Cloak Of Courage | Sevmione

09

Na manhã seguinte, Hermione se deitou tranquilamente na cama, sentindo-se muito bem descansada. A incômoda sensação de cansaço que a atormentava desde a morte de Ron havia desaparecido, graças a três noites seguidas de sono abençoado. Três noites de sono que, por sua vez, foram graças ao homem deitado em uma cama ao lado dela. Quem poderia imaginar que sua presença - seu toque - manteria as lembranças... os pesadelos... afastados? Levantando a mão livre, ela tirou o cabelo do rosto para poder vê-lo com mais clareza na luz fraca. Ele estava deitado de lado, de frente para ela, com um braço esticado sobre a cama e agarrado à mão dela. Era a primeira manhã em que ela acordava antes de Snape, e não queria desperdiçar a oportunidade de estudá-lo sem ser observada.

Certa vez, ela leu que o rosto de uma pessoa, enquanto ela está dormindo, é um reflexo de como ela era quando criança. Se esse for o caso, a infância de Snape deve ter sido realmente difícil. Snape dormindo parecia... bem, Snape, dormindo. As linhas do rosto dele ainda eram duras e nítidas, o nariz e as maçãs do rosto igualmente angulosos... mas, ao continuar a estudá-lo, ela notou algumas coisas pela primeira vez. Os cílios dele eram surpreendentemente longos, espalhando-se em curvas delicadas sobre a pele pálida. Ela desceu os olhos pelo rosto dele, passando pelo nariz aquilino - adunco, como Harry o chamava - e olhou para a boca. Seus lábios não eram tão finos como normalmente pareciam, agora que não estavam torcidos em uma careta ou afinados com irritação. Bem torneados... quase sensuais... Afastando o pensamento com firmeza, ela tirou os olhos dos lábios dele e continuou o estudo.

O rosto dele estava relaxado, sem a tensão habitual. Quando estava acordado, todo o comportamento de Snape denunciava o poderoso controle que ele exercia sobre si mesmo; ela já havia se perguntado, antes, por que ele tinha de exercer uma autodisciplina tão forte. Depois de muito pensar, ela atribuiu a culpa à tensão de seu papel como espião. Agora, depois de conhecer o fio da navalha em que ele andava, dia após dia, ela percebeu que havia errado o alvo.

O chamado do sangue. Ela suspirou baixinho. Pelo menos agora ela conhecia a peça do quebra-cabeça de Snape que nunca se encaixava direito... a razão pela qual, mesmo antes do retorno de Voldemort, Snape era tão rancoroso e cruel como era agora que havia retomado suas funções de espião. É claro que ela tentou explicar esse fato quando o defendeu para Ron e Harry... ela os lembrou persistentemente de que Snape e Dumbledore - talvez outros - há muito tempo suspeitavam que Voldemort não estava realmente morto... e, portanto, ele tinha que manter as aparências em antecipação ao retorno do Mago das Trevas. Ela tinha que admitir que essa era uma desculpa fraca, mesmo para seus ouvidos. Ron zombava dela sempre que ela falava no assunto.

Rony. Ao pensar nele, ela se lembrou do sonho que tivera na noite anterior. Aquele sonho... parecia tão real. Como se ele realmente estivesse lá, conversando com ela... é claro que não podia ser... Ela engoliu com força; as lágrimas lhe picaram os olhos quando uma onda de culpa a invadiu. O quanto seria diferente se eles tivessem consultado os pais de Ron antes de enviar a proposta? Como membros da Ordem, o casal Weasley mais velho teria sido capaz de avisar os dois jovens. Ela estaria em segurança em Beauxbatons e Ron... bem, Ron ainda estaria vivo. Ela nunca teria ficado do lado de fora, com os olhos baixos, ouvindo com culpa enquanto a família Weasley derramava sua dor... ela nunca teria tido que ver o corpo quebrado de seu amigo... o sangue - Deuses, havia tantas feridas, tanto sangue drenado que a pele dele brilhava branco-azulada... exceto onde o vívido carmesim, ainda úmido em alguns lugares, obscurecia a carne pálida...

Oh, meu Deus... Hermione, não olhe! Não, não olhe!

Harry tinha razão... ela não deveria ter olhado... mas foi obrigada a fazê-lo... Ron...

Ela fechou os olhos com força, sem perceber exatamente quando a dor se dissolveu e sofreu uma mutação, transformando-se em uma terrível determinação...