CAPÍTULO XVI

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Assim que o sol nasceu saímos em disparada para a tal caverna com os ossos de fadas, o sol brilhava acima de nossas cabeças enquanto calvalgamos com o vento soltando forte, as árvores balançavam de um lado para o outro e algumas folhas se desprendiam de seus galhos e caíam sobre nós, o céu estava escuro e trovões ecooavam pela densa floresta, estava ficando difícil continuar cavalgando.
Relâmpagos explodiam acima de nós, os animais agitados corriam por todo lado, uma tempestade estava de aproximando, não tínhamos abrigo e nem pretendíamos parar, tínhamos uma missão, iríamos até o fim, aquela tempestade não iria nos parar, mas não ia mesmo.
Eles não sabiam o quanto minha vida dependia daquilo, eu seria a próxima se tudo isso não acabasse logo, mas não queria contar, não queria pressiona-los , não queria. Parecia que a morte estava sempre atrás de mim, desde pequena sentia a morte próxima a mim, primeiro quando quase me afoguei em um lago num dia quente de verão quando eu tinha cinco ou seis anos de idade, depois quando eu tinha doze anos comi por acidente uma planta venenosa e minha mãe me curou  ( hoje entendo como ela conseguiu), no meu aniversário de quinze anos um coiote me perseguiu nas beiradas do rio onde fui capturada, alguns meses depois cai de uma árvore e fiquei  desacordada por três semanas e por fim, quando eu tinha dezessete anos um outro coiote me persegiu e me fez cair de um desfiladeiro, bati a cabeça e perdi a memória, só a recuperei dois meses depois.
Depois veio tudo o que passei em Eldar com Cedrick, não há como negar, a morte não vai descansar até me pegar, e ela está um passo a minha frente, a menos é claro, que consigamos matar o Nortis.
Um raio caiu em um Pinheiro bem ao nosso lado, os cavalos se assustaram com o barulho estrondoso e a luz ofuscante, meu cavalo me derruba no chão e sai em disparada para dentro da floresta, minhas costas se chocam com o chão com força me fazendo gritar de dor, minha mão estava virada para o lado contrário e eu sentia uma dor absurda, não conseguia me levantar, não conseguia me mecher, um simples piscar de olhos era doloroso.
A chuva grossa e gelada começou a cair deixando todos nos enxarcados, Athanansi me ajudou a sentar e escorar em uma árvore enquanto Ronan analisava minha mão torcida.
- Está quebrada? - Pergunto com os olhos ainda fechados, a dor era horrível.
- Não, isso é bom. Preciso colocar ela no lugar. - Ronan diz nervoso.
Abro os olhos e vejo o estado horrível da minha mão, Ronan prendia seu cabelo em um coque enquanto Lexia e Melissa procuravam por faixas de pressão para enfaixar meu pulso. Celestia trouxe um enorme pedaço de pano amassado em uma espécie de bola e colocou na minha boca, as minhas lágrimas se misturaram com a chuva, Celestia segurou minha outra mão e acariciou meus cabelos enquanto sussurava palavras de encorajamento para mim.
Ronan levantou meu braço e o colocou em sua perna.
- Pronta? - Eu afirmo com a cabeça - No três - Aperto os olhos e espero ele contar - Um... dois... Três.
Ele vira minha mão com toda força que tinha, meu grito é abafado pelos panos, e as lágrimas de dor escorrem pelo meu rosto, meus olhos estavam cerrados e eu tremia com o frio.
Graças a magia de Ronan a dor foi passando, mas ainda precisei usar as faixas de pressão para deixar o osso no lugar certo. Tentei o usar meu arco e flecha para garantir que ainda poderia ajudar, mas minhas mãos estavam trêmulas demais, eu não tinha mais a força que era necessária, mas consegui acertar um alvo. Era tudo o que eu precisava, acertar uma única vez.

