Santa Tell Me

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Zac e Emma Valdés estavam reunidos na casa da arvore. Era naquele resistente esconderijo de madeira, construído entre os galhos que eram discutidos assuntos importantes, planos e todas as punições por infrações às regras. Regras essas, que sua mãe Juliana Valdés, havia estabelecido muito bem. E apenas algumas mudanças ocorriam com o passar dos últimos oito anos. Naquela manhã, a chuva leve caía sobre o telhado de estanho e as folhas verdes escuras.

Ainda estava calor o suficiente para que os dois usassem camisetas típicas de verão. Zac de verde e Emma de azul, suas cores favoritas. Apesar da diferença entre os sexos, os dois eram gêmeos tão idênticos quanto era possível; par de olhos muito azuis, cabelos cheios de cachos e a pele bronzeada — a única coisa que efetivamente puxaram de sua mãe.

Falando na mãe, Juliana era quem estava dominando o assunto entre as duas crianças naquele momento.

— Eu acho que o Papai Noel vai ajudar a gente esse ano. — Zac disse, no alto de seus oito anos. Ainda tinha pelo menos três dentes faltando na boca — um deles uma cortesia do gancho direito de sua irmã. — Eu ouvi o Zeke falando que ele pediu uma nova mãe de Natal.

— E o pai dele casou com a senhora Hollis, né? — Emma, com alguns dentes a menos que Zac, perguntou. — Você ouviu a mamãe falando com a tia Anne que ela não queria o papai de volta por nada.

— Mas a gente não pediu o papai de volta. A gente pediu pra mamãe achar o amor, tonta. E eu não quero o papai de volta.

— Eu também não. Ele não quer saber da gente.

— Eu vi a mamãe chorando semana passada. Acho que era por causa dele. Eu espero que ele não apareça de novo.

— Ele não vai aparecer. Mas qualquer coisa a gente pega sua guitarra.

— E bate nele. — O rapazinho completou.

O pacto silencioso foi estabelecido entre eles. Apesar da pouca idade, eram crianças inteligentes o suficiente para saber que o pai deles não era a melhor das pessoas — e nada tinha a ver com o fato de ele ter simplesmente abandonado a família pouco mais de um ano antes. Eles não sabiam ao certo os motivos, mas pouco importavam.

Não era como se sentissem falta de algo.

Todo o plano girava em torno de ver sua mãe feliz.

Por isso haviam pedido ao Papai Noel. De um ano até o Natal, o bom velhinho teria tempo o suficiente para realizar o pedido deles. Na época os dois também haviam pedido bicicletas; parecia um bom acordo. Sua mãe ficaria feliz e eles também. Ao invés de bicicletas, Emma havia ganhado uma nova bateria e Zac, uma nova guitarra.



»



Valentina Carvajal parou no alpendre da casa de Juliana Valdés e hesitou antes de bater na porta, como sempre fazia. Apertando bem a alça de sua bolsa, pendurada no ombro, a loira encarou a porta a frente da telha e suspirou. Estava na cidade há quase dois meses, ou três, mas já se sentia em casa. E um dos melhores momentos de sua semana era quando ia até a casa da morena; Zac e Emma eram as crianças mais adoráveis entre todas as crianças para quem ela dava aula.

Inquietos, divertidos e cheios de vontade. Aquela deveria ser uma receita para o desastre, mas os dois eram incrivelmente focados na hora que a música começava — e ela jamais admitiria que ensinar bateria e guitarra era efetivamente mais divertido do que piano e violino. Mas os dois também sabia tocar esses instrumentos. Prodígios, ela deveria dizer.

Dois Tons de Amor  | Juliantina | SHORTFICOnde histórias criam vida. Descubra agora