O nosso maior segredo pode ser ou com certeza é algo constrangedor. Só de pensarmos sobre alguém descobrindo, a adrenalina sobe descontroladamente, as mãos tremem e você sente um nojo muito grande de si mesmo.
"Eu não quero mais viver."
Sanji pensava tudo isso quando lembrava que era um garoto. Estava numa rodinha formada com seus amigos enquanto a próxima aula não chegasse, e falavam sobre garotas ou games. Sanji escutava todos com atenção, enquanto pensava que amava muito as mulheres e não se importava com os games.
Amava as mulheres não do jeito que eles falavam, com certeza não... O que Sanji sentia era uma grande admiração, um sentimento tão puro que o fazia pensar que somente elas prestassem no mundo. Gostava tanto de seus traçados, o jeito que andavam, a pintura no rosto e seus perfumes, que o cheiro de uma mesma marca variava de acordo com a pele. E Sanji amava todas, de todas as cores, com estrias ou sem, até mesmo cicatrizes.
Ele amava todas.
Também admirava o impacto que tinham na educação de um filho. Um dia assistiu um filme sobre um idoso. Numa das cenas em que ele entra em desespero, ele começa a chamar pela mãe. E se ele já era velho, obviamente a mãe estaria morta. Mas quando estamos desesperados chamamos por nossas mães involutariamente. Sanji se lembra que fora muito julgado por sempre recorrer a mãe em momentos como os daquele idoso. E não importavam as risadas dos irmãos ou a correia do pai, o abraço quente de sua mãe compensava tudo isso. Mulheres são perfeitas e ele queria transmitir esse calor de alguma forma.
Descobriu nas suas divas um mundo underground, mas que brilhava mesmo o sol não alcançando o que havia por baixo da terra. Sanji entendeu que havia homens jovens como ele. Cantar Vogue de Madonna o fazia pensar que não era mais um peixe fora d'água.
Sanji estava na sua penteadeira, amarrando o cabelo dourado em dois coques e observando a maquiagem que acabara de fazer. Vestia um short jeans com um meião um pouco acima do joelho, na blusa havia estampado um gato fofo. De repente ouviu alguém bater na porta de seu quarto.
— Entra.
Então, surgiu um rapaz de cabelos tingidos de verde. - Já está pronta?
— Sim.
Esse rapaz se chamava Zoro, Sanji o conheceu faz pouco tempo através de Luffy, um amigo em comum de todo mundo (o garoto era extrovertido), e dividiam o apartamento. Naquele momento estavam indo juntos à faculdade. Mas Sanji não conseguia entender como aquele marimo não sentia vergonha por andar consigo. Até mesmo pegava na sua mão para atravessar uma rua e depois a encarava com um "É perigoso, sobrancelha enrolada! Tira esses fones e preste atenção!" e Sanji respondia "É Vogue." deixando claro que nunca pausaria enquanto Vogue tocasse. Zoro revirava os olhos e pensava em procurar no google "vogue" para saber porque sua companheira de apartamento dizia tanto isso. Era um imbecil hetero por não conhecer Vogue.
Mas algo dizia a Sanji que ela podia ficar desatenta o quanto quisesse, porque Zoro estaria ali pegando na sua mão... sem nenhum nojo.
— Ei, marimo... Por que pintou os cabelos?
— Só queria afastar todos ao meu redor.
Falou na sua costumeira voz indiferente e isso preocupou Sanji, definitivamente aquele cara era estranho e devia ter depressão ou algo assim. Ficava horas preso no quarto e Sanji soube que ele dormia todas aquelas horas. Devia tomar tantos antidepressivos que mexiam no seu relógio biológico.
— E conseguiu? - Perguntou no mesmo tom indiferente.
— Não, você apareceu.
— Hein?! - Parou o passo, assustada.
Zoro parou e olhou pra trás, confuso em ver aquela louca corada. - Sobre o apartamento, você foi a única que me aceitou.
— Ah... não é nada!!! - Coçava a nuca constrangida, mas voltou a andar e assim que passou pelo Zoro, pegou na sua mão.
Sanji começava a entender que no mundo tudo há exceções. No meio de tantos homens podres, pode haver um que vale a pena.
— De mãos dadas para você não se perder. - Disse num tom divertido, enquanto levava o marimo consigo.
— O quê disse?!