Eu não lembro há quanto tempo eu caminho, mas meu pé calejado e minhas inúmeras pegadas na terra são a prova das minhas viagens, e hoje eu finalmente completei a minha jornada, hoje vi o outro lado do oceano.
Bom, não seria de praxe se eu começasse minha história pelo final, afinal, foi um longo caminho até chegar ao meu destino. Então começa-lá-ei pelo princípio, contando um pouco sobre minha criação, e sobre o homem que me motivou a fazer essa viagem: meu pai.
Éramos seis: Meu pai, minha mãe e quatro crianças, e vivíamos em uma casa de um só cômodo. Não nego, minha infância não foi fácil. Com o salário de professor meu pai mal podia se sustentar. Mas o que nos faltava em bens materiais ele compensava em conhecimento, ele nos ensinava tudo que sabia, e tudo que descobria.
Tenho até hoje o livro em que eu guardava todo o conhecimento que ele me passava. Todas as informações eram importantes, cada palavra que saia de sua boca era anotada naquelas páginas brancas. Lembro-me que quando sai de casa esse livro já estava quase pela metade, e tenho certeza que não consegui nem um décimo do conhecimento do meu velho. Hoje faltam apenas algumas páginas para completa-lo, esse surrado amigo que me acompanhou durante todo meu percurso. Ele tem tudo registrado, até mesmo aquele dia, o dia em que botei uma mochila nas costas e minha vida mudou.
...
Eu estava recolhendo as roupas para minha mãe quando meu pai chegou, ele sorria e parecia ansioso. A beira do portão gritou, convocando os filhos, que rapidamente se reuniram para saber o motivo de tanto alarde. Parecia que um amigo tinha lhe emprestado um velho barco, e meu velho tivera uma ótima ideia então: Ensinar-nos a pescar.
Recordo-me – e meu surrado livro me ajuda com isso – que aquela alegre notícia tinha mudado a pacifica rotina da velha cabana. Eram mochilas pra cá, linhas para lá e até algumas minhocas espalhadas em um saco sujo; pescar era algo que nosso pai queria nos ensinar faz tempo, portanto, já tinha as varas de bambu preparadas para a ocasião.
Então lá fomos nós, a pé, em direção ao oceano. Não me lembro quanto tempo levou, mas parecia uma eternidade. Subimos e descemos morros, cortamos caminhos por trilhas estreitas e andamos por horas, mas finalmente chegamos.
O sol já batia forte quando meu pai me pediu para ir olhar uma coisa perto da saída da trilha, coberta por árvores por todos os lados. Ao seguir a luz forte que a saída da trilha irradiava me deparei com algo fantástico: grãos de areia clara e fina que se estendiam por todos os lados, e o mar, claro e cristalino que se alongava até o horizonte. A bela visão de tudo aquilo me deslumbrava, dos quatro filhos eu era o único que ainda não tinha visto o oceano. Toda a dor que sentia nos meus pés desapareceu na hora, eu só queria botar os pés naquela imensidão azul. Correndo, dirigi-me ao mar, nada mais pesava, nada mais importava; e me surpreendi quando meu pai e meus irmãos, correndo também, me ultrapassaram. Era como se tudo aquilo pudesse curar nossos corpos cansados.
Ah, a mágica da água fria cobrindo seus pés, sensação única e indescritível. Podia-se ver o nosso alívio e felicidade transbordando pelos olhos, água salgada retornando à grande mãe. Após alguns minutos de puro silêncio meu pai se manifestou, aprenderíamos a pescar.
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O Viajante
AdventureEu não lembro a quanto tempo eu caminho, mas meu pé calejado e minhas inúmeras pegadas na terra são a prova das minhas viagens, e hoje eu finalmente completei a minha jornada, hoje vi o outro lado do oceano. Bom, não seria de praxe se...