Shorenan - A Humana e o Feiticeiro

2 0 0
                                    


Era tudo um mar amarelo.  E era também uma explosão de prismas flutuantes, iguais estilhaços de vidro. A luz dourada ofuscou meus olhos, e chegou um momento que eu não sabia dizer se estava flutuando em meio a elas, pois meu corpo não tocava absolutamente nada.
Não havia peso, sequer um vestígio de gravidade para me castigar. Lá estava eu, inerte naquele infinito de luz ofuscante,  como se apenas minha consciência existisse, feito um vapor de água  que se dissipa ao toque da brisa.
Eu não senti medo. Sei que deveria, mas não senti.
Os prismas irradiantes navegavam lentamente ao meu redor, movendo-se em espirais que formavam uma dança etérea. Conforme elas giravam, a luz que vinha por trás de mim, semelhante a um farol gigantesco, refletia em seus ângulos pontiagudos e fazia emergir os mais belos arco-íris que minha curta vida já havia presenciado.
Estou morrendo.
Eu não tinha nenhuma prova concreta, mas meu coração sabia que uma vida real jamais suportaria uma leveza tão aprazível. A ideia da morte chegou a mim como um abraço envolvente, cautelosa e delicada demais para não me espantar. Tive a sensação de estar sorrindo, e foi como se os cantos de minha boca escorressem pela imensidão dourada. Por um instante, desejei aquele momento para sempre. A morte estava sendo o melhor momento da minha vida.
Siga as estrelas! - Você me disse. - Siga as estrelas!
Eu obedeci e assim descobri a eternidade.

Shorenan - A Humana e o FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora