CAPÍTULO I - O INICIO

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CAMINHO até meu armário em passos lentos, os corredores estão lotados, repletos de adolescentes que conversam animadamente com suas rodinhas de amigos e, encostado no armário ao lado do meu, Kieran está ajeitando seus cabelos enquanto brinca com u...

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CAMINHO até meu armário em passos lentos, os corredores estão lotados, repletos de adolescentes que conversam animadamente com suas rodinhas de amigos e, encostado no armário ao lado do meu, Kieran está ajeitando seus cabelos enquanto brinca com um cigarro entre os dedos.

Ele é o estereótipo perfeito do bad boy norte americano: alto, ligeiramente musculoso, com longos cabelos, ar debochado e está sempre trajando roupas pretas; calçando seus all Star surrados, obviamente tudo isso vem  acompanhado de sua típica jaqueta de couro desgastado; tal como se esta fosse a cereja do bolo.

Apesar de sua atitude despreocupada não permitir transparecer, o garoto é bolsista, um dos poucos que tiveram a oportunidade de atravessar os portões desse colégio; houve uma época na qual suas notas eram tão boas quanto as minhas, entristeço-me ao dizer que tal época ficou para trás. Sempre gostei de uma competição saudável.

— Quer tirar uma foto? — Sua voz soa calma, quase zombeteira e só então eu me toco de que eu o encarei por mais tempo do que deveria

— Você bem que desejaria que eu quisesse. — Respondo em tom zombeteiro e ele ri

Talvez seja por isso que quase todas as meninas caem aos seus pés: seu riso é extremamente encantador e melódico, diria, até mesmo, que soa inocente; contrariando todo o estereótipo no qual está envolto.

— Você é engraçada, Lennox. — Um sorriso ladino passa a adornar seu rosto — Deveria mostrar esse seu lado mais vezes. — O cigarro, que nem mesmo havia sido aceso, é atirado na lixeira

Sou incapaz de prender o sorriso, que logo se instala em meu rosto. Meneio a cabeça em negação e abro meu armário, escondendo meu rosto dentro dele enquanto finjo procurar um caderno qualquer que, não me orgulho em dizer, tenho plena ciência de estar em minha mochila.

Houve uma época na qual, tal como a maioria das garotas nesse colégio, eu almejei me aproximar dele, sempre quis saber o que ele tanto rabisca em seu caderno velho; contudo, papai; mais conhecido como o reitor, proibiu que eu me aproximasse mais do que o necessário.

Você jamais será feliz com alguém como ele. Esse garoto jamais poderá lhe proporcionar a vida que você merece ter. — Foi tudo o que papai me disse

Lembro-me de tentar argumentar que eu apenas queria sua amizade e nada além disso, contudo, papai foi irredutível ao alegar que não é possível existir amizade entre homens e mulheres, que sempre haverá segundas intenções de — ao menos — uma das partes.

E foi então que eu desisti; optando por ser apenas mais uma de suas colegas de classe que não se importam tanto com sua existência. Mas a verdade irrefutável é que eu daria tudo para descobrir o que fez com que suas notas despencassem da forma com a qual fizeram; algo muito sério deve ter ocorrido ou, no mínimo, ele deve estar passando por um momento difícil.

Inspiro profundamente, deixando os pensamentos sobre sua vida de lado; talvez nada disso seja da minha conta, talvez não haja uma força maior e ele apenas tenha desistido de estudar... e talvez eu deva cuidar mais da minha vida ao invés de querer consertar a vida alheia.

Desisto de minha busca pelo caderno imaginário e fecho o armário, rumando em direção à sala de aula. Tudo seria mais simples se as pessoas enxergassem umas as outras pelo o que são e não pelo o que possuem, porém, creio eu, tal coisa jamais ocorrerá. Infelizmente prática se difere, e muito, da teoria, historicamente os seres humanos apenas tendem a se importar com aqueles que estão na mesma classe social que a sua.

Kieran se senta na carteira ao lado esquerdo da minha, esses são nossos lugares desde o início do ano letivo, o que não torna mais fácil minha missão de simplesmente ignorar a sua existência.

— Se eu não te conhecesse, diria que está fugindo de mim, Lennox. — O garoto diz com suavidade, o que faz com que eu me vire bruscamente em sua direção, o olhando com uma expressão assustada

Eu realmente estou fugindo dele, para ser sincera. Montgomery é uma incógnita e as incógnitas tendem a ter um poder de atração muito grande sobre mim, tal como um imã tem sobre um pedaço de metal.

— Eu estou brincando... — É ele quem quebra o silêncio incômodo que se instaurou entre nós — Precisa relaxar um pouco; ficar na defensiva não faz bem para a saúde. — Sua linha de pensamento é concluída no exato instante em que o professor de filosofia adentra a sala

Salva pelo gongo, literalmente. — Meu subconsciente comemora

Torno a virar-me para a frente, no intuito de prestar a devida atenção no professor, que também é responsável pelo o clube de debate do colégio.

— Como todos sabem, nosso debate da semana passada rendeu grandes inconvenientes... — Senhor Hanson começa — Debates devem ser amigáveis e não tão intensos a ponto de atirarmos objetos uns nos outros. — Acusa, olhando diretamente para Anastacia, que balbucia um pedido de desculpas — Mas vamos ao que interessa, de fato. A nota mais alta, como o esperado, foi da senhorita Lennox, com 9,3; seus argumentos poderiam ter sido um pouco mais fortes... — uma pausa é feita e um longo suspiro é solto — e a nota mais baixa, também como o esperado, foi a do senhor Montgomery, que tirou zero. O senhor nem ao menos se esforçou, não abriu a boca uma vez sequer... debates são feitos para expressarmos nossas opiniões.

Olho para o lado uma vez mais, Kieran parece estar absorto em algo que está rabiscando em seu caderno, aparentemente não está prestando atenção alguma no que nosso professor diz. Ou está e simplesmente não se importa, é muito difícil lê-lo.

— O senhor entendeu a gravidade do que eu disse? — Nosso professor insiste e o garoto limita-se a assentir — Não creio que tenha compreendido, peço que fique alguns minutos comigo após a aula, precisaremos conversar seriamente.

— Tudo bem. — A voz de Kieran soa calma e distante, tal como se não quisesse fazer o que lhe foi pedido mas estivesse sem forças para discutir e encontrar uma saída plausível para o seu atual problema

— Precisarei da senhorita também, senhorita Lennox. — Eu o olho espantada

Mas o que eu fiz? — Meu subconsciente grita a plenos pulmões

— Tudo bem. — Respondo exatamente o mesmo que o meu colega de classe e o professor volta a ministrar sua aula

Procura-se um badboy para o natal Onde histórias criam vida. Descubra agora