No dia do enterro do meu marido, Eugênio, eu prometi que não me envolveria com mais ninguém. Nem amante, muito menos um novo marido. Bastavam quinze anos de casamento frustrado. Bastavam as inúmeras outras mulheres que meu marido teve. Bastava o cheiro de perfume barato em suas roupas, ou pior, o cheiro de bebida que ficava em mim quando eu era a escolhida. Nem mesmo a tentativa de ter um filho valia o sacrifício.
E aquela era uma decisão que eu pretendia manter. Era até mesmo uma decisão fácil de manter vivendo em um Engenho no Recôncavo, após anos na corte francesa. Mas a carta do Imperador mudou tudo. O Imperador viúvo aos vinte e oito anos, com duas filhas para criar. Duas filhas que precisavam de uma preceptora.
Era um cargo importante demais para passar. E por isso mudei para o Rio de Janeiro, para um quarto na Quinta. Um arranjo provisório até encontrar uma casa adequada para morar. Mas, ao conhecer as princesas e seu pai, era óbvio que precisavam de mais do que uma preceptora.
A morte precoce da Imperatriz havia jogado Dom Pedro na amargura. Não apenas pela perda da esposa, mas dos gêmeos que ela carregava no ventre. Nem mãe e nem filhos sobreviveram ao parto, e a tragédia fez com que o Imperador não conseguisse mais ser um pai presente. Mal era capaz de governar, se fossemos agir com sinceridade.
Mas, ao invés de pena, ele era capaz de trazer a superfície os piores sentimentos de uma pessoa. Dom Pedro não fazia questão de ser agradável ou educado. Na bem verdade parecia fazer questão de ser desagradável e mal-educado com todas as pessoas, especialmente comigo.
E por isso eu fazia o mesmo com ele. A menos que estivéssemos na presença de outras pessoas, eu agia exatamente da mesma forma que Pedro agia. O que gerava cada vez momentos mais tensos entre nós. Até o dia em que o óbvio aconteceu, e o Imperador tomou meus lábios em um beijo feroz.
Um beijo que amoleceu meu corpo e acendeu meus sentidos, mas que foi respondido com um tapa forte naquele rosto imperial. E sua indignação só não foi maior do que o desejo, porque ele me encostou contra a parede ameaçando me prender e eu o beijei pela audácia. E foi assim que nosso jogo começou.
Em poucas semanas todas as nossas discussões terminavam em beijos, e quando não foi mais suficiente, passaram a terminar com nossas roupas abertas, com Pedro no meio das minhas pernas e gemidos escondidos. E eu jurava que aquilo nunca mais aconteceria, olhava indignada para Pedro, até o motivo seguinte para nos irritarmos um com o outro.
O que era exatamente o que estava acontecendo enquanto o Imperador me dava a tarefa de organizar uma recepção para os membros da corte. Que não podia ser luxuosa demais, ostentativa demais ou cara demais. Que não podia terminar muito tarde, nem começar muito cedo. E a música não podia ser muito animada, ou mórbida.
- Por que o senhor não organiza? – eu perguntei, petulante. – Essa sequer é a minha função.
- Eu é quem determino a sua função, Condessa. – Pedro ergueu a sobrancelha. – Achei que já estávamos claros sobre esse assunto.
- Maldito controlador. – eu balbuciei, em voz baixa.
- O que disse? – ele perguntou, arrogante.
- Maldito controlar. – disse em voz alta, encarando seus olhos em desafio. – É o que você é.
- Eu sou controlador? – Pedro levantou-se. – Você é incapaz de receber uma ordem sem contestar e o controlador sou eu?
- Deve ser porque você é incapaz de pedir qualquer coisa. Só sabe bradar ordens. – eu revirei os olhos. – Majestade.
Pedro se aproximou e eu já sabia o que aconteceria. Segurou meus braços sem que eu oferecesse resistência e seus lábios buscaram os meus. Controlador. Completamente controlador. Uma das mãos segurou minha nuca, e as minhas foram para os braços de Pedro. E eu não tinha nenhuma força para resistir.