Capítulo Único

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    Minhas mãos tremiam, eu suava frio, mal conseguia escutar os sons ao meu redor as batidas aceleradas do meu coração eram audíveis a passos de distância; já não haviam somente borboletas em meu estômago,  mas toda a fauna conhecida e desconhecida. Ouvi chamarem por mim e voltei a realidade:

 - Lea? Lea!

 - O que eu tinha na cabeça ao escolher um vestido tão pesado?

 - Eu lhe avisei minha filha. - o sorriso doce de minha mãe foi me acalmando aos poucos - As flores chegaram, já estão montando toda a decoração, sabe a que horas o bolo chega?

 - Ótimo, não vejo a hora de estar tudo como planejei. Sobre o bolo, é uma surpresa para todo mundo, mudei algumas coisas.

 - Você e suas ideias, tudo bem. Vou avisar a organização para reservar a mesa do bolo para mais tarde.

 - Te agradeço, mãe.

 - Eu te amo minha filha, você é a noiva mais divina que já vi. - seus olhos lacrimejaram e senti uma lágrima escorrer quando beijou minha bochecha - Espero que seja muito feliz, mais do que eu fui.

 - Você sabe que vou, já conheço todas as versões possíveis de Isaac não há nada mais para me surpreender, a menos que ele seja milionário e não me contou!

 - Não seria exatamente ruim descobrir que seu marido, na verdade, é rico. - rimos juntas em um abraço longo que terminou com um suspiro.

 - Ah, não posso borrar a maquiagem impecável, imagina a noiva chegar toda desengonçada? 

 - Perfeccionista sempre... Tudo bem, vou deixar você se admirar mais um pouco. Mas não chegue muito atrasada. 

 - Sabe que odeio atrasos, mãe. Relaxa, estarei entrando no salão exatamente 18:32. - tive de falar um pouco mais alto pois minha mãe já estava no corredor.

   
   Depois que ela saiu, as palavras noiva e noivo, ficaram ecoando em minha cabeça. Era o grande dia, Isaac e eu planejamos tudo nos mínimos detalhes e nada podia dar errado, esta noite seria perfeita. A noite em que finalmente iniciaremos nossos planos a dois.

    Faltavam apenas 5 minutos para minha entrada, todos os nossos poucos convidados já haviam chego e eu estava definitivamente deslumbrante. Como um soldado se prepara para a guerra, eu estava preparada para acabar com alguns homens e mulheres aquela noite. Estava pronta para descer do carro, quando fui surpreendida com uma ligação da minha mãe:

 - Filha, me desculpe! Não sei o que houve, mas o controle do portão deu pane, perdi minha carona do hotel... Mas eu prometo chegar a tempo para a festa.

 - Ah mãe... Tudo bem, não há muito que possamos fazer, mas não se preocupe.

 - Já chamei ajuda, prometo estar lá!

 - Tudo bem, mãe, sério. Preciso desligar, está na hora.

 - Eu te amo muito minha filha.

 - Eu também te amo.

   
    Pus os pés no chão, poucos metros a frente eu diria o meu sim definitivo e seria a mulher mais realizada do mundo, terei o marido perfeito que me completa em tudo e entende meus desejos mais sórdidos. Ouvi a música triunfante e dei os primeiros passos, a reação dos convidados era prevista e a de Isaac também, seu sorriso e olhar liam cautelosamente a minha mente, pude sentir sua voz ressoando "vamos realizar tudo isso, juntos". E então cheguei em frente ao cerimonialista e meu homem me recebeu com um singelo beijo na testa, como já havíamos ensaiado dezenas de vezes:

 - E sua mãe? - sussurrou em meu ouvido.

 - Tudo como o planejado. - respondi com um leve sorriso que foi retribuído com outro idêntico.

    Os votos foram rápidos e assim que o cerimonial se encerrou  a produção preparou o salão para a festa. Restaram então somente quem queríamos que estivesse, os convidados escolhidos a dedo por mim e meu, finalmente, esposo. Percebi surpresa no olhar de todos ao notar que não haviam garçons quando eu e Isaac distribuímos a bebida. Taças de cristais luxuosas refletiam sorrisos dos que ali estavam, mas com certeza nenhum destes eram mais verdadeiros que os nossos. A cada gole que víamos os presentes ingerirem, a sensação de realização aumentava juntamente com a ansiedade do ápice da festa, a valsa dos noivos.

   

    Assim que as luzes se apagaram, nossa música iniciou e estavam todos vidrados em cada passo que dávamos, minhas bochechas notavelmente avermelhadas e quentes acompanhavam a aceleração de meu coração. Subitamente um dos convidados desmaiou próximo a mim, meu olhar imediatamente foi de encontro com o de Isaac e ali estava o sorriso que mais ansiava em seu rosto, logo em seguida um por um teve o efeito da beladonna e não pude segurar o riso de satisfação ao notar que os  ainda sãos tentavam sair do salão e algumas lunáticas até mesmo a gritar, patéticas, não vêem que é inútil? 

   
     Meu doce cônjuge trouxe, então, a cereja do bolo e minhas mãos já coçavam para empunhar cada uma daquelas lâminas. Ao som de gritos escandalosos de mulheres mesquinhas e a canção mais romântica do mundo, Something dos incomparáveis The Beatles, iniciamos nossa verídica, deliciosa e sanguinária valsa. Sensações borbulhantes e fortes atravessem por todo o meu ser a cada fatia de corpo diferente que as lâminas atravessavam. Parei por alguns segundos e vi meu homem sensualmente cortar o fêmur esquerdo do seu pior amigo da faculdade:

 - Anos aturando sua petulância de merda! Não esperava que a garota mais gostosa do campus não te quisesse, não é? - Isaac urrou e minhas pernas fraquejaram de desejo.

 - Mais alguns cortes desses e não vou resistir antecipar nossa noite de núpcias. - Ele me lançou um olhar excitante que complementou o clima perfeito do ambiente, a meia luz do salão acompanhada pela deliciosa sonoridade da agonização dos patifes pedaços de carne do nosso banquete pessoal exalavam o apetitoso cheiro de sangue que já pintava a impecável decoração em seda branca das mesas. Em um precioso deleite ele me punha em cima de uma das mesas ensanguentadas, a qual fora destinada para algum dos corpos agora retalhado no salão, e em movimentos bruscos, caóticos e deliciosamente libidinosos revezados com mordidas e minhas unhas cravadas em suas costas até sentir o sangue escorrer por meus dedos chegamos ao clímax mais intenso o qual já havia sido proporcionada, o primeiro de muitos de nossa união, digamos que: desatinada. Entre os suspiros e gemidos do pós gozo, sorri à Isaac e fui respondida com um equivalente, seguido por um breve carinho em minha cabeça:

- Qual seria a reação de papai se nos visse assim, não é? Maninha. 

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