Os livros velhos espalhados pela mesa cheiravam a mofo. As entrelinhas pareciam desgastadas, como se há muito tempo estivesse sendo usada pelos frequentadores daquela pequena biblioteca que guardava livros da antiguidade e suas histórias que falavam de deuses e de um futuro onde carros voavam e cavalos tinham uma velocidade anormal. Patético, não sei por que ainda fico passando minhas tarde de horas vagas aqui.
O meu celular toca, aparecendo a mensagem da minha melhor amiga. Ela avisava sobre uma festa na qual eu não poderia faltar. Eu não era uma excluída socialmente, minha roda de amigos era bastante o suficiente para mim. As festas que eu frequentava tampouco eram extravagantes. Minha melhor amiga Miranda era a única que era em todas as letras, popular. Namorava o jogador de futebol da escola e todos queriam estar ao seu lado. Ela é uma garota incrível, só exagerada demais.
Mando uma mensagem com um apenas ok. Pego minha bolsa e guardo todos os livros velhos sobre suas respectivas prateleiras, dou um tchau para o balconista magricelo e saio da livraria. As ruas estão animadas, o que é natural pra uma quarta-feira de julho. O dia está quente e pessoas vão e vem sobre a calçada. Jogo uma moedinha para o senhor sentado pedindo esmola e sigo até a casa de Miranda.
Ela já me esperava na porta, com os braços cruzados e um sorriso sapeca no rosto ela acena para mim. Seus cabelos castanhos sobre uma trança mal feita lhe dão um aspecto de moça prendada e que não faz coisas erradas, mas é como sempre dizem: as aparências enganam.
- Você estava naquela biblioteca velha? Eca você está fedendo a mofo – ela diz tirando a minha jaqueta e jogando sobre o cesto de guarda-chuvas – Você precisa se arrumar, os garotos do time estarão na festa da Britanny.
- Miranda – faço uma careta – Você deveria ter dito que a festa seria na Britanny, você sabe que ela me odeia por você passar metade do tempo comigo.
- Ela não lhe odeia sua boba – ela me empurra escada a cima, até o seu quarto – Ela só não gosta de você.
(...)
Nunca fui muito de me maquiar e usar vestidos curtos, talvez seja esse o motivo de Miranda ter me dado essa calça jeans que quase faz com que a minha circulação pare. Parece que a cada passo que eu dou a calça parece querer rasgar. A blusa regata também não ajuda. Penteio o meu cabelo e desço junto a Miranda até a varanda de sua casa para esperar com que Brad, seu namorado e astro do futebol, venham nos buscar.
Um farol aparece na esquina e logo dá pra ver a grande picape 4x4 de Brad e sua cor verde florescente. Ele nunca soube o senso do ridículo e talvez nunca aprenda, já que, toda vez que ele muda a pintura de seu carro os tons só pioram. Há duas semanas, a picape era de cor laranja e eu zoei ele de laranja mecânica até que, ele mudou para a cor atual.
- Você está atrasado amor – diz Miranda entrando no passageiro da picape – Já estava com saudade.
- Me poupe de suas melosidades – digo aparecendo entre o meio dos dois – Eu não sou obrigada a isso.
- Georgia – Brad olhou para mim pelo espelho retrovisor – Seja mais delicada com a minha moranguinho.
Ok, talvez eu odeie um pouco a maneira que eles se relacionam. Em realidade, eu odeio todo o tipo de relação desde que meu coração foi quebrado a dois anos atrás pelo garoto que morava ao lado da minha casa. Ele era como a luz do sol para minha tempestade sem fim, Ethan era engraçado e adorava colecionar HQs. Sua alma nerd me incendiava. Mas nem tudo é um mar de rosas, pensava eu que ele era apaixonado por mim, só que em realidade ele só me usava para chegar até Miranda. Depois desse fato, jurei a mim mesma que nunca mais mostraria que sou fraca. Porque amar é demonstrar fraqueza e eu sou tudo, menos fraca.
A casa de Britanny não era muito longe da casa de Miranda e em questão de minutos a picape de Brad estacionou sobre as vagas em frente à mansão que não parava de tocar musicas eletrônicas. Desço da picape em um pulo e sigo meus amigos para dentro da casa.
Há bandeiras da Kirky School por quase todo o lugar. Eles haviam ganhado o campeonato mais importante da temporada. Todos estavam eufóricos e sorridentes. Por cada canto, adolescentes de todos os anos praticavam competições de quem bebe mais. Alguns não aguentavam e acabavam jogando tudo pelos ares. Era uma confusão e uma alegria misturadas.
Vamos até o fundo da casa, onde se encontra a piscina e vejo o resto do pessoal. Aqueles que todos gostariam de serem amigos ou simplesmente respirarem o mesmo ar. Mais ao fundo se encontrava o arrogante e astro do futebol, Anthony. Ele o típico cara mulherengo, que todas as mulheres fazem fila para ficar com ele. Seus dons no futebol não tinham iguais e estava na cara que a sua vaga na faculdade estava confirmada.
Me jogo ao lado de Peter, o meu melhor amigo abaixo de Miranda. Ele era gay e namorava um dos jogadores de futebol, Michel. Só que Michel ainda não tinha saído do armário, por conta da educação rigorosa e homofóbica de seu pai. Ou seja, os dois vivam uma história de amor proibida que só eu e Miranda tínhamos a exclusividade de saber.
- Olá minha querida e doce, Georgia – ele puxa um fio de cabelo meu – Veio apreciar essa fossa junto ao seu amigo?
- Você sabe como Miranda é...
- Não precisa nem dizer, não há como discutir com a insistente Miranda – ele toma um gole de sua bebida e joga sua cabeça para trás.
- O que houve?
- Michel.
O abraço de lado e encosto minha cabeça em seu ombro e continuo a bebericar a minha vodka.
(...)
Já se passava mais de três horas da manhã e meu do meu sexto copo de vodka chegava ao fim. A visão já estava meio turva para continuar a dançar naquela pista de dança improvisada no quintal daquela mansão. Aos tropeços tento chegar até banco próximo às arvores, o mais longe possível dos corpos dançantes daquela festa.
- Festa chata? – uma voz masculina soa ao meu lado e dou um pulo de susto, não havia visto esse garoto ao meu lado.
- Sim – fecho mais os olhos para tentar enxergar a pessoa que esta ao meu lado, porém tudo o que vejo é borrado.
Ele é alto e seu corpo é largo, o seu perfume tomou conta do ar. E era realmente muito bom atrativo demais para o meu corpo bêbado e sedento de afeição. O rapaz ao meu lado percebe a minha ansiedade e se aproxima de mim. Suas mãos vão para minhas costas e puxa contra si, seu hálito tem um aroma de menta misturada com vodka. O rapaz procura pelos meus lábios e finalmente o acha, dando inicio a um beijo quente e cheio de significado. Suas mãos se apertam mais a mim e depois de tanto tempo, sinto a vontade de amar.
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Stay With Me
Roman d'amourAdolescentes inconsequentes? Desejo demais e pensamento de menos? Se entregar demais ou se reprimir demais? A história conta sobre Georgia Craig que não acreditava mais naquele amor verdadeiro de filmes. Sua vida era apenas os livros velhos daquela...