As Sete Cores Do Amor ( DEGUSTAÇÃO )

1 - Capítulo

John é um jovem negro e gay afeminado, que aos de 25 anos divide seu tempo entre o estágio com um famoso estilista e a produção de conteúdo para suas redes sociais. Há alguns dias, ele viu sua vida perder o rumo, quando sua mãe perdeu a luta contra um câncer com o qual ela vinha lutando há um ano. 

Dona Zulema sempre fora seu por seguro. Amiga, confidente e protetora. Agora ela se fora e sendo filho único, ele se sentia extremamente sozinho.  A vida amorosa era algo que ele havia abdicado de sua vida, o amor doía muito, e por isso quando ele sentia que seu coração começando a se apegar a alguém, decidia pôr um fim em tudo. 

– Nunca amarei alguém como amei Carlos. – Dizia a si mesmo.

“Carlos.”

A simples menção do nome dele, fazia o corpo de John estremecer e seu coração palpitar sem parar. A única pessoa que ele amou incondicionalmente, também foi a que conseguiu partir seu coração em mil pedaços. E, mesmo com muita terapia, é algo que ele não conseguiu superar.

Eles se conheceram durante o ensino médio, quando John foi estudar em uma conhecida escola da sua cidade natal, São Gonçalo. Foi ao lado de Carlos que ele aprendeu sobre si mesmo, a não reprimir o que sentia e nem se envergonhar de quem era. Afinal, ter orgulho de ser quem é nada mais é que um ato político. Mesmo com tudo que estava aprendendo, John sentia medo, ele vinha de uma escola cristã e seu pai era um religioso fanático, que criticava a todos, mas tinha amantes, batia na mulher e muitas outras coisas. 

Foi um longo processo para ele acreditar e, principalmente, sentir que não havia nada de errado em amar outro cara. Ele acreditava que tinha o seu passaporte carimbado para o inferno; afinal, isso foi ensinado para ele. Seu jeito afeminado precisava ser mudado. “Falar grosso”, “andar mais duro”, “praticar esportes”, “falar bobagens”; era uma espécie de manual para ser hétero que não lhe trazia a menor felicidade. E naquela escola, ao lado de Carlos, ele finalmente encontrou seu lugar no mundo.

Mais ou menos um ano depois ele começou a trabalhar e seu relacionamento com Carlos foi evoluindo, e devido sua cumplicidade com a mãe, ela sabia de tudo e dera sua benção, ao mesmo tempo em que temia pela vida do filho. 

A reação do pai foi a pior possível, cheio de preconceitos como era, fez de tudo, até mesmo expulsar John de casa. Na época, ele foi morar com a tia, que tinha uma filha lésbica e o acolheu muito bem. Isso deixou o coração de Dona Zulema mais leve. Enquanto o pai insistia em dizer que o filho para ele tinha morrido.

O que John nunca imaginou, era que o seu pai nutria tamanho ódio dele, uma noite, os dois tinham finalmente tido sua primeira vez na casa de Carlos e ao anoitecer, os dois voltaram juntos a da tia da John. Enquanto estavam abraçados, foram surpreendidos por seu pai, que atirou contra o próprio filho pelas costas. Antes de perder completamente consciência, ele viu o namorado avançar para cima do pai.

– Carlos, não, ele vai matar você – disse em um quase sussurro.

E tudo se tornou escuridão. 

Ele tentou reagir diversas vezes, sair do lugar estranho onde ele estava, mas era sugado outra vez para uma enorme escuridão. Foi assim por alguns dias, até que um dia ele finalmente acordou.

A claridade incomodava seus olhos, ele precisou de um tempo para se acostumar com a luz. Seus olhos vagaram pelo cômodo com poucos móveis, com tons claros e com cheiro de algo forte que ele não conseguia identificar o que era. Ao olhar para o próprio braço, viu um acesso que o ligava a um aparelho. Na sua primeira tentativa de mexer, uma dor insuportável atravessou seu corpo e ele urrou.

Sua mãe, que estava do lado de fora, entrou no quarto e chamou as enfermeiras de plantão, que lhe deram um sedativo. John permaneceu algum tempo ainda no hospital, mas Carlos não tinha aparecido nenhum dia, pelo menos não quando ele esteve acordado. O garoto não entendia o fato do seu amor não aparecer ali, porém quando tivesse alta, os dois conversariam.