Querido TJ.

O começo

21 de março de 2019, por volta de 7:45 da manhã. Clima fresco.

Embora eu soubesse que grande parte do motivo do meu retorno aquela escola fosse o simples fato de viver um pouco mais de tempo do lado do meu melhor amigo até que o grande dia acontecesse, eu não espera o baque que me esperava.

Do fundo da sala eu consegui enxergar com clareza o ambiente gélido pelo ar condicionado e os alunos agitados pelo começo das aulas. Observei os novos rostos lentamente, do lado sul ao centro da sala e ai eu vi. Paralisei. Ele se sentava na primeira carteira da terceira fila, quase no meio da sala, bem do lado da mesa do professor. Não olhava pra nada e ninguém além do homem em frente ao quadro explicando uma matéria de física.
Foi como se um choque tivesse passado pela minha espinha. Foi estranho, e completamente assustador. Assustadoramente bom.
- Ei, quem é o menino novo? - Virei parcialmente para o lado e perguntei ao meu parceiro de carteira
- Ana, não. Pode parar.
- Mas eu não disse nada... Só tô curiosa
- Conheço sua curiosidade, deixa o menino na dele, ele parece ser bem centrado.
- Sabe o nome dele?
- Thalles. Ele veio do CIAC. Desde quando você gosta de caras inteligentes?

E droga TJ. Eu não gostava. Eu nunca sequer pensei nisso. Você sabe, eu só tinha sorte com os babacas.

- Leo, não deixe que peguem no pé dele.
- Eu ainda não entendi sua nova obsessão.
- Avise os meninos. Deixa ele fora disso.
- Tudo bem.

Assunto encerrado e eu sabia que eles iriam cumprir com isso. Porque era assim que as coisas funcionavam TJ, o lado escuro da escola cristã brilhante. Bullying, tortura, maldade. Eu fiz parte desse mundo por muito tempo, e pulei de vítima para culpada. Mas você era bom demais pra essas merdas querido, eu sempre soube.

- 10 reais que você não fala com o nerd
- Isso é um desafio ou uma benção para um começo?
- Você vai assustar o garoto Ana.
- Talvez sim, talvez não, mas eu nunca vou saber se não falar.

Me inclino pro lado e consigo ver a lateral do seu rosto. "Ei" lembro de ter soprado alguma coisa nesse sentido e você se virar pra mim. E meu Deus, eu senti que um peso tinha acabado de ser colocado dentro do meu peito. As sobrancelhas cheias e grossas, os lábios finos e rosados, bem desenhados e franzidos em uma pequena confusão evidente no seu rosto. O nariz perfeito em contraste com o restante do rosto. Eu arfei. Os olhos mais lindos que eu já vi na minha vida. Tão escuros que brilhavam. Castanhos ou negros?
Eu lembro que eu acenei pra você, como quem não quer nada, e você completamente perdido retribuiu meu aceno receoso e envergonhado. E porra TJ, você me quebrou, você destruiu todas as barreiras que eu impus sobre meu coração, você soprou as muralhas em volta do meu peito como se fossem folhas, e eu me vi nua na sua frente. Nua da alma.

E foi naquele dia, que eu descobri que suicídio nunca me pareceu tão doloroso como antes, e eu queria desesperadamente desistir da minha decisão.