Hoje é terça- feira.
Tinha prometido a mim mesma que iria arrumar a bagunça do porão a dias (realmente, não posso mais adiar). Na quinta-feira da semana passada falei que iria arrumar na sexta-feira, e na sexta falei que iria arrumar no sábado e assim foi.Fui até a cozinha e peguei os materiais necessários para deixar tudo organizado e limpo.
Então, desço as escadas que vão até o porão lentamente, com muita preguiça e desânimo.
Pego a chave que está no meu bolso e abro a porta do porão.Rapidamente já sinto o cheiro de mofo e poeira, eu não vinha aqui a séculos.
Lembro me que quando era criança era meu lugar predileto, sempre estava tudo aberto, e entrava sol pelas pequenas janelas.
Eu brincava de esconde- esconde com meu pai, enquanto ele me procurava,
eu estava escondida em uma das caixas grandes onde mamãe guardava suas xícaras de chá importadas da China que ganhou de vovó.Mas depois que mamãe e papai faleceram guardei minhas memórias junto com esse porão, que por muito tempo foi esquecido.
Estou fazendo uma faxina em toda a casa para fazer doações e reciclagens e sei que mamãe e papai guardavam ítens de valor aqui.
Começo a faxina separando as coisas que posso doar do que as que posso reciclar, faço outra fileira com alguns itens que posso vender já que mamãe e papai guardavam muita coisa.Muitas coisas estão em caixas de papelão.
Papai adorava ler, isso explica caixas e caixas de livros.
Devo admitir que uns são muito bons só pelo nome do livro e do nome do autor.
Os livros mais caros da época de 1764, claro papai não vivia nessa época mas é tradição da nossa família de repassar os livros e bens de geração em geração. Eles valorizavam muito a educação e a gramática.Meu bisavô era professor de literatura, e ele não adimitia que ninguém falasse, ou trocasse uma sequer vogal na presença dele. Pode se dizer que era neurótico. Fico imaginando como deve ter sofrido os seus alunos. Porque quando era pequena e tinha mais ou menos um ano e sete meses, ele já gritava comigo e tinha raiva de mim por me embolar com as vogais. Mas mesmo assim eu o amava.
Se eu pudesse agradeceria a ele por ter me cobrado cada segundo, por causa dele hoje que sou uma mulher bem sucedida,
com três doutorados, na verdade não sei nem como consegui tempo para isso.Cada livro guardado nas caixas é mais uma história inigualável.
Vou retirando cada um da caixa limpando com panos para ver seu nome e autor. Romance, drama, comédia, poesia, ação... e diversos outros.
Então estou quase terminando mais uma caixa de livro quando pego em minhas mãos um caderno pequeno. Ele está totalmente empoeirado.
Limpo, e o reconheço.
É meu antigo diário, preto com estrelas brancas brilhantes.Lembro me de quando escrevia nele, por volta dos meus quinze ou desesseis anos.
Começo a ler e começo a relembrar das minhas próprias emoções, eu amava escrever, era como eu conseguia desabafar, nunca gostei de sair contado meus sentimentos para ninguém, nem para mamãe nem para papai.
Meus sentimentos eram tão fortes e tão intensos que cada palavra escrita no diário me davam arrepios ao ler. A maioria eram "poemas".
"Você é o fruto do meu desejo, e não tem nenhum outro momento que não seja você.
Eu lembro daquela noite (como poderia esquecer?).
O vento, o céu e as estrelas.
Era uma noite muito linda, talvez, inagualável.
Era junho, e eu já podia sentir o frio fritar minha pele.
Um leve frio na barriga, ansiosa.Eu cheguei primeiro, e subi cada degrau com um peso em minhas pernas.
Quando cheguei ao topo, você ainda não tinha chegado.
então, me sentei nós degraus, e olhei cada centímetro do céu.
Mechas de meu cabelo voavam na direção do vento, aparecendo mais meu rosto (pelo qual, por muito tempo foi escondido).
Senti sua presença, e lá estava você.
Suas roupas chamativas se destacavam na escuridão.
Você não olhava diretamente para mim, mas quando me viu, logo abaixou a cabeça pela timidez.
09/02/07"
Eram poemas feitos para o ar, para o vento, para a solidão.
No ensino médio eu era uma pessoa solitária não era popular e nem queria ser, eu gostava da solidão, no fundo ela era minha companheira. Gostava de escrever histórias e desenhar.
Gostava de passar um dia inteiro criando histórias na minha cabeça, mas elas nunca seriam contadas a ninguém, pois seria totalmente constrangedor para mim, ou pelo menos eu pensava assim.
Eu até copiava poesias que eu adorava nos livros mais recentes da época, eu me identificava com eles. "ele
prometeu
me consertar
&
me deixou
mais
d e s t r o ç a d a
do que eu era
antes.
-mas agora tenho ouro nas rachaduras.-a princesa salva a si mesma neste livro, Amanda Lovelace
13/08/06"
Penso como minha mente desde pequena era barulhenta. Eu era uma criança muito inteligente, sempre ajudava meus colegas nas matérias que tinham dificuldade.
Lembro vagarosamente de como era totalmente apaixona por um rapaz naquela época. Ele tinha dezessete anos quando eu tinha dezesseis. Éramos "amigos", na verdade estávamos mais para conhecidos, ele era amigo do meu único amigo, totalmente irônico.
Estudamos no mesmo colégio no ensino médio, não éramos colegas, mas sua sala era na frente do banheiro. Lembro- me de pedir licença para meus professores para ir ao banheiro (mesmo estando sem necessidade hehehe) só para dar uma espiada.
Seu sorriso era cativante, e seu olhar penetrava o meu coração.
Me pergunto, onde está você?
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Olá, se não ninguém ver eu apago hahaha :)
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Sopro de um amor
RomanceAnne é uma mulher independente, inteligente, amigável, bela, gentil, e bem educada. Ela dedicou sua vida aos seus estudos, fez faculdades e doutorado. Mas apesar de suas belas características, era uma mulher sozinha, envolvida em um amor do passado.