Last Kiss

Nirvana

Em especial a Lidiread.

Mmm

Seus olhos estavam pesados, mas Mew pode sentir o toque quente e familiar em sua orelha esquerda.

Alguém soprou seu rosto e ele sentiu um hálito mentolado contra sua pele.

Ele queria manter seus olhos bem fechados, todo aquele ambiente e sensações lembravam a época que Gulf e ele eram casados.

Gulf normalmente o acordava assim, a sensação era realmente a mesma daquela época. Seu coração doeu, sabendo que aquilo provavelmente era só seu cérebro lhe pregando mais uma peça.

Outra alucinação do seu subconsciente, tentando amenizar a dor de tantos anos sem o amor da sua vida.

Mas por incrível que pudesse parecer, esse dejavú era bem melhor do que os pesadelos recorrentes do dia em que ele colidiu o carro.

Mesmo depois de décadas ele ainda se lembrava do cheiro metálico do sangue misturado a gasolina. Os gemidos de dor, o desespero em ver o seu amado desacordado e com sua vida se esvaindo aos poucos.

Gulf escapou de suas mãos e levou tudo de bom que restava com ele.

Cada molécula de felicidade foi enterrada junto com o corpo frio.

Gulf era sua vida, sua tábua de salvação.

Mew se lembrava de tudo, cada detalhe.

Ele se lembrava do sufocamento que sentiu se apoderando em sua garganta, quando a terra escura cobriu o caixão de Gulf, era demais pra ele.

Ele chorou e se lamentou, e agora seu corpo e seu cérebro vez e outra o pegava, brincando descaradamente com as lembraças mais felizes que ele tinha.

Mew não tinha certeza se isso era bom ou ruim, porquê quando seus olhos se abrissem não existiria Gulf.

Ele então apertou seus olhos, lutando para não acordar e continuar sonhando com aquela mão suave em sua orelha,- que eventualmente mudou para sua bochecha-, lhe fazendo uma breve carícia na sua maça do rosto.

― Abra os olhos, Mew.― Ele ouviu a voz que não ouvia a quase vinte anos. Agora Mew teve a certeza que estava sonhando, ontem ele chorou e fez méritos a Buda.

Mew pediu que ele lhe trouxesse paz, que deixasse que sua alma pudesse alcançar o nirvana, juntamente ao seu amor.

Na realidade, ele implorou.

Ele chorou aos pés do Deus no templo e prometeu que seria um homem melhor, ele nem mesmo se lembra de todas as orações que fizera.

Ele só sabia que a falta de Gulf estava piorando a cada dia, principalmente porquê era a semana do aniversário de casamento dos dois.

― Auan, não seja preguiçoso... Eu estava te esperando.― A voz soou mais uma vez, o hálito fresco se aproximando cada vez mais do seu rosto.