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Savage boy and the nerd

Parte 1

Makkari

O nervoso deveria passar depois que deixamos de ser novatos, mas ainda sim ao chegar na sala da turma de filosofia fico nervosa. Ainda mais quando todos encaram a porta quando eu entro apressada. O problema de uma matéria ser obrigatória para um monte de cursos é que acredito que tenha cerca de cem alunos matriculados nessa aula, ainda bem que a sala é grande pelo menos.

Sento no meio da sala, obrigada, porque gosto mesmo é de sentar nas primeiras fileiras, entretanto como cheguei perto do horário final preciso aceitar. De início achei ótimo incluírem filosofia para todos os cursos, ainda mais atualmente, com a onda de preconceitos e ideias autoritárias retornando ao mundo; mas uma sala com cem alunos me faz repensar isso, ao menos deveriam dividir a turma.

Aqui no meio da sala é complicado porque o pessoal do famoso "fundão" está com risadinhas e cochichos fazendo o professor ter que interromper diversas vezes sua apresentação. Claro que esses barulhos não me incomodam, já que sou surda não corro o risco de distrações desse tipo, até que um aluno de jaqueta de couro e calça preta entra na sala e meu coração acelera. Não pode ser ele!

O professor chama a sua atenção, leio seus lábios e sua carranca quando vê que ele tem a audácia de entrar de óculos escuro em uma sala de aula.

Eu não gosto de chamar a atenção para a minha surdez, isso geralmente faz com que me olhem com pena ou agem como se eu fosse menos capaz do que outros. Diversas vezes me trocavam de sala, ou então avisavam que os professores não tinham instrução na língua de sinais. Eu sou plenamente capaz de estudar, leio os lábios ou posso pedir anotações de outros alunos para conferir se perdi algo. Minhas notas são ótimas, desde a escola, e sempre ganhei medalhas por ser melhor aluna; algo que acho difícil que o garoto a minha frente tenha ganhado alguma vez mesmo ele sendo inteligente, o que eu sei que ele é.

Já estive em uma sala com o próprio ano passado, admito que tive uma pequena quedinha por ele e jurava que já havia passado quando entramos de férias. Meu coração acelerado diz o contrário.

Ele tira os óculos pelo menos e anda justamente pelo corredor que eu estou e se senta logo na cadeira ao meu lado. Tento ignorar totalmente sua presença prestando atenção ao professor. E ignoro também meu coração acelerado.

— Ao final do semestre teremos um seminário, então nos prepararemos para falar a respeito durante todas as aulas. Cada grupo ficará com um tema. – leio seus lábios e entro em desespero por vários motivos, e o principal, vão descobrir que eu sou surda e ainda por cima terei que trabalhar em grupo. Espero que pelo menos não me troquem de turma, agora em relação ao trabalho em grupo não tem jeito. Já me preparo mentalmente para as piadinhas e os olhares estranhos.

— Quantos alunos? Podemos escolher? – do outro lado a garota pergunta.

— Nem pensar. – olho rapidamente para o professor para saber a resposta – Não quero nenhuma panelinha. Vou sortear.

Mesmo sem escutar percebo que a turma soltou um "a" desanimado.

O professor vai chamando um por um e definindo os grupos e seus integrantes, cada vez que um nome era chamado o professor pedia para levantar a mão. Os alunos entre si decidiram também se sentarem perto de seu grupo durante as aulas para debateram o trabalho durante os intervalos e facilitar a comunicação.

Presto atenção atentamente nos lábios do professor esperando-o me chamar, e então levanto a mão quando acontece e logo quando outro nome sai de seus lábios o cara de jaqueta ao meu lado também levanta a mão e eu o olho. Seu nome é Druig, finalmente pude descobri. Ele também me olha, mas desvia o olhar conforme o professor vai chamando mais nomes. Olhamos para trás e vemos uma ruiva de cabelo curto emburrada, o cara mais famoso do campus (diziam que era porque além de ser bonito. também era um tremendo jogador de futebol americano), um moreno que parecia ter alguma ascendência asiática da Índia ou Paquistão e a linda Sersi. Sim, eu conhecia ao menos a Sersi já que ela sabia falar a língua de sinais e uma vez eu fiquei perdida nos corredores intermináveis e ela me ajudou prontamente.

Savage boy and the nerdOnde histórias criam vida. Descubra agora