Capítulo 27 - Gelo.

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Hinata não comeu por três dias, mas não era porque não queria, entretanto, todas às vezes em que pensava naquilo que crescia na barriga dela, ganhando forma e vida, ela perdia qualquer vontade.

E Naruto não a tocava, nem chegava perto, entretanto, sempre se encontrava ao canto do seu quarto, olhando-a de longe, quieto e calado de uma forma que ele nunca havia sido antes. E não se pronunciava quando ela negava a comida que Miwa fazia, apenas... Assistia.

Ele era como uma sombra.

Naquele momento, Hinata se perguntava por que o destino era tão ruim com ela.

Afinal de contas, o que ela havia feito para ele? Por que uma vida de merda como a dela?

Os seus olhos olharam para as estrelas enquanto sentia o vento mexer os seus cabelos, agora curtos. Encontrava-se sentada na grande cadeira da varanda do seu quarto, olhando as árvores se moverem sob a brisa da madrugada. Estava enrolada em um roupão fofo e que escondia o seu short e a enorme blusa branca de Naruto que vestia — ela andava usando as roupas dele por serem mais largas.

Por que tudo aquilo, naquele momento? Por que aquela criança?

Estava a pensar exatamente na criança, no momento em que ouviu um arfar de surpresa às suas costas.

Sua cabeça se virou para encontrar Naruto segurando um suco em caixinha e um saco de biscoitos. Os olhos azuis dele se conectaram aos seus e pôde ver o choque neles. Ele parecia tão cansado.

— Ah... Eu não tinha visto que você estava acordada... Eu... — ele tossiu, ganhando um tom imparcial na voz. — ... Eu vou deixar você quieta, desculpe...

E ele deu-lhe as costas, claramente indo embora, no momento em que não pôde se segurar e se levantou, chamando-o.

— Naruto.

Ele parou exatamente onde estava, sem se virar para fitá-la.

— Sim, Hina?

O que ela poderia dizer? Que ela não era boa o suficiente para ele? Que ele devia encontrar alguma mulher, uma mulher de verdade?

— Eu...

— Precisa de algo?

Os seus olhos começaram a se encher de lágrimas com a frieza dele.

— Você pode... Ficar?

Não chegou a ver se ele a tinha olhado, pois encarava as suas mãos, mas sem dúvidas ele a ouviu.

Silêncio.

Silêncio profundo quebrado pelo vento.

E Hinata se perguntou o quanto daquilo que o machucou era irreversível.

— E pra que, Hina? — a sua voz era um sussurro cheio de dor. — Para você ficar com medo de mim? Não, obrigado. Agora, se me der licença.

— Por favor... Não me deixa sozinha.

Houve um suspiro. Então, ele se aproximou e Hinata viu no exato instante em que ele parou bem a sua frente, forçando-a a não se encolher, mas ele nada fez além de estender a comida que tinha em mãos.

— Coma.

— Mas... É a sua comida.

— Coma, por favor, eu não aguento te ver tão magra, Hina. — e os olhos dele eram suplicantes quando ergueu para os dele. — Coma.

Os seus dedos tremiam ao aceitar o que lhe era oferecido. O peso de imaginar o quanto ele havia sofrido vendo-a se matar por inanição bateu em seu estomago. Hinata não pôde deixar de notar o modo como ele não deixou que os seus dedos se tocassem assim que puxou a comida. Então era daquele modo que ele se sentia quando ela não permitia que ele a tocasse? Era isso? Aquela dor em seu peito?

Arienai. (NaruHina)Onde histórias criam vida. Descubra agora