temos um acordo a lhe propor. Em sua ficha pessoal diz que você já foi casada não tem filhos. - Ela estava com o documento em mãos, não havia como mentir. Mas um sentimento estranho tomou conta de mim. E eu me odiei por ter colocado tantas informações no currículo. 

- Sim. - Era doloroso ainda falar sobre isso. Não disse mais nada.

- Então Bia, o  Arthur. - Era o dono da empresa,  o nome dele estava em todos os documentos. - Estamos com problema de família e precisamos de alguém que nos ajude. - Ela colocou o papel sobre a mesa. - Arthur pode se virar? - Depois fez uma cara de desanimo. 

- E no que eu poderia ajuda-los?

- Precisamos de alguém que se passe por esposa do meu irmão por dois anos.

Agora não sei por que de uma hora para outra eu fique sem voz.  O que eles queriam? Que eu saísse por aí procurando uma esposa para um homem que era inválido?

- E você acha que posso ajuda-los a encontrar essa pessoa? Como? Quer que eu faça uma seleção?

- Não Bia, você não entendeu. Queremos pedir esse favor a você. Que você se passe por esposa dele por dois anos. E assim que esses dois anos se passarem você receberá um pensão e nós a nossa parte da herança que é nossa por direito. Não estamos fazendo nada de errado, só precisamos de ajuda. - Fiquei de pé imediatamente. Tudo o que eu havia passado em meu casamento veio à tona e eu quis sair dali.

Eu mal conhecia o homem. Nunca o tinha visto. Com aquele que eu achava conhecer, havia sido um inferno e agora... Agora isso. Seria Deus me colocando à prova? Não... Ele não se importava mais comigo. 

- Eu... Eu... - As palavras não saiam. - Não sei o que dizer.

- Não terá que existir nada entre vocês. Só precisará morar na casa, onde terá seu quarto. Só para manter as aparências. Mas se não puder vamos entender e só te pedir sigilo sobre isso.

-Eu posso pen...pensar. - Disse trêmula. Nunca no trabalho haviam me pedido algo que eu tivesse dito não. Mas nada havia sido nesse nível. 

- Claro. Só que estamos correndo contra o tempo. Para que não suspeitem de nada, precisamos agir no tempo certo, e o casamento teria que ser esse fim de semana.

- Mas esse fim de semana, eu tenho compromisso. - Ela me olhava questionadora. - Eu prometi as meninas que iria sair com elas. Porque esse tempo todo que estou aqui não tenho nenhuma amiga. 

- Será no sábado ou no domingo?

- No sábado à noite.

- Então será ótimo. Caso aceite poderá dizer que é sua despedida de solteiro já que se casará no domingo com o Arthur. - Minhas pernas tremeram. Meu coração disparou e eu me senti cair em um abismo. - Até poderei ir com vocês caso não tenha problemas. Elas poderão saber que sou irmã do Arthur, - Será que já havia me dado essa informação e eu deixei passar despercebida? Irmã? - E  assim se formos investigados pela família teremos muita gente sabendo do casamento.

- Tudo bem, mas eu ainda não sei se... - Ele se virou e minha vontade foi de dizer sim no mesmo momento. Era lindo. Mesmo que tendo uma cicatriz na face do lado esquerdo. Por que não arrumava uma noiva por si mesmo. E sua deficiência... Qual era? Será que falavam que era deficiente só pela cicatriz? Ela não afetava em nada sua beleza. 

- Não temos muito tempo como minha irmã disse. - Ele disse irritado. - Se é dinheiro que lhe interessa diga seu preço.

- Arthur... A Bia não é assim... Estamos em negociação e seu mau humor não irá nos ajudar em nada.

Eu estava tremendo agora. Como viveria sobre o mesmo teto que esse mal agradecido? A irmã tentando ajudar e, eu... Eu era sua chance e ele querendo ainda exigir.

Coloquei a mão sobre a maçaneta quando a Bruna suplicou. 

- Bia... Faça esse favor por mim. - De alguma forma há muito tempo ninguém me pedia nada de importante assim. Desde que abandonei meus amigos, e todos que me conheciam. Principalmente desde que Deus havia me abandonado! E eu fazia tudo por ele. Agora tinha uma oportunidade. 


Segunda Chance - Em ti me encontreiOnde histórias criam vida. Descubra agora