Live and let die

2 - Sunset Strip Festival

          

                  Sunsent Strip, o assunto do momento, literalmente todo jovem tem um ingresso para este festival. Não  seria ele um Live aid ou Rock in Rio, mas todos naquela cidade sabem que ele é o mais porra louca de todos. É basicamente um lança talentos, toda banda iniciante quer estar lá e produtores de todos os lugares estão a procura de um novo sucesso. Frances tem total noção de que algo menos do que incrível é inaceitável para a apresentação dessa noite.

      

           Não passava das 9h e a banda já estava ensaiando, sua entrada no palco deveria acontecer as 17h se tudo corresse como esperado. Frances quase não dormiu de tanta ansiedade e Liam passou a noite ouvindo a mesma falar sobre o festival e o quão importante ele era. Estava na cara que nenhum dos quatro estava muito calmo com a ideia, o publico estimado era de 5 mil pessoas, tá não é muita coisa, mas para quem estava tocando para 50 em um bar duas noites atrás é uma grande mudança. A apresentação deles iria durar apenas 25 minutos mas Frances acredita que é o suficiente para mostrar para todos quem eles eram e que estavam chegando para ficar. Tudo isso foi tão planejado e repassado na mente de Frances tantas vezes que era impossível dar alguma coisa errado, ela tinha a banda perfeita, a roupa perfeita e um setlist capaz de impressionar aquele publico, quem sabe até alguém mais relevante.

       O setlist contava com:

        Good lips

       Heart of glass

       Diamond

       Glory nigths

      House of the rising sun

       São bem mais de 16h quando Frances finalmente fica pronta; top verde musgo, saia preta, correntes, maquiagem carregada e como sempre um par de botas, dessa vez verdes com um salto agulha. Frances sabe que pode ganhar o publico de muitas maneiras, ela se garante na musica mas a beleza é um aditivo muito util para uma garota como ela. Todos estão no mesmo camarim que Frances exatamente as 16h47, menos o brilhante baterista, Tommy. Já passa das 17h10 e eles ainda não estão no palco e Tommy está bem escondido, da para imaginar a pilha que uma pessoa como Frances está? A programação foi repassada umas dez vezes mas acredito que não foi o suficiente para Tommy entender. Frances anda de um lado para o outro com um par de botas enormes nos pés enquanto Liam tenta acalmar ela, o copo na mão dela já seria o terceiro do dia? Acho que já me perdi, um dos produtores passa mais uma vez para avisar que se eles não entrarem até 17h30 podem pegar os equipamentos e dar o fora. Frances não consegue acreditar em toda merda que está acontecendo quando Tommy simplesmente entra no camarim as 17h25 com uma loira peituda agarrada em sua cintura.

      - Eu não consigo acreditar que você conseguiu ferrar a gente no nosso primeiro show grande - Frances fala praticamente gritando enquanto pendura a guitarra no pescoço - Atrasamos o festival inteiro e vamos ter uns 15 minutos no palco, espero que a transa tenha sido incrivel

     - Vamos lá Mille, não é tanto. Eu estou aqui agora

     - Vamos lá Mille? - ela repete se dirigindo a porta e sendo seguida pelo resto da banda - Essa merda é séria Thomas, talvez o filho de papai esteja aqui por hobby mas nós precisamos que isso de certo

     Não existe tempo para respostas, Frances passa por um bando de produtores putos gritando com ela e entra no palco. Como posso descrever aquela sensação? em questão de segundos todos aqueles olhos estavam voltados para Frances, cinco mil pessoas com raiva pela demora mas simplesmente encantadas pela garota no palco, Frances tinha esse dom e sabia muito, muito bem como usá-lo. Ela não pronunciou uma palavra se quer, sabia que toda a bobagem de um pedido de desculpas não ajudaria ninguém ali, ela montou os acordes e mudando setlist ela começa com a musica mais animada que tem na manga.

       Heart of Glass soa estridente das caixas de som, parece que qualquer um em um raio de 50km consegue ouvir a voz de Frances, e tenho que confessar, aquele publico enfurecido de 5 minutos atrás não existe mais, há uma aura de invencibilidade ali, toda aquela multidão pulando e gritando o refrão da musica, aquilo causou uma coisa tão grande em Frances, algo tão mistíco que ela nunca conseguiu colocar em palavras, uma coisa tão revigorante dentro dela, aquilo nunca foi dito a ninguém mas aquele dia fez ela se tornar o que é hoje.

      Ao sair do palco a exaustão acompanha Frances, e também o prazer, aquele foi sem duvidas o melhor show deles até o momento, talvez o melhor show que vão fazer na vida, pensava Frances. A energia daquele palco, daquele publico era simplesmente revigorante. As reações das pessoas ao ouvir aquelas musicas pela primeira vez era indescritível. Foram horas adentro que eles passaram curtindo resto do festival, falaram com muita gente e receberam muitos elogios.

       Frances recebeu um cartão de um cara chamado Leroy, meia idade, inicio de calvíce e um sorriso encantador. Um empresário em potencial para quem ela talvez ligasse no dia seguinte.

      Na saída do festival, já bem alterados eles encontram um grupo de pessoas e uma delas pergunta onde seria o próximo show.

    - Nós temos um próximo show? - Pergunta paul, baixo para que só Frances conseguisse ouvir

   - Nós estamos por ai cara, cada dia num lugar diferente - Frances fala encostando a cabeça no ombro de Brian - Acho que se você seguir a gente no insta você descobre - ela completa com uma piscadela

   - E seu numero, onde eu consigo? - ele pergunta com um sorriso convencido no rosto

   - Quem sabe se você sonhar bastante ele não aparece magicamente na sua mente - ela diz sorrindo e começando a andar em direção ao carro de Liam

      Voltando para casa, juntos no carro eles cantam uma musica que toca no rádio ''Take me to the magic of the moment, On a glory night, Where the children of tomorrow dream away, In the wind of change ''. E assim, a noite se encerra como sempre, todos juntos e embreagoados ao som de uma musica de fim de filme.

      Quando Frances acorda no dia seguinte, as únicas pessoas na casa são ela, Brian e Liam que se encontra fazendo café. É um domingo bem normal na Califórnia, Frances sai para dar uma volta depois do meio-dia e resolve ligar para o tal Empresário, a conversa é rápida mas precisa, ele tem contratos em mente e uma proposta tão boa que jurou a Frances que ela não poderia recusar.

       - Isso nós vamos descobrir amanhã Leroy- ela diz antes de desligar o telefone

       No caminho de volta para casa ela abre o whatsapp e digita uma mensagem no grupo

                                                                   - roqueiros e o Liam -

         '' Reunião mega importante amanhã as 8h, quem se voluntaria para ser meu par?''

          Chegando em casa o circo já está todo armado, churrasqueira acessa na varanda, som alto e muita bebida. Esse seria só mais um domingo comum para eles, concluiu Frances.

   O que estava por vir? O que os aguardava em frente? Será que eles tinham ideia, já nessa época de tudo que seriam, do que eles representariam?. É muito complicado dizer quando tudo que se tem até o momento são jovens achando que sabem de alguma coisa tentando fazer musica.