Um provável novo lar. Capítulo 01

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Parte I
Antes da tempestade

Olhei meu celular. Cinco chamadas perdidas. Resistir a ela era mais difícil do que eu pensava. Passei meses ignorando as ligações insistentes, não sei como ela descobriu meu número, mas desde esse dia que vivo um dilema. Não podia mais adiar aquele convite, afinal, era família. Já era hora de voltar para casa, ou pelo menos tentar. Resolvi ligar, mas não para minha irmã irritantemente persistente.

— Oi — disse assim que a ligação entrou no ar. — Só vou pegar um táxi e já chego em casa. Deixa as malas na porta, por favor.

Eu estava organizando meus documentos e passaporte, mais antigos do que a própria Nova York. Estando na frente de uma pracinha pequena rodeada de bancos e uma área de lazer, avistei um táxi e logo estendi o braço. Ele encostou.

— Ok, só não me atrasa. — minha companheira de quarto, disse do outro lado da ligação. — Ou eu te deixo sem nem pensar duas vezes. — eu sorri, mas levei totalmente a sério a ameaça, então resolvi me apressar.

Ela não costumava blefar com o que dizia.

Nosso apartamento era grande, mais que espaçoso para apenas duas pessoas. Certo que eu poderia chamar só de meu apartamento, porque a pessoa espaçosa, vaidosa e nada fácil de lidar que morava comigo, quase nunca estava em casa, só em alguns fins de semana. Minha velha amiga só queria um lugar fixo para ficar quando estivesse na cidade, mas era eu quem realmente morava nele. Nunca reclamei das visitas inesperadas, até porque ela pagava a maior parte da hipoteca e era bom ter companhia às vezes. Admito que na maioria das vezes a solidão é quase insuportável. Entrei, e fui direto arrumar o que faltava na minha mala, documentos e todo o resto. Com um tipo de medo contido, mergulhei nas memórias mais profundas e obscuras da minha mente.

Durante toda minha vida aprendi a me virar sozinha, junto com minha irmã mais velha. De acordo com minha primeira família adotiva, quando ainda éramos bem pequenas para lembrar, fomos mandadas para um orfanato perto de Louisiana-Nova Orleans, lugar onde nascemos. Mal me lembro dos tempos no orfanato, mas uma coisa que lembro nitidamente foi de quando fomos separadas, isso era uma coisa que eu queria esquecer. Lembro de ainda ser uma criança e ver uma família qualquer tirar a minha irmã de mim. Eles não queriam me levar junto, porque diziam que daria mais trabalho cuidar de duas crianças já crescidinhas. Para a criança que eu era na época, aquilo destroçou e me quebrou em diversos pedaços minúsculos, que temo jamais conseguir juntar de novo. Nós duas lutamos para permanecermos juntas, para de algum modo mostrarmos para eles que éramos simplesmente inseparáveis. Mas nada adiantou, nada impediu que a levassem e me deixassem naquele lugar miserável e desprezível.

Estremeci quando me dei conta de estar indo fundo demais em memórias reprimidas. Estava na cara que eu estava com medo de reencontrar minha irmã depois de tantos anos. A última vez que a vi já éramos grandes e teimosas ao ponto de termos uma briga bem feia e logo depois eu fiz o que faço de melhor. Fugi. Depois cortei qualquer tipo de comunicação, até que a raiva passou e depois de um tempo passei a pedir que minha amiga viajante desse uma olhada de vez em quando na minha irmã, seja lá onde ela estivesse. Katherine era boa em achar pessoas, principalmente as que eu me importo.

— Acho que está na hora de você ir visitar sua querida irmã, afinal. — Katherine se recostou na porta de entrada, a que ficava no corredor cheio de outros apartamentos. — O que é bem deprimentemente chato. Vai descobrir logo que família só trás dor de cabeça.

~𝘈𝘭é𝘮 𝘥𝘢 𝘓𝘶𝘢 🌙 || Klaus Mikaelson (Andamento) Onde histórias criam vida. Descubra agora