O silêncio era impenetrável, não havia uma só alma viva próximo ao grande portão de cobre que lacrava a principal e também única entrada do Bosque Rosemade.
O vento soprava as árvores que emitiam leves chiados, enquanto as folhas caídas eram arrastadas pela grama seca, o final da tarde estava cada vez mais próximo e o céu pouco a pouco escurecia.
Uma sirene de uma viatura policial soava cada vez mais alto enquanto se aproximava da estreita trilha que dava acesso ao Bosque, enfim estacionando em frente ao portão.
Dois policiais devidamente uniformizados desceram do carro, fazendo uma breve avaliação do local.
"Há quanto tempo estão desaparecidos, Olivia?" perguntou o xerife Rone, um homem de estatura média, bigodes grossos e óculos escuros para a sua parceira, uma mulher esguia, de cabelos pretos e olhar astuto.
"Aproximadamente quarenta e oito horas Senhor" respondeu Olivia, andando em volta da viatura e fazendo uma rápida checagem no local.
"Esse lugar sempre me deu arrepios" colocando a mão direita na cintura próximo a sua arma, e com a esquerda retirando os óculos escuros do rosto, lentamente levantou sua cabeça absorvendo o espaço em volta e observando as árvores chacoalhando com o vento. "Está quieto demais".
"O cadeado está trancado" Olivia falou enquanto tentava abrir o imenso portão, remexendo nas correntes que prendiam o cadeado "Existe alguma outra entrada?"
O xerife negou com a cabeça, não gostava de ter que estar ali, não gostava da ideia de precisar entrar naquele lugar e principalmente não gostava de saber que mais um grupo de adolescentes estava desaparecido naquele local.
"Uma vez que você entra é preciso saber exatamente o caminho de volta, esse bosque é um grande labirinto." Rone disse já cansado, exatamente por saber o desfecho daquela história.
"Vou chamar o grupo de buscas" Olivia se adiantou, mas assim que tentou acionar seu rádio, o aparelho chiou e não conseguiu nenhum sinal.
"Vamos precisar voltar para estrada, aqui não é possível ter sinal de rádio, celular ou qualquer outro aparelho".
"Como é possível?" disse incrédula "Estamos a quinze minutos da cidade"
"Como eu disse, esse lugar sempre me deu arrepios, porque é um lugar maldito" o xerife deu alguns passos para trás "Nada de bom pode sair desse lugar"
Com uma respiração um pouco mais forte, ele colocou seus óculos novamente e se encaminhou para a viatura, não havia mais nada que os dois pudessem fazer naquele momento.
"Espere..." Olivia chamou e em seguida correu para a frente do portão "Tem uma caixa aqui."
"Uma caixa?"
Olivia se aproximou mais uma vez do portão e dessa vez ela conseguiu empurrar, o cadeado que antes trancado agora estava aberto dando a possibilidade dos policiais atravessarem o portão.
"Mas como isso é possível?" a policial disse horrorizada " Eu acabei de mexer no cadeado, posso dizer com garantia que estava trancado".
"Para algumas coisas as vezes a resposta não é a que gostaríamos de realmente saber" Rone disse nada assustado, ele sabia muito bem que aquele lugar continha seus próprios segredos "Apenas pegue a caixa, mas não atravesse o portão".
Olivia fez o que lhe foi ordenado, o portão de cobre era duro, ela o empurrou com uma mão e ainda sem atravessa-lo esticou seu corpo apenas o suficiente para puxar a caixa.
A caixa era simples e de papelão, estava suja de terra e mais algumas marcas que não eram possíveis identificar naquele momento, colocou delicadamente sobre o capô do carro.
"Devemos abrir ou levar para a delegacia?" Perguntou um pouco apreensiva.
Rone olhou novamente para o Bosque, o que quer que estivesse dentro da caixa era uma resposta para o que estavam procurando, uma resposta que Rosemade estava os presenteando, embora presente nunca seria uma palavra apropriada para qualquer coisa vindo daquele lugar.
Com um leve balançar de cabeça, ele abriu a tampa da caixa só para se afastar o mais rápido possível dela segundos depois.
"Que horror" Olivia arfou, quando o odor encobriu suas narinas, fazendo a colocar as mãos sobre sua boca e nariz "Que cheiro horrível"
Dentro da caixa continha objetos pessoais, possivelmente eram pertences de cada adolescente desaparecido: caneta, elástico de cabelo, canivete, brinco de ouro e um boné, porém com um detalhe desastroso, estavam ensopados de sangue.
"Não é sangue humano" o Xerife avaliou com nojo "Mas isso também não é nada bom"
Com cautela Olivia fechou a caixa e a guardou no banco da viatura. "O que devemos fazer agora?"
"Vamos voltar a delegacia precisamos isolar esse local o mais rápido possível" disse o Xerife para sua parceira que assentiu. "Devemos nos certificar que mais nenhum grupo idiota venha para esse lugar, pelo menos não até resolvermos esse caso primeiro"
"Vamos precisar alertar os pais desses jovens, eles estão muito preocupados" Olivia afirmou sentando no banco do passageiro enquanto o Xerife ligava o carro e olhava com reprovação para o bosque a sua frente.
"Deveriam ter se preocupado em alertar seus filhos para nunca virem para cá, isso sim!"
Ele deu uma última olhada para o grande portão de cobre pelo retrovisor, enquanto acelerava e saía a toda velocidade pela trilha estreita que dava acesso a estrada e para longe do Bosque Rosemade.
A espreita do outro lado do portão, algo observava entre as árvores e sorria com a boca encurvada.

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O Bosque de Rosemade
TerrorEm uma pacata cidade do interior, existe um segredo sombrio e assustador. A propriedade Rosemade sempre foi o mistério da cidade, a família dona dessas terras desapareceu sem deixar vestígios. E agora cinco adolescentes estão prestes a descobrir a v...