Rotineira e imersa

13 2 0
                                    

À passos lentos, caminhava em direção ao metrô. O ar gélido atingia seu rosto, causando um leve ardor.

Quem diria que hoje estaria ali?

Sozinha em uma hora tão melancólica como aquela; sua família estando em outra cidade, não tinham tanto acesso ou contato como ela queria. Seus pais ligavam aos domingos e a visitavam nas férias, esses sim, eram os melhores momentos da vida dela, mas logo iam que embora ou desligavam o telefone, a sua vida voltava a ser cinza e sem graça, voltava a não ter motivo para sorrir.

Saiu do transe quando quase escorregava estacada abaixo. Vinha andado distraída até a beira da escadaria, o coração batia acelerado por conta da adrenalina. Se levanta com cautela e desce devagar as escadas, como se estivesse pisando em ovos. Os degraus estavam molhados graças à "chuva branca" de algumas horas atrás.

Quando finalmente chega na estação, o trem que esperava já estava embarcando, dessa vez, ela corre para conseguir entrar no vagão. Coloca os pés no compartimento quase ao mesmo tempo que as portas atrás de si se fechavam, causando um pequeno desequilíbrio.

Lúcia se sentou em um assento qualquer e se pôs a pensar novamente.

Dois anos antes, ela estava na casa de seus país, não passando as férias ou algo do tipo, ela ainda morava com eles, mesmo parecendo um pouco estranho uma mulher feita ainda morar com os pais, Lúcia não se importava, era feliz, nada lhe faltava ali.

Mas ela não era um "peso morto" na família, não, não. Ela trabalhava, os pais apenas lhe davam um quarto e a comida. Aqueles foram com toda certeza os melhores anos de sua vida, pena que só foi perceber isso muito tarde.

É uma pena que ela seja tão influenciável, principalmente no que diz respeito as opiniões das outras pessoas sobre a sua vida, foi isso que causou a mudança de casa e de vida: opiniões de terceiros que não estavam nem aí para seu bem-estar, muito pelo contrário.

Novamente foi acordada de seu transe quando o trem parou, estava com os olhos marejados e por pico lágrimas teimosas não caiam. Enxugou os olhos e se levantou, saiu do vagão e novamente subiu as escadas com cautela. Caminhou em silêncio até sua casa, não era muito longe dali.

Chegando na mesma, jogou o casaco no evento da poltrona e se sentou pensativa, nem se deu o trabalho de ligar as luzes, afinal, morava sozinha. Após alguns minutos ouviu o telefone tocar, se levantou hesitante, mas logo o pegou. Do outro lado da linha podia ouvir, a felicidade havia ligado para ela.

Me Mudei e Não me Lembro -Capítulo únicoOnde histórias criam vida. Descubra agora