Não tenho a mínima intenção de explicar como a correspondência que trago a público caiu em minhas mãos.
Nossa raça pode cair em dois erros igualmente graves, mas diametralmente opostos, quanto aos demônios. O primeiro é não acreditar na existência deles. O outro é acreditar que eles existem e sentir um interesse excessivo e doentio por eles. Os demônios ficam igualmente satisfeitos com ambos os erros e saúdam um materialista ou um bruxo com o mesmo prazer. O gênero de escrita usado neste livro pode ser entendido com muita facilidade por qualquer um que já aprendeu essa artimanha; mas pessoas mal-intencionadas ou voláteis, que poderiam fazer mau uso dele, não poderão falar que aprenderam comigo.
Os leitores são aconselhados a lembrar que o diabo é um mentiroso. Nem tudo o que Maldanado diz deve ser tomado como verdadeiro, nem mesmo a partir do seu próprio ponto de vista. Não realizei nenhuma tentativa de identificar quaisquer seres humanos mencionados nas cartas; mas acho muito improvável que as figuras, como as do Rev. Cravo ou da mãe do paciente, sejam completamente plausíveis. Há desejos reprimidos tanto no Inferno, quanto na Terra.
Em suma, devo acrescentar que não foi feito nenhum esforço para verificar a cronologia das cartas. Parece que a de número XVII foi composta antes do início do racionamento mais intenso; mas, em geral, o método diabólico de datação parece não ter relação com o tempo terrestre e nem era minha ideia reproduzi-lo. A história da Guerra na Europa, embora apareça aqui e ali no sentido de afetar a condição espiritual de um ser humano, obviamente não é do interesse de Maldanado.
C.S. LEWIS Magdalen College,5 de julho de 1941