Introdução

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Mais uma noite, mais uma igual a tantas outras, nos últimos meses, em que me encontro deitada em cima da minha cama com as lágrimas a escorrerem – me pela face. Tento impedi-las, mas já não consigo, elas teimam em cair.

Sinto que, não sei no que a minha vida se tornou, eu não me conheço. Eu sei tudo sobre mim e ao mesmo tempo sei nada, é como se pura e simplesmente não me conhecesse... Ando completamente perdida. Eu digo, eu faço coisas completamente incompreendidas. E a seguir choro descontroladamente como se não as quisesse ter feito.

As vezes só quero estar sozinha, outras parece que estar sozinha é a pior coisa que alguém pode querer, desejar. Tanto estou bem como a seguir estou mal. Tanto amo como a seguir odeio. Eu não sei no que me estou a tornar.

Há alturas em que gostava de ter poderes mágicos, para poder fazer desaparecer as pessoas, ou simplesmente ser como os vampiros e poder hipnotiza-las para elas simplesmente estarem caladas.

Já não posso ouvir os mesmos assuntos, as mesmas pessoas, a mesma inutilidade que me rodeia.

Sinto-me uma rapariga fora do normal, sinto-me uma rapariga desenquadrada deste mundo, mas pior que isso, é senti-lo e achar piada, achar que é uma das melhores coisas que me poderia ter acontecido. É acima de tudo achar que quem está errado, são as outras e não eu.

As vezes dou comigo a pensar porque será que ninguém me entende, porque será que ninguém é como eu?

Porque é que ninguém gosta de futebol como eu?? Porquê?? Porque é que todas as raparigas têm que acha-lo um desporto idiota? Porquê?

Porque é que todas as raparigas gostam de moda, e eu pura e simplesmente odeio? Porquê?

Qual é o problema de ter ídolos com 17 anos?? Se são as únicas pessoas que ainda me fazem sorrir??

Nessas alturas começo a pôr em causa se serei mesmo eu que estarei certa, se tudo aquilo em que acredito não serão mais umas ideias idiotas da minha cabeça e que afinal de contas quem vive numa ilusão profunda sou eu.

Se querem que vos seja sincera, eu acho que todos os meus ideais de vida são pura ilusão da minha cabeça, aliás acho mesmo que as vezes vivo no mundo da fantasia e que tudo aquilo que vai na minha cabeça é fruto da minha imaginação e não corresponde de todo a realidade.

Porém simplesmente não me importa, prefiro viver numa ilusão de sonhos, que provavelmente nunca se vão realizar, do que na realidade, numa realidade onde não sou nem nunca serei feliz.

Quando ainda era adolescente tinha todos os sonhos na minha mão, achava que podia ser tudo o que quisesse, achava que ia encontrar o meu príncipe encantado, aliás eu sabia quem ele era só precisava de encontra-lo, achava que tudo era perfeito, tal e qual como eu sonhava.

Contudo com o tempo, os sonhos fugiram-me por entre os dedos. Escolhas mal feitas talvez, levaram a que todos esses meus sonhos se apagassem e se tornassem meras utopias, meras recordações, que em dias como o de hoje atormentam a minha cabeça e me fazem mais do que nunca querer voltar ao passado. Querer voltar aqueles tempos remotos, onde eu não tinha consciência de nada mas era feliz.

Infelizmente, e para grande mágoa minha, sei que aqueles tempos não voltarão mais, e nem eu poderei lá voltar, sei que é tarde demais. Sei que se não os realizei na altura não é agora, tantos anos depois que os vou realizar.

Perdi acima de tudo a esperança. A esperança de que mesmo aqueles que ainda têm uma probabilidade muito remota de se realizar se venham a realizar.

Acho até, que pura e simplesmente deixei de acreditar nos sonhos, penso agora que são meras ideias idiotas que pairam na minha mente.

Mas não foi só nos sonhos que eu deixei de acreditar. Deixei de acreditar no amor, nas pessoas, no mundo em praticamente tudo. Tenho a sensação que nada daquilo que eu imaginava quando era criança existia realmente. Eram simplesmente tudo idiotices da minha cabeça e provavelmente de tantas outras crianças iguais a mim.

Suspiro uma última vez e caio num sono profundo. Sono esse que nos últimos tempos até ele se tornara imperfeito. Pois já não conseguia dormir uma noite inteira sem passar a vida a acordar.

Será que algum dia irei ser feliz?Onde histórias criam vida. Descubra agora