                          《 ♤》

Seguimos viagem, eu tive que ir no cavalo com Ronan, já que ninguém consegiu achar aquele maldito cavalo.
A chuva ficou mais fina mas não menos gelada, o vento não parou nos deixando com ainda mais frio, como eu queria estar perto do livro e não estar sentindo nada.
Olhei para cima e deixei as gotas de água caírem em meu rosto, eu estava ficando ótima em não sentir nada, afinal não havia motivos para que eu sentisse alguma coisa.
Felicidade? Não era e nunca foi minha amiga.
Medo? Não iria mais me afetar.
Raiva? Não sobrou ninguém para que eu me zangasse.
Vergonha? Eu a ignorei até que por fim ela sumiu.
Amor? Eu não sentia... me perguntava  toda santa hora o que eu sentia por Ronan, mas meu coração não acelerava mais como antes, não me sentia nervosa ao vê-lo sorrir e não me sentia feliz depois de passarmos uma noite juntos,mas também não suportava o fato de viver sem ele.
Depois perguntava a mim mesma... Se eu não sinto mais nada, o que estou sentindo agora?
Vazio....
Eu sentia apenas o vazio, e sentir aquele vazio era pior do que sentir dor e tristeza.
Abracei Ronan por trás na esperança de me sentir um pouco melhor e afastar aqueles pensamentos da minha cabeça.
- Você está bem? - Ele diz passando os dedos gelidos em minhas mãos.
- Dói um pouquinho, mas está passando.
- Ótimo. Falta pouco para chegarmos Tali - ele faz uma breve pausa-  vamos voltar logo para casa.
- Já me imagino com meu vertido de noiva. - Dou um sorriso e me aconchego em suas costas.
- Tem alguma idéia do que quer usar?
- Tenho sim. Mas nem adianta que não vou te contar, quero que seja surpresa.
- E o que vai usar na festa de noivado? - Era tão bom estar conversando sobre isso.
- Pensei em usar um vestido longo, azul bem clarinho, de mangas longas e um decote em formato de V nas costas, com pedrarias em todo vestido, mas não sei quais pedras usar.
- Julgando pelo tom do vestido e pelo modelo, acho que diamantes seria o mais adequado.
Dei um suspiro assustada, usar diamantes em todo vestido?
- Você ficou quieta por que? - Ele dá uma risadinha.
- Eu estava pensando em usar...
- Pedras falsas. - Ele me interrompe - Eu sabia que pensaria nisso. Tali por favor querida, você é a futura governante de Milo, acha mesmo que não irei providenciar diamantes para te encher de cabeça aos pés?
- Não precisa de tanto. Somente uma pedra aqui acolá.
- Não prefere no vestido todo?
Minha ambição tomou conta de mim.
- Sim eu prefiro.
- Então você terá diamantes em todo seu vestido.

A chuva parou, mas o céu continuou escuro e com trovões, não tão altos quanto antes, por fim chegamos a caverna, ela era enorme e escura havia musgo em toda parede do lado de fora e de dentro da caverna saia um som estranho.
Athanasi pegou as tochas e eu as acendi, ele entregou uma para cada um, exceto para mim já que eu usaria o arco e flecha  e então com calma adentramos na caverna.
Velaon ia a frente, seguido por Lexia, Melissa, Celestia, Eu, Athanasi e Ronan, me concentrei no barulho de água no fundo da caverna e continuei andando, tirei o arco das costas e o coloquei a minha frente com a flecha apontada para baixo, a luz não era abundante mas dava para ter uma boa visão do que estava a nossa frente, andamos por quase trinta metros até acharmos uma pilha pequena de ossos e alguns pedaços de assas de fada, mas estava espalhados, com toda certeza havia mais ossos.
Sinto uma magia forte e negra que fez meus ossos tremerem.
- Estão sentindo? - Queria ter certeza de que não era a única que estava sentindo aquilo.
- Sim estamos. - Lexia respondeu.
- Sentindo o quê? - Celestia perguntou.
- É coisa de fada. - Melissa se gabou.
Continuamos andando, uma brisa suave beijou minha pele então eu parei bruscamente.
- Não venta dentro de uma caverna. - Digo em uma voz baixa mas audível.
Todos que estavam com as tochas começaram a iluminar a caverna procurando por aberturas, mas não havia nenhuma.
Um osso sendo partido bem no fundo da caverna foi o suficiente para fisgar nossa atenção, ele estava dentro da caverna, hoje era o dia da sua morte.
Continuamos andando com passos leves para que ele não percebesse que estávamos dentro da caverna, um vento forte apagou todas as tochas e nos deixou no escuro, não dava para enxergar a palma da nossa mão.
- Acenda outra vez Tali. - Athanasi berra.
- Não consigo ver vocês. Como vou acender? - Digo.
- Concentre o fogo na sua mão e vamos ver você. - Velaon diz.
Tento concentrar minha magia na palma da minha mão, mas toda vez que eu acendia o vento apagava, parecia estar brincando comigo, e isso estava me deixando irritada.
- Venham até mim. Conseguem vir apenas pela minha voz? - Pergunto.
- Continue falando. - A voz de Celestia estava distante, ela estava mais afastada que os demais.
- Celestia, onde você esta? - Continuei falando e senti passos vindo até mim - Venham, Venham eu estou aqui, vamos venham, venham, Ve...
Minha voz é interrompida por um grito, um grito de dor, um grito agonizante e agudo. Era Velaon.
- Velaon. - Gritei.
- Seu merda do caralho. - Velaon gritou, ele gritava de dor, mas ninguém sabia onde ele estava e nem o que estava acontecendo.
- O que aconteceu? - Melissa diz com voz de choro
O sol de um osso partindo bem perto de nós me apavora, e foi nesse momento que entendi o que estava acontecendo.
Velaon estava sendo devorado vivo.

O Reino Das FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora